A investigação da Polícia Federal que descobriu os planos de ataques contra diversas autoridades, entre elas o ex-juiz e senador Sérgio Moro (União-PR), apontou que os responsáveis por arquitetar o atentado, membros da maior facção do país, conseguiam ter acesso a um sistema de monitoramento por câmeras do governo de São Paulo. A informação consta no relatório apresentado pelo Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise) à Justiça Federal, que expediu os mandados de prisão e de busca e apreensão cumpridos nessa semana.
Segundo os agentes, os criminosos utilizavam o Detecta, programa que utiliza imagens de trânsito para reconhecer um determinado veículo e detectar por onde ele circulou. Em uma conversa por aplicativo de mensagens monitorada com autorização judicial, um dos integrantes pede a um comparsa que descubra onde esteve, nos dias anteriores, uma viatura não caracterizada da Polícia Civil paulista.
“Parceiro, precisava saber onde esse carro andou de sábado até hoje”, escreve o suspeito no diálogo captado, que inclui ainda uma foto da placa da caminhonete. “Consegue dar uma força para mim? Pra ver no Detecta lá”, prossegue. Os investigadores também encontraram no telefone uma imagem com diversas informações sigilosas sobre o automóvel oficial.
“Temos indicativo claro de que os investigados têm acesso a dados que deveriam ser sigilosos, o que permite a eles agir com desenvoltura na prática de crimes, pois conseguem identificar veículos das forças de segurança”, frisa o texto da representação policial, assinada pelo delegado Martin Bottaro Purper.
A investigação também mostra que a facção monitorou até o local de votação de Moro. A partir de interceptações telefônicas e telemáticas, policiais federais conseguiram rastrear manuscritos que incluíam informações como seus endereços, nomes dos familiares, telefones, e-mails de seus filhos e até suas declarações de bens. Em uma das trocas de mensagens interceptadas, há um relato detalhado sobre o “reconhecimento de local” feito no Clube Duque de Caxias, em Curitiba, no Paraná, onde o senador votou na última eleição.
Nessa conversa, feita a partir de um aparelho celular utilizado por Janeferson Aparecido Mariano, um dos alvos da PF, seu interlocutor descreve as câmeras existentes no clube, a equipe de segurança e até as rotas de acesso ao local. “Na guarita de acesso, estão dois seguranças e um vigia no pátio, logo após a guarita está o salão ao qual será usado para votação”, diz um dos trechos do print.
As informações vieram a público depois que a Justiça determinou a retirada do sigilo da decisão que autorizou a PF a realizar a operação. Na véspera, agentes foram a campo e prenderam nove suspeitos, além de terem cumprido dezenas de mandados de busca e apreensão em diferentes Estados.
Na decisão que deferiu 11 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão, a juíza federal Gabriela Hardt afirma que, durante as investigações, foi verificado que a antena do telefone de um dos bandidos esteve no bairro Bacacheri, onde está localizado o clube. Os agentes federais também comprovaram que o mesmo celular esteve no local de residência de Sergio Moro e ainda no escritório de advocacia da mulher do senador.