20/05/2023 às 22h23min - Atualizada em 21/05/2023 às 00h00min

As denúncias de fraude no futebol e a falta de regularização das apostas online no Brasil fazem crescer risco do vício em jogos

As denúncias de fraude no futebol e a falta de regularização das apostas online no Brasil fazem crescer risco do vício em jogos - Jornal O Sul

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As denúncias de fraude no futebol e a falta de regularização das apostas online no Brasil durante os últimos dias acenderam o alerta para até que ponto é saudável investir nessas plataformas. Também definido como ludopatia, o vício em apostas é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1980. No Brasil, a estimativa é que de 1% a 1,3% da população tenha problemas patológicos relacionados ao hábito.

Além do prejuízo financeiro, o vício em apostas pode causar “angústia e deficiência” nos casos mais graves, principalmente quando a pessoa abandona a saúde e o bem-estar para focar na compulsão. Segundo a OMS, o problema se agravou de forma “massiva e sem precedentes” com o aumento da oferta de plataformas online voltadas para as “bets” (“apostas”, em inglês).

Especialistas que estudam o assunto afirmam que o vício em apostas deve persistir e até crescer nos próximos anos graças à popularização das plataformas de “bet”. “Isso aumentou massivamente o número de pessoas viciadas, a partir do momento que expôs formas mais abrangentes de acesso às apostas”, diz o psiquiatra Cirilo Tissot, especialista no tratamento de compulsões.

“É um problema incontrolável e que interfere na vida diária, uma situação em que nosso filtro de juízo, controlado pelos lobos frontais, fica alterado”, explica Fernando Gomes, neurocientista e professor no Hospital das Clínicas de São Paulo. Assim como o vício em álcool, nicotina e outras substâncias, a compulsão por apostas também envolve neurônios do sistema dopaminérgico mesolímbico, responsável pelo sentimento de euforia, prazer e excitação do cérebro.

O problema, entretanto, começa quando a pessoa começa a associar a sensação de prazer exclusivamente ao ato de apostar, criando assim um ciclo vicioso: a euforia de vencer; a tristeza ao inevitavelmente perder pela primeira vez; a excitação em apostar de novo por acreditar que vai conseguir “recuperar” o prejuízo; e o desespero quando perde tudo. “É um problema complexo, que envolve algo mascarado como diversão e animação, mas pode destruir pessoas e a saúde da família”, diz Gomes.

A situação é agravada quando o cérebro passa a rejeitar períodos de estabilidade emocional e depender desse ou de outros estímulos para gerar “picos de prazer”, o que gera uma codependência em outras substâncias. Segundo o neurocientista, de 60% a 70% das pessoas com vício em apostas também desenvolvem dependência do álcool. “Em alguns casos, é uma questão de sobrevivência.

Vício em apostas

O perfil principal de pessoas diagnosticadas com ludopatia no Brasil é formado por homens de 30 a 50 anos, competitivos e com emprego fixo, mas baixo poder aquisitivo, ou desempregados. Eles também costumam ter problemas de inserção social e usam as apostas como uma forma de criar vínculos sociais.

No Brasil, uma pesquisa publicada em 2014 por cientistas da USP apontou que 12% da população já havia apostado pelo menos uma vez na vida e que o vício em apostas só ficava atrás do álcool e do cigarro. A suscetibilidade à compulsão, entretanto, pode ser causada por uma série de fatores que vão da predisposição genética, exposição social e interferência psicológica.

“Antes de fazer o diagnóstico, é preciso descartar que o paciente não tem nenhum comportamento maior desencadeado por condição pré-existente”, diz o psiquiatra Cláudio Duarte, que trata pacientes de ludopatia no Hospital Santa Mônica. “Alguns traços de temperamento também se mostram mais sensíveis à compulsão, como aquelas pessoas que só se sentem bem quando buscam uma emoção muito grande.”

O descontrole sobre o ato de apostar é um dos principais traços de quem tem vício em apostas, algo que pode ser medido em três categorias ou níveis comportamentais: o controle total, regulado sem esforço e de forma até inconsciente; o intermediário, que é controlável, mas depende de uma quantidade grande de energia ou psíquica para manter o controle dentro dos parâmetros que você ou a sociedade estabelece; e a perda total de controle, quando um hábito só é interrompido por uma limitação externa, como acabar a comida, o dinheiro ou a droga que é foco do vício.

O transtorno do impulso envolvido no ato de apostar compulsivamente pode ser causado por uma sobreposição de diagnósticos, como bipolaridade, alcoolismo, depressão e até tumor cerebral. Por isso, a principal indicação é que o diagnóstico seja feito por um profissional de saúde mental que possa medir a dimensão do problema.



Fonte: https://www.osul.com.br/as-denuncias-de-fraude-no-futebol-e-a-falta-de-regularizacao-das-apostas-online-no-brasil-fazem-crescer-risco-do-vicio-em-jogos/

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