O Brazil-Florida Business Council (BFBC) – grupo empresarial independente, sediado em Tampa (Flórida) - promoveu ontem (07/12) o webinar ‘Fórum de Inovação Brasil-Flórida Painel 2: O Investimento do Brasil em Inovação Agrícola – Agricultura na Era Digital’, em parceria com a PwC e AgTech Garage, e com patrocínio da Mosaic.
Ligados a importantes empresas do setor de agronegócios, os painelistas apresentaram as tendências, alternativas de investimento e os pontos de vista desses negócios inovadores, com apresentação de novos produtos e soluções para a agricultura brasileira.
A moderação do evento foi de Mauricio Moraes, parceiro e líder de Agribusiness na PwC. No grupo de palestrantes convidados estavam presentes José Tomé, CEO e Cofundador da AgTech Garage; Leonardo Gomes, CEO e cofundador da Biome4All Agriculture; Pilar Varela, diretora de Digital da AgroGalaxy; e Marcell Salgado, CEO e sócio fundador da E-ctare.
A presidente e fundadora do Brazil-Florida Business Council, Sueli Bonaparte, abriu o evento destacando que o agronegócio é carro chefe da economia brasileira e chama a atenção dos investidores pelo seu processo de desenvolvimento, que envolve aprimoramentos técnicos avançados, tecnológicos baseados em constantes inovações.
“Partindo dessa premissa o Brazil-Florida Business Council desenvolveu um webinar que focaliza a agricultura brasileira na era digital. Este segundo painel Fórum de Inovação Brasil-Flórida é uma iniciativa da entidade que pretende focalizar os segmentos mais promissores do ecossistema de inovação que estão transformando o mercado brasileiro, além de apresentar os investimentos neste setor”, resumiu ela.
Marcell Salgado, CEO e sócio fundador da E-ctare, em seu painel ressaltou que o crédito é o principal insumo do agronegócio, porque sem ele não se consegue conectar o produtor com nenhuma das tecnologias que estão se multiplicando a sua frente. Segundo Salgado, as agfintechs têm essa função de conectar o produtor com o investidor principalmente ao crédito privado no Brasil.
Ocupação
“Hoje a área cultivada no Brasil corresponde a 7,6% da área total agricultável. O país é um dos produtores com menor ocupação de terra em áreas de cultivo. Há muito a ser explorado e é natural que o mundo enxergue o Brasil como celeiro e maior produtor de alimentos no futuro”, disse ele. “No entanto, há contradições também. Existem 5 milhões de estabelecimentos agropecuários no País e desse total cerca de 3,9 milhões são de agricultura familiar e que não acessa crédito. Por outro lado, o segmento detém 23% da área cultivada. A parte mais consolidada dos grandes produtores têm acesso a crédito de várias maneiras, mas esse grupo desassistido que não é pequeno está esquecido no mercado de crédito e tem sido necessário encontrar uma forma de pulverizar esse recurso”, defendeu ele.
O crédito no Brasil ficou restrito nos últimos cem anos ao governo. Com a queda da taxa Selic e melhoria nos últimos 15 anos, com a redução dos juros e novas oportunidades de aplicação de recursos, o crédito privado se direcionou nos últimos cinco anos. Até então, ele não olhava o agronegócio como oportunidade.
Hoje, o investidor observa o mercado para os bons projetos, mas o crédito público atende apenas 25% da necessidade financeira. Ou seja, a demanda de crédito é de R$ 1 trilhão, porém o plano de financiamento é de apenas R$ 250 bilhões. O foco no crédito público para o agronegócio deixou mercado de crédito privado sem informação e referência e ele não consegue chegar a bons projetos. E crédito privado também não consegue pulverizar o dinheiro para a base, que é a maioria, e não dá acesso a todos por falta de informação e velocidade no processo.
As agfintechs, no entanto, poderão suprir deficiências exatamente neste espaço, com mais informações, construção de banco de dados, e análises com muito mais velocidade, criando novos processos de crédito que atendam o produtor no tempo certo. A ideia é aliar o calendário agrícola com as modalidades de crédito, entendo as necessidades de dinheiro pelo lado do produtor, e não apenas pelo lado das instituições credoras.
Transformação digital
Sobre as implementações na área digital e como isso tem agregado valor na prática, Pilar Varela, diretora de Digital da AgroGalaxy, afirmou que desde o final do ano passado ao pensar na transformação digital sua empresa tem trabalhado em alguns pilares. O primeiro foi a análise de processos de diferentes empresas a serem integradas, fazendo toda integração e digitalização de processos, e principalmente observado o que poderia ser feito pós-pandemia para gerar benefícios na jornada do produtor. “Precisávamos pensar muito na relação entre produtor e vendedor, que ficou distante", expôs ela.
A primeira ação fácil, rápida e efetiva, de acordo com a executiva, foi a criação de um bot (robô digital), que integrou não só a base de dados, mas criou uma jornada de faturamento, que integrou o processo via whatsapp. “No ano passado no Brasil, 85% dessa base já se comunicava dentro do agronegócio por meio desse aplicativo, mas era algo informal entre o produtor e o representante. Assim, criamos uma linguagem própria, respeitando a jornada, que fosse automatizada”, descreveu.
“Houve uma aproximação do produtor pela conversa ou escrita com o bot, como solicitação de visita e comunicação com a central. Teve início também os processos de solicitação de faturamento e de calendarização dos pedidos dentro da revenda, que foram previamente planejados para a safra e safrinha. A jornada que era manual ficou extremamente digitalizada”, acrescentou Pilar.
