Para Vera Eunice, o novo espaço poderá acolher melhor o acervo da escritora, já que o local que abriga atualmente parte dos manuscritos de Carolina não tem condições adequadas para preservar o material e permitir o acesso ao público. “A gente já está lutando faz muitos anos pra poder tirar a Carolina da prisão. Ela está na prisão? Eles falam que é um arquivo, mas está na prisão”, ironiza Vera, sobre o prédio onde atualmente está o acervo, que é uma antiga cadeia.
Uma parte do material está no Museu Afro Brasil, na capital paulista, onde, na avaliação de Vera, está bem conservado. “Está do mesmo jeito que eu cedi. Também aqui é um lugar muito importante, que também poderia ficar. O que eu não quero é que fique em gavetas, nem em guarda-roupa, nem na minha casa”, acrescenta a respeito dos originais.
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) era moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo. Trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo, sendo que deixou manuscritos anotados também em papel de pão.
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960, teve três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países. Carolina de Jesus publicou ainda o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios, ambos em 1963.
Vera Eunice foi a palestrante da primeira mesa da I Feira Literária Afro-Brasileira Carolina Maria de Jesus, do Museu Afro Brasil. O evento ocorre na sede da instituição cultural, no Parque Ibirapuera, zona sul paulistana neste sábado (11) e domingo (12).
Também estão na programação o poeta e dramaturgo Cuti, o escritor Oswaldo de Camargo, a escritora Esmeralda Ribeiro e os quadrinistas May Solimar e Marcelo D’Salete.
Estão presentes com seus catálogos diversas editoras independentes, como a Aziza, Editora Feminas o selo Dandaras, a Livraria Africanidades, a editora Malê, a Quilombhoje e o Selo Elo da Corrente.
Há ainda contação de histórias e discotecagem na área externa do museu.