Em meio a manifestações de dor e revolta, familiares e amigos acompanharam na manhã deste domingo (21) o sepultamento de Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, no Cemitério Municipal de São Gabriel (Fronteira-Oeste). Ele foi encontrado morto em um açude, na sexta-feira (19), quase uma semana após ser abordado por policiais da Brigada Militar (BM) e desaparecer.
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A cerimônia foi marcada pela presença, à frente do cortejo fúnebre, de um grupo de tradicionalistas a cavalo – o jovem, que adorava equinos, também foi homenageado com um chapéu de cavalaria sobre o caixão. Já nos momentos finais da despedida, por volta das 9h30min, várias pessoas gritavam a mesma palavra: “Justiça!”
“Não podemos nos calar. Vamos lutar até o fim”, disseram os pais de rapaz, filho único e que no começo do mês havia trocado Guaíba (Região Carbonífera) por São Gabriel para cumprir do serviço militar em uma cidade com forte cultura campeira (outra de suas paixões) e onde tinha parentes. Ele não chegou a se apresentar ao Exército.
Incidente sob investigação
Na madrugada do dia 13 de agosto, sábado, a dona de uma casa na cidade teve a atenção despertada pelo latido dos cães. Ela então percebeu no portão um desconhecido – Gabriel – afirmando estar perdido. Assustada, chamou a Brigada Militar.
Uma viatura chegou ao local minutos depois e interpelou o recruta, que teria resistido à abordagem. Conforme a responsável pelo chamado, o jovem foi então agredido, algemado e colocado no banco de trás do carro policial, que deixou o local – o incidente também foi gravado com celular por uma testemunha. Gabriel nunca mais seria visto com vida.
Em depoimento, o sargento e os dois soldados envolvidos no episódio relataram ter levado Gabriel até a localidade de Lava Pé (situada a 2 quilômetros dali). Eles disseram que a “carona” foi solicitada pelo próprio suspeito com a explicação de que tinha familiares por ali.
Verdadeira ou não, a versão aponta por si só para uma irregularidade policial, já que o protocolo para esses casos é conduzir o suspeito até serviço médico ou Delegacia. Familiares do recruta também questionaram a alegação dos policiais, já que Gabriel estava na cidade há menos de 15 dias e não teria como saber onde fica Lava Pé.
O rastreamento por sistema GPS mostrou que a viatura permaneceu quase 2 minutos em área próxima ao açude. Buscas foram realizadas ao longo da semana passada, até que na tarde de sexta-feira bombeiros encontraram o corpo no fundo do açude. A causa da morte deve ser divulgada nas próximas semanas, após conclusão de laudo necropsial pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Em seguida à localização do cadáver, os três brigadianos – que já estavam afastados de suas funções desde segunda-feira (15) – foram presos preventivamente, a pedido da Corregedoria-Geral da corporação. Eles acabaram transferidos para uma unidade de detenção militar em Porto Alegre no dia seguinte. Suas armas e celulares também foram apreendidos para periciamento, assim como a viatura utilizada na abordagem.
Mães realizam protesto
Na tarde de sábado (20), enquanto começava o velório do recruta, um grupo de aproximadamente 200 mães realizou passeata na área central de São Gabriel. A manifestação foi pacífica e percorreu diversas ruas, até se posicionar em frente de uma Delegacia de Polícia, cobrando providências das autoridades e justiça para o caso.
“Temos filhos em casa e não queremos que aconteça o mesmo com eles!”, dizia uma das mulheres. “Isso não pode se repetir jamais!”, bradou outra, segurando um cartaz com palavras-de-ordem.
(Marcello Campos | O Sul)
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