Encontradas com a ajuda de Inteligência Artificial (IA), novas evidências científicas indicam que o crescimento esférico do ventrículo esquerdo do coração está associado com o maior risco de cardiopatias (doenças do coração), como a inflamação no músculo cardíaco (miocardiopatia). A probabilidade aumentada da doença também acomete aqueles que já têm o órgão em um formato mais arredondado que o padrão.
Segundo os pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, o crescimento esférico do coração pode implicar em um risco que é até 47% maior de miocardiopatia. Além disso, as análises identificaram associações mais fracas do aumento da esfericidade com uma maior probabilidade de fibrilação atrial (FA) e de insuficiência cardíaca. No entanto, nenhuma associação foi observada com a parada cardíaca.
Para chegar a essas conclusões e treinar a IA, os pesquisadores da UCLA usaram um banco de dados com ressonâncias magnéticas de cerca de 39 mil voluntários britânicos. Informações genômicas dos participantes também foram usadas. O estudo completo foi publicado na revista científica Med.
Crescimento anormal e a saúde
“A imagem desempenha um papel importante no diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas”, afirmam os autores do estudo. Entre os métodos mais comuns de análise, estão o ultrassom e a ressonância magnética. A partir dos exames, os médicos podem identificar o crescimento das câmaras cardíacas ou ainda diminuição da força de bombeamento do músculo cardíaco, o que permite o diagnóstico de algumas doenças.
Para além do tradicional, os pesquisadores norte-americanos suspeitavam que as análises do tamanho e do funcionamento do órgão poderiam esconder informações não captadas pelos métodos atuais de análise. Como suspeitavam inicialmente, eles estavam certos.
A nova bateria de análises com IA revelou que, mesmo quando o tamanho e a função são normais, “a esfericidade do coração prevê o risco de problemas cardíacos”, pontuam. Indo além, eles perceberam que “a ‘redondeza’ do coração é afetada por influências genéticas”.
Diante das novas evidências, o grupo defende que “a análise do formato do coração pode ajudar a melhorar nossa capacidade de identificar pessoas em risco de desenvolver doenças cardíacas”. Dessa forma, esse tipo de avaliação deveria ser incluída na lista padrão de solicitações médicas.
Segundo Richard Becker, professor da Universidade de Cincinnati, nos EUA, e pesquisador não envolvido no estudo, as descobertas são bastante promissoras. No entanto, ainda não estão validadas o suficiente para entrarem nos protocolos clínicos de hospitais e laboratórios.
Além do teste na população britânica, é preciso validar a relação entre o crescimento esférico do coração e as cardiopatias em outros grupos. Por outro lado, Becker vê com otimismo os achados, já que poderiam estimular o acompanhamento preliminar de pacientes com corações anormais, antes mesmo de qualquer alteração mais grave.