O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que nem a Rússia nem a Ucrânia querem parar a guerra, durante visita a Portugal nesse sábado (22). Lula disse que, ao invés de “escolher um lado” no conflito, quer uma “terceira via”.
O petista defendeu uma solução política e negociada para a guerra e voltou a afirmar que o Brasil condena a agressão da Rússia. “Eu nunca igualei Rússia e Ucrânia. Eu sei o que é invasão e o que é integridade territorial”, disse Lula. “Mas agora a guerra já começou e alguém precisa falar em paz”.
Lula comentou ainda que a guerra está “fazendo mal para o mundo” e disse que o Brasil não quer participação no conflito. “Em meu primeiro mandato eu fui aos Estados Unidos e o Bush pediu que o Brasil entrasse na guerra contra o Iraque. Eu respondi que minha guerra era contra a fome no Brasil. Hoje, outra vez, temos 33 milhões passando fome em nosso País. Essa é minha guerra”, discursou.
O presidente brasileiro foi criticado pelos Estados Unidos por falas sobre a Guerra na Ucrânia e pela visita do chanceler russo a Brasília, Sergei Lavrov. Quando estava na China, Lula afirmou em coletiva de imprensa que era preciso que os Estados Unidos parassem de “incentivar a guerra”.
A mesma opinião foi proferida em relação à União Europeia. Tanto a reação da Casa Branca quanto da UE foram duras, e o porta-voz de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que o petista estava “reproduzindo propaganda russa e chinesa” com uma abordagem “profundamente problemática”.
Em outro momento, já em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, Lula voltou a comentar sobre o conflito e repetiu o argumento que proferiu em maio de 2022, ao atribuir a responsabilidade do confronto entre Rússia e Ucrânia a ambos os países. “A decisão da guerra foi tomada por dois países”, disse. O presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, por sua vez, divulgou um comunicado pedindo para o Brasil “não traia” as esperanças dos brasileiros descendentes de ucranianos que moram no País.
Nessa semana, o petista mudou o tom e afirmou condenar a Rússia. “Ao mesmo tempo que meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito”, afirmou Lula na última terça (18). A declaração foi dada durante um almoço com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, país vizinho da Ucrânia.
Lula defendeu o estabelecimento de uma “nova governança mundial” com maior número de países no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). “É preciso que mais países e continentes entrem no Conselho de Segurança da ONU e restabelecer uma nova geografia, porque a geografia de 1945 não é a mesma. Não podemos continuar com membros do conselho fazendo guerra. Eles são membros do conselho, decidem a guerra sem sequer consultar o conselho. Foi assim nos Estados Unidos contra o Iraque, na Rússia contra a Ucrânia, na França e Inglaterra contra a Líbia”, afirmou Lula.
“Ou seja, eles mesmos desrespeitam as regras do Conselho de Segurança. Por isso, o Brasil está brigando para convencermos outros países para termos uma ONU mais representativa e acabar com o direito de veto”, prosseguiu Lula.
Ainda sobre a necessidade de uma nova governança mundial, Lula criticou que as decisões tomadas nas Conferências sobre a Mudança do Clima da ONU (COPs) não são implementadas e voltou a pedir mudança no conselho da ONU para que as decisões ambientais possam valer.
“Estamos falando de mudanças na governança mundial. Não adianta tomarmos decisões nas dezenas de COP que fazemos para discutir, mas se você não tiver uma governança forte para exigir o cumprimento das decisões a gente vai na reunião, toma as decisões e no ano seguinte fazemos outra e as decisões nunca entram em vigor, porque quando tentamos aprovar no Estado nacional muita gente não consegue”, destacou, mencionando que o Acordo de Copenhague, o Acordo de Paris COP e o Protocolo de Kyoto até hoje não foram postos em prática. O presidente reforçou a reivindicação do Brasil de realizar a COP30 em 2025 no Pará. “Um Estado amazônico para as pessoas verem o que é Amazônia”, justificou.