Um dos principais conselheiros do ex-presidente Jair Bolsonaro após a derrota eleitoral, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres se tornou peça-chave das apurações da Polícia Federal (PF) sobre os responsáveis pelos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. De ações para atrapalhar o deslocamento de eleitores no dia do segundo turno à “minuta golpista” encontrada em sua casa, um emaranhado de indícios o coloca como elemento central de uma suposta trama conspiratória para tentar melar o resultado das eleições.
Paralelamente, a Polícia Rodoviária Federal discute reabrir investigações internas sobre as blitzes montadas no dia da eleição que deu a vitória ao presidente Lula. Na ocasião, o foco da corporação, então subordinada a Torres, foram sobretudo rodovias do Nordeste, onde o PT havia conquistado larga vantagem no primeiro turno. As apurações internas foram arquivadas pelo ex-corregedor-geral da PRF, Wendel Benevides Matos, exonerado na última semana passada.
Já foram levantados indícios de “atipicidade” nas operações realizadas em Alagoas, Sergipe e Maranhão, assim como Pará e Santa Catarina. Por enquanto, a PF identificou um “boletim de inteligência” produzido por uma assessora de Torres detalhando os lugares onde Lula foi mais votado no primeiro turno. A assessora, a ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça Marília Alencar, tem depoimento marcado para a semana que vem para explicar de quem partiu a ordem e o que motivou o levantamento.
Além disso, os investigadores buscam detalhes sobre uma viagem de Torres à Bahia para cobrar empenho do então superintendente da PF no estado, Leandro Almada, na ação eleitoral, às vésperas do segundo turno.
O outro flanco em que as investigações tentam avançar diz respeito à minuta com timbre do governo encontrada na casa de Torres, cujo texto apócrifo “decretava” o “Estado de Defesa” no TSE. Em depoimento, o ex-ministro disse que o documento lhe foi remetido por uma secretária. À PF, no entanto, ela disse que não entregou nada. Uma perícia identificou três digitais: do próprio Torres, de uma advogada e um delegado. Os dois últimos manusearam o arquivo no dia da apreensão.