Segundo a executiva, de outubro a dezembro de 2020, por meio do bot, houve R$ 535 milhões de faturamento em insumos somente com essa jornada digitalizada. E todo o processo de logística pela calendarização foi regularizado também, o que é extremamente importante dentro da logística do agronegócio.
No começo deste ano foi lançado um app para relacionamento bancário e agricultura de precisão. O recurso foi implementado a partir da criação da agrocare, uma vertical dentro do digital, que une todo o setor de algoritmos, inteligência de dados e agricultura de precisão, que abrange aspectos como fertilidade de solo, sensoriamento remoto, e o processo de barter, aquela negociação que acontece entre o produtor rural, a distribuidora de insumos agrícolas e a trading. Outra alternativa como o seguro também irá entrar em breve nesse universo.
Apps e bots
“Nossa proposta é sermos uma stopshop. Hoje 78% da calendarização dos faturamentos é feita dentro da própria empresa pelo app, abrangendo produtor e representante. O aplicativo é muito fácil e proporciona alertas de campanha, pedidos em carteira, faturamentos, alertas de commodities regionalizadas, análises de imagens por satélite, entre outras possibilidades”, disse. “Atualmente, 50% do faturamento da empresa é feita pelos meios digitais e no próximo ano haverá uma loja online na palma da mão”.
O moderador do painel Mauricio Moraes, parceiro e líder de Agribusiness na PwC, sublinhou que quando escuta pessoas falarem que está havendo uma revolução no campo, muita gente não tem dimensão de que há muitas ferramentas novas aparecendo. “Em um ano quanto coisa pode mudar. Imaginar que esse volume enorme de vendas pelo app é algo que talvez dois anos atrás alguns não acreditassem que pudesse acontecer. A inovação está aí e as pessoas estão propícias a ela”, declarou.
De acordo com José Tomé, CEO e Cofundador da AgTech Garage, hoje já há mais de 900 startups conectadas a sua empresa. Para ele esses negócios estão entendendo que não é um grande recurso estar apenas monetizado. “Posso ter dinheiro, mas não ter velocidade. Essa prática de ir para fora, conectar com atores e conseguir trazer para dentro parcerias e modelos de negócios, além de dar escala está se tornando cada vez mais comum”, observou.
Tomé ressaltou que organizações como a sua não existiam cinco anos atrás. No último ano seu negócio de inovação aberta (uso de fluxos de entrada e saída de conhecimento para acelerar a inovação interna e expandir os mercados) praticamente dobrou em parceiros e no número de startups. As empresas estão vindo para os hubs (pontos centrais de convergência) com entendimento melhor do que fazer e por que fazer. No nível estratégico e corporativo essas inovações estão sendo mais assimiladas não ficando restritas apenas com um entusiasta de uma área específica. Cada vez mais estão sendo estruturadas e se nota de forma crescente o conceito de gestão da inovação.
Gestão da inovação
“Para alcançar as oportunidades e acelerar a transformação digital e fazer ela acontecer será necessária a gestão da inovação. Não é possível apenas com um ou dois projetos por ano com tanta coisa que há para ser feita para ser competitivo. Quem fizer apenas poucas coisas por ano vai perder competividade”, analisou.
Na sua visão, há uma exigência de práticas de gestão da inovação e o Brasil está liderando esse movimento de colaboração com esse ecossistema. O empresário observou multinacionais no Brasil que revelaram a situação na qual suas respectivas matrizes nos países de origem não estão implementando ainda essa prática. “Há interesse do comando das companhias internacionais, mas elas próprias ainda não desenvolvem o que suas filiais fazem no Brasil. Por isso, nas negociações das novas operações haverá ainda uma etapa de convencimento e entendimento”, expôs o executivo.
O projeto Agrobioma Brasil é um exemplo de uma das grandes inovações do agronegócio no País. Ele tem como propósito trazer evidências práticas sobre ganho de eficiência, produtividade e biodiversidade por intermédio da compreensão das estratégias de administração do solo baseadas na compreensão de sua microbiota (população de micro-organismos) em diferentes biomas. “Nada melhor do que trazer evidências econômicas que melhorem a produtividade para o produtor, que proporciona sustentabilidade e que vai trazer ganhos ao longo das próximas safras”, explicou Leonardo Gomes, CEO e cofundador da Biome4All Agriculture.
O projeto que começou em setembro deste ano avaliará mais de 50 culturas em nove mercados em sua maior parte na América Latina em uma área de avaliação de aproximadamente de 10 milhões de hectares. Para isso foram firmados acordos com 110 parceiros como cooperativas, consultorias agronômicas e institutos de pesquisa, porque eles têm a interface com os produtores rurais. Serão eles que vão identificar áreas, culturas e os chamados contrastes, aquelas respostas que nunca foram dadas com base em outras estratégias de análise.
Difusão da tecnologia
Muitas informações e dados tabulados trarão respostas com comprovações científicas sobre ganhos de produtividade e efetividade da estratégia de manejo em três ciclos anuais de cultura. A adesão do produtor rural será com base estatística e científica. Já há dois parceiros na Argentina e negociações com muitos outros potenciais parceiros. O objetivo é acelerar a difusão da tecnologia, trazer indicadores concretos sobre benefícios, sabendo que é possível aliar produtividade, eficiência com sustentabilidade, especialmente neste momento em que o planeta passa por uma crise de insumos, com base química, que estão em falta ou encarecendo.