Iniciada na última terça-feira (23) na Câmara dos Deputados, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as invasões de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) pelo Brasil começou com intensos bate-bocas e com um forte idealismo comandado por deputados bolsonaristas.
Tendo como ponto de partida o próprio presidente da CPI, o deputado federal Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), que é investigado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul por suposto apoio aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, a chapa eleita para presidir a investigação tem na relatoria o ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP), e o deputado Kim Kataguiri (União-SP) na primeira vice-presidência.
Segundo avaliações de especialistas, os deputados bolsonaristas devem usar a CPI para ganhar uma visibilidade não adquirida até o momento. No entanto, tal exibição pode ser de risco já que vários deles são investigados em outras CPI’s.
Além disso, eles devem tentar usar a CPI conseguir um possível apoio do agronegócio tentando evitar uma punição ao 8 de janeiro. No requirimento de abertura da comissão, os deputados afirmam terem sido motivados pelas recentes invasões do movimento em 2023. Já que, de janeiro a abril, o MST realizou 33 invasões de imóveis rurais no País – número recorde desde 2017.
Confrontos
A CPI do MST mal iniciou os trabalhos e já ocorreram os primeiros confrontos entre a base governista e a oposição. Em menos de uma hora, houve trocas de acusações, muito bate-boca e até socos na mesa do plenário. O mais exaltado foi deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), que se irritou com a fala do parlamentar Éder Mauro (PL-BA).
“São poucos os assentados que realmente produzem alguma coisa. Queremos levantar quem está à frente desses atos criminosos, dessa marginalidade que invade terras produtivas”, afirmou Éder.
Assunção não se segurou e começou a gritar contra o colega de Câmara. Ele deu socos na mesa e avisou para todos os presentes que não ficaria calado diante das acusações. “Sou deputado federal. Não sou marginal. Você não vai generalizar”, declarou o deputado.
Éder chegou a reclamar da situação e disse que estava sendo interrompido pelo colega. No meio do bate-boca, Talita Petroni (PSOL-RJ) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP) saíram em defesa do deputado petista e lembraram que Mauro foi investigado por um suposto envolvimento em crime de tortura.
“Quem está acusando é quem apoia tortura”, disseram as deputadas. Porém, o processo foi julgado improcedente pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ou seja, o deputado é inocente.
Ainda durante a comissão, a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) teve o microfone cortado pelo Tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), presidente da CPI do MST, após inserir na sua fala a informação de que ele voltou a ser investigado pela Polícia Federal por conta da suspeita de envolvimento em atos golpistas.
“Acabou de sair a noticia de que o Moraes autoriza a Polícia Federal a retomar a investigação do presidente da CPI do MST pela participação em atos antidemocráticos. Que até agora o senhor estava dizendo que era mentira”, dizia a parlamentar quando, neste momento, teve o áudio interrompido por Zucco.
Logo na sequência, o Tenente-coronel afirma que não iria permitir o que chamou de “ataques pessoais”, e que o assunto levantado pela deputada do PSOL não era pauta da CPI em questão.
“Deputada Sâmia, eu aceitei a questão de ordem do deputado Kim. Nós não vamos permitir ataques pessoais. Sobre essa nota que a senhora falou, já tinha sido publicada. Deputada Sâmia, isso não é pauta dessa CPI”, ressaltou o presidente da Comissão.