Um dia após discursar na tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul (Serra Gaúcha) contra o povo baiano, o vereador Sandro Fantinel foi expulso do partido Patriotas nesta quarta-feira (1º). O diretório regional da legenda considerou desrespeitosa e inaceitável a fala do parlamentar ao criticar a repercussão negativa do regime análogo à escravidão ao qual um grupo de trabalhadores era submetido em Bento Gonçalves até a semana passada.
“O pronunciamento está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, igualdade, decoro, ordem e trabalho”, frisou a cúpula da sigla. Já o político de 55 anos alega ter sido mal-interpretado.
Transmitida – e gravada – pelo Legislativo municipal, a manifestação foi alvo de repúdio em todo o País. Nos três minutos finais de discurso, Fantinel se referiu aos habitantes do Estado nordestino como um povo que não gosta de trabalhar porque prefere “ficar na praia e tocar tambor”.
Ele também defende a ideia de que os empresários da Serra Gaúcha não contratem mais “aquela gente lá de cima”, dentre outras afirmações marcadas por preconceito e xenofobia. Em seguida, propõe que os produtores contratem argentinos para serviços temporários, porque as pessoas do país vizinho seriam mais “limpas e corretas” que as da Bahia.
Em um trecho da manifestação, Fantinel chega a ironizar as condições degradantes encontradas no alojamento dos trabalhadores em Bento Gonçalves: “Querem o quê? Hotel cinco-estrelas?”.
Legislativo caxiense
O presidente da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, José Pascual Dambrós (PSB), declarou que o incidente não reflete o pensamento e a postura da Casa ou da cidade como um todo: “O parlamentar tem a responsabilidade de responder por sua manifestação”. Disse, ainda, que uma eventual punição dependerá de acionamento do Conselho de Ética do Legislativo municipal.
Por meio de nota, a Mesa Diretora divulgou nota reiterando que “não compactua com manifestações de preconceito, discriminação, racismo ou xenofobia” e que o posicionamento de Sandro Fantinel foi individual.
Autoridades reagem
Em postagem nas redes sociais, o governador Eduardo Leite condenou com veemência a postura do vereador caxiense, classificando o discurso como “nojento” e que não representa a população gaúcha. “Não admitiremos esse ódio, intolerância e desrespeito na política e nem na sociedade. Os gaúchos sempre têm braços abertos a todos, sempre”.
Seu colega da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), comentou a questão no Twitter: “Repudio veementemente a apologia à escravidão e não permitirei que tratem nenhum nordestino ou baiano com preconceito ou rancor”.
“É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana. Determinei, portanto, a adoção de medidas cabíveis para que o vereador seja responsabilizado pela sua fala”, afirmou o governador.
O deputado estadual gaúcho Leonel Radde (PT), por sua vez, levou o caso à esfera da Polícia Civil. “Registramos boletim de ocorrência contra a fala racista do vereador da Serra. O Rio Grande do Sul e o Brasil não são lugares para racistas e escravocratas”.
(Marcello Campos)