Após o primeiro turno das eleições, o dólar registrou a maior queda em quatro anos. A diminuição de 4,07% fez com que a moeda atingisse a cotação de R$ 5,1746. Nos dias seguintes, o valor voltou a subir ーo que representa uma das maiores preocupações dos produtores de soja.
Segundo a Pesquisa Sobre Cultura da Soja, realizada pela Climate Fieldview, a oscilação do câmbio é a principal preocupação de 43% dos produtores da commodity na hora de vendê-lo. Outras preocupações apontadas pelo estudo são o estoque mundial do grão e a restrição de compradores, apontadas como desafios por 27% e 18% dos respondentes.
Apesar de serem produzidas no Brasil, commodities como a soja são negociadas em dólar. E não é só isso: os custos para a produção do grão estão atrelados à moeda estadunidense devido ao preço dos insumos agrícolas utilizados e também na receita do produtor, pois os valores da venda são convertidos em real.
Com a pandemia de Covid-19, o dólar disparou e fez com que os exportadores se beneficiassem com a alta nos preços da soja. No entanto, o aumento na produção da commodity nos Estados Unidos trouxe concorrência e diminuiu os preços. Desta forma, a alta do câmbio fez com que os produtores tivessem maior lucratividade no período.
Em um contexto de maior oscilação do dólar, há um desequilíbrio nas margens de lucro do produtor de soja. Por exemplo, caso os insumos para a produção da safra tenham sido adquiridos com uma cotação mais alta, a oscilação diminui a lucratividade da safra.
Por isso, a grande oscilação da moeda estadunidense precisa ser considerada na hora de planejar a safra de soja. Afinal, não considerá-la pode afetar a saúde financeira do produtor e gerar perdas.
Vale ressaltar que, neste ano, o dólar apresentou uma desvalorização de 7,18% ante o real. No entanto, não é o menor valor apresentado neste ano. Em abril, a moeda chegou a valer R$ 4,6076.
Desde a safra 2021/22, os resultados obtidos pelos produtores de soja estão abaixo do esperado pela maioria. Isso se deve à uma escassez de insumos no mercado, o que os torna mais caro. Por exemplo, a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) apontou um aumento de 300% nos preços dos defensivos agrícolas.
Além disso, existem preocupações com as mudanças climáticas. Períodos de déficit hídrico e excesso de chuvas também são fatores que preocupam os produtores de soja.
Para a safra de 2022/23, os custos deverão ser ainda maiores. Segundo o Relatório de Custos de Produção, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a commodity deverá ter um aumento de 50,5%. Ou seja, R$ 6.558,17 por hectare de soja transgênica.
Dentre os insumos que puxaram este preço pra cima estão os fertilizantes e corretivos, 113,2% mais caros. Além disso, as sementes tiveram alta de 68,6% e os defensivos agrícolas subiram 25,9%. Para completar, houve um aumento médio de 46,6% nos custos de oportunidade. Entre eles, vale destacar capital circulante, benfeitorias, custos da terra, máquinas e implementos.
No que diz respeito à soja sem convencional, o aumento deve ser de 48,7% em relação à safra anterior, chegando a R$ 6.769,11 por hectare. Fertilizantes e corretivos tiveram alta de 111%, enquanto sementes e defensivos agrícolas subiram, respectivamente, 94,7% e 19,8%.
Apesar da soja sem transgenia ser 3,2% mais cara de se produzir, ela é mais rentável. Cada hectare pode produzir sete sacas a mais que os com o grão transgênico.