O 33º Fórum Nacional da Soja, promovido pela Federação das Cooperativas Agrícolas do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) e Cotrijal, na 23ª Expodireto, iniciou com um debate sobre sustentabilidade, com o objetivo de mostrar que o produtor de soja brasileiro sequestra carbono, ao contrário da agricultura realizada em países desenvolvidos que não trabalham com plantio direto.
Na sequência, o evento, que aconteceu na última terça-feira (7), tratou dos reflexos da guerra na Ucrânia e da pandemia de coronavírus, evidenciando que os produtores podem celebrar uma retomada da normalidade nos preços. Já a palestra de encerramento apresentou panoramas políticos e econômicos para auxiliar os agricultores em suas tomadas de decisão.
Iniciando o painel, o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Lima Nepomuceno, destacou a agricultura brasileira como solução e não como problema. “Nós somos o único país hoje, no planeta, que consegue fazer fotossíntese, pegar o CO2 na atmosfera 365 dias por ano, produzir alimento, fibra e biocombustível. Folhas, talos e raízes que sobram é carbono que volta para o solo”, explicou. O palestrante ainda falou sobre o programa Soja Baixo Carbono, criado pela Embrapa Soja justamente para demonstrar em números que o plantio direto, se bem feito e dependendo do sistema usado, com rotação de cultura, pode sequestrar de três a sete toneladas de CO2 por ano.
“O Brasil não usa, ao menos na produção de soja, nitrogênio com origem fóssil. Usamos fixação biológica de nitrogênio. Então, se pegarmos os mais de 40 milhões de hectares plantados no ano passado, sem usar nitrogênio químico e fazendo a fixação biológica, já deixamos de colocar na atmosfera 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente”, afirmou Nepomuceno.
O presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, salientou a fala de Nepomuceno sobre o produtor não ser o problema e fez uma cobrança aos países mais desenvolvidos. “Nós não podemos preservar para os ricos, tem que acontecer um equilíbrio. Já que eles não têm preservação, que nos ajudem a conservar”, disse, ao comentar o tema do sequestro de carbono.
A segunda palestra do dia apresentou aos produtores uma boa notícia: com o fim dos embargos por parte da China e o atual cenário bélico entre Rússia e Ucrânia, os insumos estão retomando os patamares de preço. O responsável pelo panorama agrícola da soja foi o sócio-diretor da Agrinvest Commodities, Marcos Araújo. Segundo ele, houve a abertura do canal de fornecimento após o término do entrave das exportações do cloreto de potássio da Rússia e da Bielorrússia, que representam cerca de 50% de todo o potássio importado pelo Brasil.
“Os preços dos fertilizantes e também dos próprios defensivos agrícolas, como o glifosato da China, diminuíram. A queda é tão significativa que está dando um grande poder de troca para o sojicultor para a próxima safra”, assegurou. O consultor detalhou ainda que entre a temporada de 2021 e a safra 22/23, houve um acréscimo no custo de produção total da soja de 60%, e que o recuo pode ficar entre 15% e 20%. “Por mais que o sojicultor esteja olhando os preços da soja para 2024 em torno de R$ 10 a R$ 15 inferiores ao patamar atual, ele tem que olhar com carinho, em uma condição climática normal, que o retorno será muito produtivo e dará condições para fazer uma lavoura com bom nível tecnológico”, avaliou.
Já o economista da BTG Pactual Álvaro Frasson, relatou que, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, o Brasil está com um cenário de juros elevados. Além disso, na sua visão, o debate sobre metas de inflação ainda é bastante relevante. “O nosso país tem uma possibilidade interessante de melhorar as suas expectativas num prazo de dois a três anos”, estimou o especialista. Para isso, indicou que será necessário focar esforços e trazer um arcabouço fiscal positivo, bem como uma reforma tributária que modernize o sistema e gere produtividade. O resultado, segundo ele, será o aumento da perspectiva de crescimento e a melhora do quadro fiscal. “E, com o Banco Central fazendo seu trabalho, se consegue controlar a inflação em um prazo mais longo”, acrescentou.
Por fim, o diretor-executivo da FecoAgro/RS, Sérgio Feltraco, ressaltou que a lógica do fórum foi estruturar uma abordagem que trouxesse o enfoque em tecnologias, tendências, programas de garantia de produtividade e sustentabilidade, assim como experiências de grandes operadores de mercado, precificação da soja e uma discussão voltada ao novo cenário político e econômico. “É importante que o produtor tenha um olhar muito sério em relação aos avanços de tecnologia, o que aliás é o mote e o que sustenta esta feira, pois esse aspecto tem uma colagem muito íntima com as condições de mercado e de comercialização”, concluiu o dirigente.