Há no governo uma disputa de bastidor entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o chefe da Casa Civil, Rui Costa. E, no meio dos dois, o PT. O partido do presidente Lula, de Haddad e de Costa não quer saber de ajuste para ressuscitar superávit primário nem controlar gastos.
A avaliação é a de que um arcabouço fiscal assim levará o projeto de poder petista à ruína e abrirá caminho para a volta de Jair Bolsonaro ou de um nome apadrinhado pela extrema direita, caso ele fique inelegível.
Exemplo antigo
No Palácio do Planalto, Lula é conhecido por arbitrar “genialidades”. Mas o embate da vez entre Haddad e Costa não repete a velha briga entre a equipe econômica e a ala política do governo, como ocorria entre Antônio Palocci e José Dirceu, no primeiro mandato de Lula. É mais do que isso.
À época, Dirceu tinha o apoio do PT para fazer as críticas e Palocci era visto como um fiscalista que só se preocupava com números, não com o social. Hoje, Costa não conta com a simpatia da cúpula do partido. Ao contrário: o PT o considera “liberal” e “privatista”. Além disso, o atual chefe da Casa Civil não quer impedir superávit primário. Pretende, sim, se consolidar como “capitão do time” e controlar o processo. Haddad, por sua vez, não abre mão de seu papel.
Na temporada “Lula 3″, o duelo entre Fazenda e Casa Civil é mais por espaço de dois possíveis candidatos à sucessão do presidente – fator que também apareceu de 2003 a 2005, quando estourou o mensalão – do que por antagonismo de posições, o ingrediente ideológico do primeiro mandato.
O problema é que, para piorar o cenário, os petistas já deram sinais de que não vão facilitar a vida de Haddad. E continuarão pedindo a cabeça do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o vilão da série de juros estratosféricos.
Nessa troca de cotoveladas, até a maldição da Casa Civil bate à porta. A exemplo da presidente cassada Dilma Rousseff, que já ocupou aquele ministério, Costa é dono de temperamento definido como “difícil” por interlocutores. Em mais de uma reunião, por exemplo, o ex-governador da Bahia interrompeu colegas, como o próprio Haddad.
Chá de banco
Na terça, o ministro da Fazenda foi ao Planalto e esperou Costa por quase uma hora para a reunião da Junta Orçamentária, com Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão). Depois de 45 minutos, não pensou duas vezes: levantou e foi embora. Deixou ali como representante o secretário do Tesouro, Rogério Ceron.
De acordo com pessoas próximas da situação, a disputa não se trata de imposição de ideias ou projetos, apenas de quem ocupa um espaço maior. Tanto Haddad como Costa são muito próximos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e são nomes prováveis para a sucessão do presidente.