Falar de dinheiro não é exatamente uma coisa fácil para os brasileiros. Uma recente pesquisa realizada pelo Banco BV junto ao Instituto Mindminers mostrou que 54% dos entrevistados consideram o dinheiro um tabu e 58% gostariam de conversar mais sobre o tema. Se essa é a realidade dos adultos, imagine para crianças e adolescentes.
"Apesar da educação financeira ganhar cada dia mais espaço na vida cotidiana, a verdade é que o tema ainda representa um desafio pessoal para muita gente. A boa notícia é que é possível falar de dinheiro com os pequenos a partir de simples ações no dia a dia, que não geram susto ou desagrado com o tema”, explica Samuel Torres, consultor financeiro da Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada que participou da décima edição da Global Money Week - campanha global voltada à promoção da educação financeira junto a crianças e jovens.
Dentro desse contexto, o executivo aponta três razões para falar de dinheiro com crianças e jovens, assim como a melhor forma de introduzir o assunto.
1. O dinheiro está sempre presente
Mesmo que a gente não perceba, o dinheiro está sempre presente na vida humana. Pode parecer inusitado, mas os primeiros estudos mundiais sobre o sentido do dinheiro para as crianças iniciaram em 1897 e, após a Segunda Guerra Mundial, o tema ganhou mais força, principalmente com a entrada das mulheres no mercado de trabalho. Com mães e pais trabalhando fora de casa, as crianças e jovens passaram a manusear o dinheiro com mais frequência.
Em 2010, uma pesquisadora finlandesa, realizou um estudo com crianças de 6 e 7 anos para entender seus desejos de consumo e conhecimento sobre dinheiro e observou que as crianças demonstraram ter bastante consciência sobre sua origem e poder de compra. Além disso, todos os entrevistados já tinham passado por experiências com dinheiro e a maioria recebia uma quantia dos pais, avós ou outras pessoas, seja por tarefas realizadas em casa ou por qualquer outro motivo.
2. O consumo (também) está sempre presente
Todos fazemos parte de uma sociedade de consumo, certo? E, principalmente, com o alto desenvolvimento tecnológico, as crianças recebem estímulos de consumo cada vez mais cedo e por múltiplos canais, como TV, smartphone ou consoles de videogame. Daí vem a grande importância da construção da consciência financeira infantil. Também não podemos esquecer as consequências econômicas da pandemia mundial. Em muitos países, a população mais jovem vai enfrentar uma realidade financeira muito diferente da de seus pais. Assim, o ensino antecipado sobre finanças ajuda a construir resiliência e planejamento.
3. Incentivar o diálogo sobre o tema traz confiança para o futuro
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) define que “educar crianças e jovens sobre seus direitos e responsabilidades sociais e econômicas é a chave para criar uma geração de adultos capazes, que podem tomar decisões sábias para o seu futuro”. Estudos também comprovam que a educação financeira para crianças e jovens também beneficia a consciência financeira de sua família e da comunidade à sua volta, já que o diálogo sobre o tema se torna mais recorrente e ganha espaço natural no cotidiano.
E qual a melhor forma de introduzir o assunto?
Samuel afirma que o segredo é introduzir o assunto por meio de pequenos diálogos e exemplos cotidianos. Por exemplo, entre 3 e 6 anos, começa o processo de despertar da criança para o valor das coisas. Nesse momento, a melhor forma de incentivar o relacionamento com o dinheiro é por meio de um estímulo visual, assim os pequenos conseguem enxergar o dinheiro aumentando ao longo do tempo.
Já entre 7 e 13 anos, é um bom momento para introduzir a mesada, por exemplo, mensal ou quinzenal. Um parâmetro é estabelecer valores de acordo com a idade, por exemplo, 7 reais por semana para uma criança de 7 anos e assim por diante. Outro ponto interessante é adotar pequenas metas possíveis para que a quantia seja valorizada, como tirar notas azuis e arrumar os brinquedos.
Por fim, a partir dos 14 anos, é o momento de consolidar os pequenos aprendizados sobre dinheiro em uma real responsabilidade financeira. Se a mesada já acontece, um próximo passo pode ser abrir uma conta-poupança. É um pontapé para compreender produtos financeiros e como cuidar da própria liberdade financeira com mais seriedade.
"Além disso, desde o primeiro emprego, incentive a guardar uma porcentagem de 5% a 10% do valor recebido. Com o tempo e o crescimento na carreira, ele pode subir de 20% a 30% e assim sucessivamente, dependendo dos objetivos financeiros de cada pessoa", finaliza o executivo.