Parte dos credores da Gramado Park aprovou a cobrança do vencimento antecipado de R$ 571 milhões em dívidas pela falta de pagamento dos juros previstos. A situação agrava ainda mais a situação do grupo gaúcho de turismo, imóveis e lazer, que teve pedido de recuperação judicial reconhecido no mês passado. O alvo dessa execução são dívidas de empresas da holding que ficaram de fora do processo que blinda o grupo contra credores.
A assembleia da semana passada reuniu os investidores que compraram um conjunto de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) emitidos por empresas do grupo por meio da Fortesec. Em nota, a securitizadora informou que, há um mês, vinha buscando chegar a um acordo com a Gramado Park para os pagamentos devidos. As negociações tiveram respaldo dos credores, mas “foram infrutíferas”, segundo a Fortesec.
A convocação da assembleia dos detentores de CRIs estava prevista inicialmente para 18 de abril, mas pouco antes dessa data, houve celebração de um acordo pelo qual a cobrança das dívidas foi temporariamente suspensa na tentativa de se chegar a uma solução para os vencimentos. Para isso, foi necessária a suspensão da assembleia.
Sem evolução nas conversas, o acordo não foi aditado, e os credores prosseguiram com as suas deliberações em reunião realizada na última quarta (3). Na ocasião, chancelaram a cobrança da dívida e a execução das garantias, que envolvem cessão fiduciária de recebíveis, alienação fiduciária de participação societária, fianças, dentre outras. Participaram 88,29% dos credores, dos quais 100% aprovaram essa medida.
Em paralelo a tudo isso, veio à tona uma outra questão envolvendo a Gramado Parks e a Fortesec. Em abril, a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial de três de quatro empresas que compõem a holding e determinou que a securitizadora terá que devolver recebíveis de outras operações de dívidas.
Nas emissões de CRIs, as empresas do grupo cederam à securitizadora a receita das vendas de imóveis para pagamento dos credores. O que sobrava ia para o caixa. Mas com os juros altos, esfriamento da economia e a queda das vendas, passou a quase não sobrar nada para a companhia, que apelou à recuperação judicial.
Entre as empresas do grupo que entraram em recuperação estão: a GPV, de venda de multipropriedades; a ARC Rio, de gestão de rodas-gigantes; e a BPQ, do setor de administração de parques. Já a dívida de R$ 571 milhões que se tornou alvo da execução vem de CRIs emitidos por outras empresas da holding que ficaram fora do processo de recuperação. São elas: a Gramado Parks Investimentos e Intermediações, a GTR Hotéis, a Gramado Parks Investimentos e Intermediações e as sociedades de propósito específico dos empreendimentos Gramado BV Resort e Aquan Prime Foz.
O grupo Gramado Parks reafirmou, em nota, que está dedicado em seu processo de reestruturação financeira e empresarial para viabilizar o pagamento das dívidas de todos os credores, visando, principalmente, a preservação das suas atividades. O grupo disse ainda que o endividamento foi gerado por uma série de fatores, sendo o principal deles devido a estrutura de financiamento com sua principal credora, a Fortesec. As altas taxas e encargos dos CRIs, bem como os juros altos, também contribuíram para esse quadro, emendou.
No mesmo informe, a Gramado Parks acrescentou que suas operações, como hotéis e parques, seguem com suas atividades normalmente, sem qualquer mudança para os clientes e parceiros. A prioridade, afirmou, é a preservação de seus ativos, empregos e o interesse de clientes, colaboradores, fornecedores e investidores, mantendo sua trajetória de entregas em entretenimento e hospitalidade.
Entre os credores que aprovaram a execução da dívida contra a Gramado Parks estão os fundos Devant Recebíveis Imobiliários, Hectare, Versalhes. Em comum, eles têm como gestoras empresas pertencentes ao grupo RTSC, que também era o dono da Fortesec até alguns dias atrás.
Tal situação suscitou dúvidas sobre um possível conflito de interesses nas transações, uma vez que a RTSC aparecia (ainda que indiretamente) tanto na ponta da emissão quanto na ponta investidora. Na ata sobre a assembleia, esse foi um tema abordado pelo agente fiduciário, que questionou a securitizadora e os credores.
A resposta da Fortesec foi que uma “eventual caracterização de conflito suscitada” já foi superada, tendo em vista que a securitizadora passou por uma alteração no controle no 28 de abril (ou seja, cinco dias antes da assembleia dos credores dos CRIs).
Nessa data, a RTSC, do empresário Marcos Jorge, transferiu o controle indireto da Fortesec para os sócios-diretores da securitizadora, Rodrigo Ribeiro e Juliana Mello, através de uma complexa reconfiguração societária. A dupla passou a deter 100% da Hforte Participações. Debaixo dessa empresa está a Forte Securitização e Participações (Fortepar) que, por sua vez, é a dona da Fortesec.