O agronegócio é uma atividade com uma alta demanda de capital, principalmente no Brasil. Na maioria dos casos, inclusive, o produtor precisa se beneficiar do recurso financeiro para comprar insumos e maquinários e, assim, iniciar a produção da próxima safra.
Até há alguns anos, o mercado de crédito rural estava bastante concentrado nas mãos de instituições públicas, mas pouco a pouco esse cenário vem mudando. Cada vez mais, essa atividade tem despertado um engajamento maior de bancos privados e outras empresas, devido a uma percepção mais precisa dos riscos no setor, que é derivada do aprimoramento tecnológico da análise de dados, além de políticas econômicas que favoreceram a atividade como um todo.
Basicamente, o ato de financiar algo depende de um recurso disponível em caixa. Ao emprestá-lo para o cliente interessado é preciso ter a compreensão do destino do recurso, ou seja, fazer a gestão, monitoramento e validação do risco daquela operação. No agronegócio, esse processo é muito mais complexo, porque está, na maioria das vezes, distante e correlato a variáveis imponderáveis, com poucos dados disponíveis e/ou estruturados.
Um dos riscos envolvidos é o de imagem ou reputação. Nesta faceta, dentre outros, está o risco socioambiental, que está compreendido na agenda mundial ESG (sigla em inglês para “Ambiental, Social e Governança”). Por ter corresponsabilidade na ação do produtor, a entidade que financia deve ficar atenta a atos que possam prejudicar o bem-estar social e o meio ambiente, como o trabalho em condições análogas à escravidão e o desmatamento, respectivamente. Inclusive, esse risco esbarra em questões legais e infralegais que precisam ser seguidas, como o impedimento à áreas embargadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), sobreposição com Unidades de Conservação, dentre outros critérios contidos nas diretrizes do manual de crédito rural, o MCR, divulgado e gerido pelo Banco Central.
Mais recentemente, em setembro de 2021, um dos riscos mais imponderáveis entrou em cena por meio da Resolução nº140 do Banco Central, que discrimina os impedimentos sociais, ambientais e, adicionalmente, abre a porta para um novo entrante, o impedimento climático.
Monitorar o desempenho da lavoura (risco de desempenho que impacta o risco de crédito) também é uma missão importante para quem disponibiliza recursos. Eventos inesperados podem ocorrer no campo a todo momento, desde uma seca e chuva excessiva que podem prejudicar por completo uma safra, até mesmo o aparecimento de uma praga capaz de atrasar a colheita da produção. Estes problemas se tornam ainda mais delicados em análises de portfólio, afinal, o clima é um risco que pode impactar de forma abrangente, geograficamente falando. Por isso, a pulverização dos riscos é um fator determinante para os financiadores do agro.
Em decorrência deste cenário desafiador, cada vez mais, as instituições financeiras precisam recorrer a soluções digitais, que utilizam sensoriamento remoto, cruzamento de dados e modelagens não-óbvias, para resolver o problema, que possui um grande leque de conhecimento, técnicas, metodologias e ferramentas. Aliás, estar longe dos produtores é, talvez, o desafio básico a ser superado pelos bancos que financiam os mesmos. Até questões relativamente simples podem se tornar mais difíceis de serem resolvidas caso as organizações que financiam o setor não possuam plataformas digitais eficientes à sua disposição, como a avaliação ou valoração da constituição de garantias com imóveis.
Hoje, portanto, a tecnologia é a forma mais recomendada para os bancos gerirem o campo de maneira integral, digital e à distância, iniciando um ciclo que seja monitorado antes e durante todo o carregamento do contrato de financiamento. Por meio dela, os dados podem ser coletados pelas instituições financeiras de forma automatizada, fazendo com que a informação chegue aos decisores da maneira correta.
A verdade é que o agronegócio ainda tem muito espaço para crescer no Brasil. Ao diminuir os riscos para o setor financeiro (não podemos esquecer o setor de seguros e o mercado de capitais) a tecnologia também cria oportunidades para que até grupos, com uma carteira de crédito menor, passem a ter a chance de disponibilizar recursos para o mercado de uma forma segura, que é o caso mais recente das novas corajosas aventureiras (derivado do Venture) do agro, as Fintechs. Sem dúvida, com mais players financiando a área, a percepção de que o Brasil é o país do agronegócio será ainda mais fortalecida.
*Lucas Tuffi é diretor comercial da Agrotools, maior plataforma digital para o agronegócio corporativo no mundo