13/12/2021 às 16h23min - Atualizada em 14/12/2021 às 00h00min

Brasil, o maior mercado mundial da Shopee?

SALA DA NOTÍCIA Vinicius Ribeiro
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Vinicius Ribeiro é Head de Marketing do Magis5 (divulgação)
Em meio à ascensão do comércio eletrônico em 2020, o Brasil ganhou uma das maiores potências do e-commerce: a Shopee. A empresa também lançou um aplicativo para o México, em fevereiro deste ano, e em junho, no Chile e na Colômbia. No entanto, enquanto os números nesses países ainda são muito pequenos para terem uma atenção maior, o Brasil está se preparando para ser um dos mercados mais importantes para o gigante asiático do comércio eletrônico.

A Shopee já realizou muitos feitos incríveis: em seu país natal, Singapura, precisou de somente cinco anos para se tornar o site de compras mais visitado de todo o Sudeste Asiático. Em meio à pandemia, aterrissou no Brasil, fazendo bastante barulho, com frete grátis e 0% de taxa de comissão para o seller como estratégia de penetração de mercado. De acordo com a empresa de investimento Bernstein, o Brasil poderá ser o maior mercado da Shopee em usuários ativos mensais, ultrapassando até a Indonésia.

Escalar as vendas para o Brasil se deu com o principal objetivo de oferecer mais mercados aos vendedores estrangeiros. Apesar disso, de acordo com o grupo Sea, o mercado sul-americano ainda engatinha. Ainda assim, segundo a pesquisa da Visual Capitalist, em 2020, o continente foi o que teve um crescimento em vendas de e-commerce mais acelerado, com destaque para o Brasil e a Argentina.

A América Latina é dominada por suas duas maiores economias - Brasil e México -, em uma extensão ainda maior do que o Sudeste Asiático, que é liderado pela Indonésia e Tailândia. O Produto Interno Bruto (PIB) combinado do Brasil e do México representa quase 70% do valor total entre os seis maiores países da região. Em contrapartida, a Indonésia e a Tailândia representam apenas 54% do PIB total de suas seis maiores economias. Se compararmos o Sudeste Asiático com a América Latina, percebemos que o cidadão latino-americano médio possui um maior poder de compra: o primeiro tem um PIB per capita ponderado de US $ 7.400, em comparação com o último de US $ 4.900. Enquanto isso, a penetração média do e-commerce na América Latina é de 6%, semelhante à do Sudeste Asiático. Isso contrasta com os EUA, que têm uma taxa de penetração de 20%, e a China, com 25%. Analisando esses últimos dois pontos, a combinação de rendas mais altas e níveis relativamente baixos de penetração do e-commerce no continente sul americano, nos revela uma grande oportunidade de mercado.

Além disso, com o sucesso do jogo mobile Free Fire no Brasil, a Sea enxergou uma oportunidade única no país com a entrada da Shopee, apostando em campanhas para aumentar o reconhecimento de sua marca e atrair mais usuários na América Latina, por meio de esforços promocionais e de marketing, como jingles cativantes e colaborações com influenciadores locais, taxas agressivas para os sellers e cupons de descontos para os compradores. Tenho certeza que você já foi impactado pelas campanhas do Jackie Chan e de frete grátis, não é mesmo?

A empresa também aproveitou a popularidade do Free Fire para promover a sua plataforma de comércio eletrônico, oferecendo aos jogadores recompensas em troca de usar a Shopee. O marketplace utiliza uma abordagem para divulgar produtos de baixo custo: um aplicativo que oferece jogos e cupons para usuários, com um sistema próprio de gamificação.

Todos esses esforços renderam frutos: a Shopee e Free Fire estão posicionados entres os apps mais baixados do Brasil, na categoria de compras e jogos; e o aplicativo da Shopee agora tem o segundo maior número de usuários ativos no Brasil, atrás apenas do Mercado Livre, que hoje é a empresa mais valiosa da América Latina. É inegável a potência da Sea, que é uma das maiores pedras no sapato dos gigantes do comércio eletrônico brasileiro, porém, a empresa ainda possui alguns obstáculos, principalmente na parte logística do negócio.

O e-commerce no Brasil ainda é prejudicado por uma infraestrutura de logística nada favorável, com estradas ruins e engarrafamentos épicos, muitas vezes resultando em atrasos nas entregas, já que o território brasileiro possui dimensões continentais e uma grande dependência do sistema logístico rodoviário. Dados da Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF), de 2018, mostram que o País possui cerca de 65% de toda sua malha de transportes de carga composta pela matriz rodoviária. Já se analisarmos o Índice de Performance Logístico, uma ferramenta de benchmarking feito pelo Banco Mundial, vemos que o Sudeste Asiático está bem à frente do Brasil.

Para driblar esses entraves logísticos, empresas como Magalu, B2W, Amazon e Mercado Livre vêm investindo fortemente em grandes centros de distribuição, em regiões estratégicas, e adotando uma logística de distribuição omnichannel, com vários parceiros para efetuar as entregas. Já a Shopee, que até então estava 100% dependente da logística dos Correios, já iniciou sua integração com transportadoras, como Sequoia e Total Express.

Outros players, como Alibaba, Wish e Shein, também estão entrando no mercado brasileiro. Neste momento, essas empresas não parecem ser uma ameaça para as operações da Shopee, mas, certamente, poderão ser fortes concorrentes no futuro. O Alibaba está fretando três voos semanais entre China, Brasil e Chile, reduzindo o tempo de entrega entre esses mercados para uma média de três dias - dessa forma, o prazo de entrega, que representa uma das maiores objeções de compra entre os consumidores, é quebrado. Os usuários ativos do AliExpress aumentaram em relação ao início de 2021, após uma estagnação por um período, enquanto o número de usuários da Shein tem crescido de maneira constante.

Embora a chegada ao Brasil tenha sido tardia em relação aos outros players do mercado de comércio eletrônico, a Shopee não iniciou nesse momento por acaso: a estratégia de observar os primeiros entrantes em um mercado, estudá-lo e depois atacá-lo já é bem conhecida. Para aproveitar ao máximo a oportunidade da explosão de fintechs e manter comerciantes e usuários em sua plataforma de comércio eletrônico, a Shopee deve aprimorar suas ofertas de serviços financeiros na América Latina. Um dos próximos passos deve ser no mercado financeiro, fornecendo linhas de crédito para pagamentos, seguindo a linha do Mercado Livre, com o Mercado Pago, e do Magalu, com o Magalu Pay. Além disso, a empresa deve focar seus investimentos em projetos de logística para gerar uma menor dependência de parceiros, assim como foi feito pelos seus principais concorrentes.

Por fim, tenho certeza que se a Shopee jogar suas cartas corretamente na América Latina, poderá se beneficiar desses ventos favoráveis em um grande mercado.
 

Vinicius Ribeiro é Head de Marketing do Magis5 , Hub de Integração e Automação para vender em Marketplaces
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