O Brasil deu início a mais uma etapa da campanha de vacinação contra a Covid-19 com as doses bivalentes, que ampliam a imunidade contra a variante Ômicron e aumentam a proteção dos grupos de risco. Mas, com o novo apelo para que os brasileiros elegíveis procurem os postos de saúde, também voltam a dominar nas redes as fake news sobre os imunizantes.
Por isso, conheça as seis principais fake news sobre as vacinas bivalentes.:
1. Vacina bivalente causa problemas cardíacos – Desde o início da vacinação, circula uma nota da Anvisa de 2021 que alerta sobre possíveis riscos de miocardite e pericardite, tipos de inflamação no coração, após o imunizante da Pfizer. Isso porque a análise das doses passa por um controle rígido das autoridades sanitárias, que monitoram qualquer efeito adverso das aplicações, ainda que sejam poucos.
De fato, o efeito foi confirmado, embora considerado extremamente raro — uma ampla análise com mais de 190 milhões de vacinados publicada na JAMA Network Open constatou pouco mais de oito ocorrências a cada um milhão de doses. A maioria dos casos se resolveram sozinhos, e os estudos comprovaram que a baixa incidência faz com que os benefícios ultrapassem, em muito, qualquer risco.
2. Nova dose foi testada em apenas oito camundongos – Outra fake news que repercutiu nas redes com o início da campanha com as doses bivalentes é que elas teriam sido testadas em apenas oito camundongos antes de serem liberadas para a população. A informação, no entanto, é falsa. “De forma nenhuma seriam aprovadas se não houvesse estudos em humanos. O que aconteceu com as bivalentes é que foi observado um desfecho mais prático, em vez de se avaliar o impacto nas hospitalizações e óbitos, foi avaliada a imunidade induzida, o nível de anticorpos, a partir de dosagem no sangue. E os estudos comparativos mostraram que a bivalente induz uma produção maior e mais específica de anticorpos para as cepas da Ômicron”, explica Naime Barbosa.
Os testes clínicos da dose bivalente da Pfizer, que conta com metade da formulação da cepa ancestral, e a outra metade da Ômicron BA.4/BA.5, contaram com 900 participantes nos Estados Unidos com idades a partir de 12 anos. Todos humanos.
3. Imunizante não aumenta proteção contra a covid – Outro argumento que tem sido compartilhado é de que a vacina bivalente não seria necessária, pois não aumentaria a proteção contra a covid. Porém, a imunologista e doutora em Biociências e Fisiopatologia, Letícia Sarturi, explica que a nova formulação induz uma resposta mais específica às variantes atuais do vírus, e por isso melhoram sim a resposta imunológica do organismo.
4. Suprema Corte dos EUA suspendeu vacinação – Uma mensagem que circula em grupos de WhatsApp alega que a Suprema Corte dos Estados Unidos teria decidido que as doses contra a covid-19 não são vacinas de verdade por envolverem uma tecnologia experimental e que, por isso, a aplicação teria sido suspensa. O caso teria chegado à Justiça por Robert F. Kennedy, sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, e abriria um precedente internacional, segundo a publicação.
A informação, porém, é completamente falsa. Não há qualquer caso do tipo que tenha sido julgado pela Corte americana sobre a legitimidade ou não das vacinas contra a covid-19. Muito pelo contrário, o país segue com a campanha de imunização de forma ativa, ofertando as doses bivalentes a toda a população acima de seis meses de idade. Rosana, da SBI, lembra também que a tecnologia de RNA mensageiro não é experimental.
5. Lula não recebeu a vacina de verdade – Depois do evento de lançamento da campanha de vacinação no Brasil, no último dia 27, diversos perfis nas redes sociais alegaram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu a dose bivalente do vice-presidente, Geraldo Alckmin, durante a cerimônia, não teria se imunizado de verdade.
Os usuários afirmam que Alckmin teria “jogado o conteúdo da seringa fora” antes da aplicação, para que Lula não recebesse a dose. No entanto, o momento, capturado em vídeo, mostra que o vice-presidente, médico por formação, apenas moveu o êmbolo para retirar o ar da seringa antes de administrar a vacina, como é recomendado. Ainda que um pouco do líquido possa sair junto, é uma quantidade irrelevante que não compromete a imunização.
6. Vacinas causam variantes da covid – Há ainda quem defenda que o avanço do novo coronavírus, com suas variantes e sublinhagens que provocam quadros de reinfecção, é consequência das vacinas. No entanto, os especialistas explicam que a lógica é inversa.
“Nenhuma vacina da covid-19 tem a capacidade de provocar novas variantes do vírus. É exatamente o contrário, o que estimula as variantes é a circulação do vírus. Então quanto menos pessoas vacinadas, maior a probabilidade de novas mutações”, diz Cunha, da SBIm.
Isso acontece porque, embora a redução não seja tão significativa como a dos casos graves, os imunizantes também diminuem a chance de infecção e, consequentemente, de que o patógeno seja transmitido. Além disso, a proteção das vacinas ajuda a combater o vírus de forma mais rápida, dando menos tempo para ele se modificar no organismo.