Enquanto o União Brasil na Câmara dá mostras de falta de alinhamento com o governo, a maior parte dos senadores do partido tem evitado entrar em embate com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dos nove integrantes da bancada do Senado, apenas três são considerados realmente de oposição. Entre os demais, há ex-bolsonaristas que foram contemplados com cargos de segundo escalão na nova gestão e parlamentares agraciados com liberação de emendas ao Orçamento, o que contribui para a boa relação com o Palácio do Planalto.
Nomes como Efraim Filho (PB), líder do União no Senado, Professora Dorinha Seabra (TO), Rodrigo Cunha (AL) e Soraya Thronicke (MS), que em algum momento se alinharam ao bolsonarismo, diminuíram a carga contra Lula e o PT. Efraim, Cunha e Soraya classificam-se como independentes. A senadora, por exemplo, rompeu com o ex-presidente Jair Bolsonaro, tem feito acenos ao governo Lula e participado de reuniões com ministros.
Efraim, por sua vez, indicou uma superintendência dos Correios em seu estado. Já Dorinha venceu uma queda de braço com o senador Irajá Abreu (PSD-TO) e apadrinhou o comando estadual da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Os cargos são vinculados, respectivamente, aos ministérios das Comunicações e da Integração Nacional, ambos comandados pelo União Brasil.
O líder do partido no Senado apoiou Bolsonaro na eleição do ano passado e, quando era deputado federal, fazia oposição aos governos anteriores do PT. Dorinha também apoiou a reeleição do ex-presidente e agora é vice-líder do governo Lula no Congresso.
Além de cargos, o governo tem recorrido às emendas parlamentares para construir uma boa relação com os senadores do partido. Quando o Executivo empenhou de uma vez R$ 712 milhões em emendas, o senador Jayme Campos (União-MT) foi o terceiro mais beneficiado, com R$ 16,8 milhões. Nenhum deputado do partido apareceu nos dez primeiros com as maiores quantias.
Questionado, o senador afirmou que a liberação das emendas não tem relação com apoio ao governo.
“Isso é emenda minha, direito meu, como vai liberar de todo mundo. Isso é impositivo, individual, consagrado na Constituição. Isso é obrigação, o governo liberou para mim e para quem quiser, para todos é obrigado a pagar emenda. Não foi só para mim”, disse Campos.
Apesar de as emendas serem impositivas, o governo dita o ritmo de liberação dos recursos.
Opositores
Na bancada do Senado, apenas Sergio Moro (PR), Alan Rick (AC) e Marcio Bittar (AC) são considerados realmente de oposição.
Na Câmara, por outro lado, o partido tem criado dificuldades para o governo. Na votação da urgência do projeto do novo marco fiscal, por exemplo, o União Brasil deu maioria para aprovar a iniciativa, mas com índice menor que PP e Republicanos, que não têm ministérios. Alguns deputados do União Brasil, como Mendonça Filho (PE) e Kim Kataguiri (SP), chegaram a apresentar um projeto alternativo.
No Senado, Jayme Campos disse que o partido ainda não se reuniu para tratar do assunto, mas avalia que não deve haver grande resistência.
Um episódio que explicitou a boa vontade do partido com o governo foi a eleição para o comando do Senado, que opôs o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN). Apoiadores desse último contavam com a maioria dos votos do União Brasil, mas apenas Moro e Alan Rick declararam publicamente apoio a ele.
Queixas na Câmara
Líder da bancada na Câmara, Elmar Nascimento (BA) tem feito cobranças constantes ao governo. Apesar de ter influência no comando nacional da Codevasf, ele tem se queixado do ritmo de liberação de emendas. Ainda que tenha o controle de uma estrutura importante da máquina pública, Elmar foi preterido na montagem de ministérios de Lula. O PT, de quem é adversário na Bahia, vetou seu nome para o comando da pasta da Integração Nacional.
O restante da bancada na Casa também não se vê representado no governo. Mesmo que dois deputados licenciados sejam ministros, as pastas comandadas por eles — Turismo e Comunicações — são consideradas de menor importância e com a estrutura esvaziada. Isso porque os Correios e a Embratur estão sob a influência do PT.