O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) ficou enclausurado em seu gabinete na Câmara, na noite de terça-feira quando saiu a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que cassou o seu mandato por unanimidade. O parlamentar ficou por lá até às 3h da madrugada de quarta-feira. Em conversas ouvidas pela reportagem, assessores relataram que o deputado estava “com vontade de chorar” e falavam em “clima péssimo” dentro do gabinete.
Para sobreviver às mais de 5h de reunião de crise que se somaram ao acompanhamento da votação no TSE, Dallagnol dividiu uma pizza de queijo com pepperoni e um refrigerante de guaraná, sua bebida favorita.
Ao longo da noite, o deputado cassado recebeu a visita de seis parlamentares: a presidente do seu partido: Renata Abreu (SP), acompanhada de Dr. Victor Linhalis (Podemos-ES), e mais quatro deputados bolsonaristas – entre eles, Marcel van Hattem (Novo-RS).
“Nunca o vi assim”, disse um dos parlamentares numa conversa entre eles. “Eu me emocionei”, completou Van Hattem, sobre a cena. Assessores circularam pelos corredores algumas vezes para conversas ao telefone. “O clima está péssimo”, afirmou um dos membros da equipe de Dallagnol. “Ele estava com vontade, mas não o vi chorar” disse outro, em ligação por telefone. Por segurança, a porta do gabinete ficou trancada para evitar visitas inesperadas.
Estiveram reunidos na equipe dentro do gabinete mais de dez pessoas. O deputado só deixou sua sala às 3h da manhã. Na ocasião, Deltan Dallagnol não quis responder a nenhuma pergunta da reportagem.
Cassação – A decisão pela cassação de Dallagnol foi tomada por unanimidade na Corte Eleitoral e se deu após os ministros entenderem que Dallagnol pediu exoneração do seu cargo de procurador-geral da República no Ministério Público Federal para escapar de eventuais punições que poderiam resultar na sua inelegibilidade.
A punição deferida tem como base a Lei da Ficha Limpa, que torna o agora ex-deputado federal inelegível pelos próximos oito anos.
“Constata-se, assim, que o recorrido agiu para fraudar a lei, uma vez que praticou, de forma capciosa e deliberada, uma série de atos para obstar processos administrativos disciplinares contra si e, portanto, elidir a inelegibilidade”, afirmou Gonçalves ao dar o seu voto no processo.