Uma comitiva de pesquisadores holandeses esteve em visita ao Rio Grande do Sul para avaliar e sugerir melhorias para recuperação do sistema de proteção contra enchentes de Porto Alegre.
Na segunda-feira (10), as sugestões foram apresentadas ao prefeito Sebastião Melo, ao diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss, e a técnicos do departamento, em reunião na sede do Dmae.
A comitiva chegou no dia 5 de maio à capital e foi formada por especialistas que integram o programa Redução de Risco de Desastres (Disaster Risk Reduction – DRRS), com sede em Haia, e vinculado à Agência Empresarial Holandesa (Netherlands Enterprise Agency – RVO).
A solicitação da vinda da comitiva foi feita pela Prefeitura de Porto Alegre, com o objetivo de receber uma assistência técnica ao sistema de prevenção de enchentes. O grupo participou de reuniões com os governos estadual e federal e também pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Conforme o engenheiro e Conselheiro Institucional Sênior da Agência Empresarial Holandesa (RVO), Ben Lamoree, os especialistas procuraram entender, primeiramente, como a cheia aconteceu e quais pontos do sistema falharam, para conseguir pensar os próximos passos e auxiliar a Prefeitura Municipal nas soluções.
O grupo já esteve no Brasil em outra oportunidade no ano passado, quando realizaram um trabalho com a Prefeitura de Recife, que sofreu com as enchentes em 2022. Conforme Lamoree, o programa de colaboração e assistência técnica é oferecido pelo governo da Holanda.
“Assim, trazemos a experiência da Holanda, em que vivemos situações semelhantes, de grandes desastres e grandes perdas, para partilhar, com base nessa experiência, com as autoridades daqui”, afirma o engenheiro.
O especialista explica que a Holanda viveu uma situação semelhante há cerca de 30 anos atrás, quando parte do país foi atingida por uma cheia de grandes proporções. No entanto, foi possível superá-la com algumas medidas, que demoraram tempo para serem implementadas. Nos últimos anos, as cheias passaram a atingir a zona Sul do país. Por isso, Lamoree reforça a importância de dar atenção aos sistemas de proteção.
“Novas situações existem a todo momento. A gestão de água e a proteção contra enchentes é um trabalho que nunca acaba. Um país, uma prefeitura, tem que estar sempre atento (a) a possibilidade de acontecer um desastre como esse e se prevenir bem. E esse é um trabalho que tem que ser feito não só conosco na Holanda, mas aqui também”, enfatiza Lamoree.
Para conter os rios que passaram a transbordar e a criar problemas, o engenheiro explica que foi preciso dar mais espaço para que os rios pudessem descarregar suas águas. “As medidas, fundamentalmente, foram pensadas para criar mais espaço para os rios, que é até o nome do programa”, explica.
Chamado de Room for the River (Espaço para o Rio), o projeto foi pensado para amenizar os efeitos da enchente. “Conseguimos criar áreas em que, durante uma grande cheia, elas possam ser transbordadas, e água pode ser armazenada lá, temporariamente, até passar o pico de cheia. Foram grandes trabalhos de engenharia, que foram feitos ao longo de 15 anos, nos principais rios do nosso país. Vale lembrar que o nosso país é pequeno, é muito menor que o Estado do Rio Grande do Sul, mas os rios são também grandes, como os rios daqui”, comenta.
Lamoree, que circulou com a comitiva em comportas, casas de bombas e diques nas zonas Norte, Sul, Centro e Ilhas para avaliar a estrutura atual, afirma que o primeiro passo é melhorar a prevenção e o sistema de monitoramento para saber quando a cheia vai começar, os picos e quais serão as áreas da cidade que sofrerão com impactos.
“Esse sistema, que não é Porto Alegre sozinha que vai organizar, tem que ser em colaboração com o Estado e com os municípios vizinhos. Mas é uma coisa que pode ser feita”, recomenda.
Em segundo lugar, o engenheiro observa que grande parte da cidade que sofreu com a cheia desta vez, poderia ser protegida com várias intervenções infraestruturais. “É muito cedo para dizer quais são essas intervenções. Primeiro, o enfoque da prefeitura é repor o sistema existente, que foi danificado em muitos pontos, para poder voltar ao nível de proteção que tinha, então, depois é que pode começar a pensar no melhoramento do nível de proteção”, pondera.
A exemplo do que foi feito na Holanda, Lamoree defende o trabalho em conjunto entre todas as partes para encontrar soluções. “É sempre importante começar a sentar na mesma mesa com todas as instituições envolvidas. Com base nisso, começar a fazer estudos e análises das possíveis alternativas”, afirma.
Sobre o financiamento das obras feitas no país holandês, o engenheiro afirma que o setor público, através de várias instituições do governo, foram os líderes do processo. “Obviamente o setor privado tinha um papel importante na preparação de estudos e execução das obras”, destaca.
Conforme a Prefeitura de Porto Alegre, o relatório final será enviado ao Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) em 20 dias. As ações foram divididas em quatro fases: imediatas (até setembro de 2024), de curto prazo (até final de 2025), médio prazo (até final de 2026) e longo prazo (até 2030).
“Após identificar fragilidades e áreas sem proteção, o relatório final trará sugestões para melhorar a estrutura atual e possibilitar a troca de tecnologias, tornando a cidade mais segura em casos de inundações futuras. A Prefeitura de Porto Alegre, por meio do Dmae, analisará as sugestões do relatório final e pretende ampliar o escopo do termo de cooperação para discutir planos de redução de riscos de alagamentos e de urbanização da região das ilhas”, reforçam.
Créditos do texto/imagem: Portal ABC Mais.