Às vésperas do início da nova legislatura do Congresso Nacional, a Frente Parlamentar Evangélica ainda não chegou a um consenso sobre quem será o próximo líder da bancada. Quatro parlamentares se apresentaram para presidir o bloco de fiéis — o senador Carlos Viana (PL-MG) e os deputados federais Otoni de Paula (MDB-RJ), Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM).
Diante do cenário de indefinição, o atual dirigente da bancada, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), convocou uma eleição para esta quarta-feira (1º), às 10h. Tradicionalmente, a Frente Parlamentar Evangélica escolhe o líder sem necessidade de votação.
“Fiz reuniões com todos os interessados e, até o momento, nenhum sinalizou a possibilidade de composição. Não houve entendimento, ninguém cedeu”, disse Sóstenes Cavalcante.
Fundada em 2003, a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional escolhe, a cada dois anos, um representante como líder. Desta vez, rachas políticos se refletem na disputa. Divergências entre a relação com o governo Lula (PT) e o apoio à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados dividem os candidatos ao posto.
O mandato que se inicia nesta semana terá uma novidade para a comunidade parlamentar evangélica: Viana, que deseja comandar a bancada de fiéis no Congresso, presidirá uma nova frente voltada apenas para o Senado. Nesta legislatura, a estimativa é que os evangélicos sejam 102 deputados e 13 senadores, o equivalente a 20% da Câmara e 16% do Senado.
Silas e Otoni
Até o momento, Silas Câmara, ligado à Assembleia de Deus de Belém do Pará, e Otoni de Paula, pastor da Assembleia de Deus de Madureira, despontam como os favoritos.
Silas presidiu a Frente Parlamentar Evangélica em 2019 e 2020 e tem o apoio do Republicanos, que tem 19 parlamentares evangélicos. Com bom trânsito entre diferentes igrejas, ele mediou um acordo entre Sóstenes e o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), ligado ao ramo paulista da mesma igreja de Otoni, que evitou um racha na bancada no ano passado.
Recentemente, o deputado começou uma aproximação com o governo Lula e se reuniu com o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. Os dois posaram para foto nas redes sociais.
Otoni também tenta romper com o passado recente e radical no bolsonarismo e se apresenta como um nome com melhor diálogo com o novo governo. Ele compareceu às posses de ministros do MDB nomeados por Lula e criticou o silêncio do ex-presidente Jair Bolsonaro diante das manifestações antidemocráticas que sucederam a eleição. Já Carlos Viana, da Igreja Batista, e Eli Borges, da Assembleia de Deus e atual porta-voz da Frente, mantêm o discurso de oposição construtiva, sem concessões.
O segmento foi um dos pilares do antigo governo e se engajou na campanha à reeleição de Bolsonaro à Presidência.
Reeleição de Lira
O PL, partido do ex-presidente, abriu mão da vice-presidência da Casa a fim de costurar o apoio à eleição de Rogério Marinho (PL-RN) para o comando do Senado. O nome que se apresentava era o de Sóstenes Cavalcante, mas o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, deve ficar com o posto na chapa.
O movimento enfraquece o apoio que já havia sido anunciado pela Frente Parlamentar Evangélica à candidatura de Arthur Lira à reeleição para o comando da Câmara, em dezembro. Na época, a bancada entregou ao deputado um manifesto com prioridades para o novo mandato.
O documento abordava cinco projetos de lei alinhados às bandeiras do grupo, como a priorização da pauta de costumes. Entre eles, o Estatuto do Nascituro, texto que coloca o direito à vida como inviolável desde a concepção, impedindo o aborto até mesmo nos casos hoje permitidos por lei.