Ao colocar um exemplar da obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, em uma simples caixa de papelão, a professora de literatura Patrícia Amaral deposita a esperança na reconstrução de uma cidade ainda abalada pela tragédia.
“Eu sei o quanto roupas e mantimentos são importantes para quem perdeu tudo, mas também é preciso arrecadar livros”, afirma a professora. “Porque uma escola sem livros, com objetos palpáveis, é uma escola sem alma”.
Com o lema ler é reconstruir, o grupo Ponto e Vírgula está se empenhando em garantir doações de livros para auxiliar as bibliotecas públicas que perderam o acervo durante as cheias que atingiram Canoas no mês passado.
A ideia não poderia ser mais simples e, ao mesmo tempo, eficaz: por meio de caixas colocadas em pontos estratégicos da cidade, as voluntárias arrecadam livros que vão parar nas estantes das instituições que acabaram inundadas.
Também voluntária, a fisioterapeuta e, nas horas vagas, leitora voraz Thais Hardt explica que a iniciativa partiu de um grupo de amigas impactado com a tragédia, mas que observou poder atuar em outro fronte na reconstrução de Canoas.
“A gente tem esse carinho pelo livro que foi incentivado desde criança”, observa. “Então imaginamos que isso não pode ser perdido e começamos a nos esforçar para arrecadar o máximo de livros para aquelas 40 escolas que acabaram debaixo d’água no mês passado”.
A escritora Bruna Tessuto afirma que a ideia não poderia ser mais acertada e garantiu a participação na iniciativa de outros escritores que também têm bons livros em casa que poderão ser doados para posterior leitura.
“Há quem perdeu os livros que tinha em casa, mas as bibliotecas são pontos que pedem urgência da reconstrução, porque é o lugar onde se formam novos leitores e, com isso, novas ideias”.
Já a estudante de jornalismo Júlia Schneider reforça que a iniciativa não é voltada ao descarte e somente livros em bom estado serão aceitos para serem usados pelos estudantes posteriormente.
“A ideia posteriormente é ajudar também os leitores que perderam suas coleções”, avisa. “Foi uma amiga nossa que é uma das idealizadoras do projeto, a Isabel Pozzo, que perdeu ela mesma a coleção e deu ideia que serviu de inspiração para todas nós”.
Proprietária da Pandorga Livros, um dos principais pontos de coleta criados pelo grupo, a veterana Lucia Barcelos lembra que os livros mexem com sentimentos e momentos de cada um. Muitas perdas, nesse sentido, não serão reparadas, já que se tratavam de obras colecionadas durante uma vida e com enorme valor afetivo.
“Houve aqueles leitores que perderam uma edição especialmente autografada e também aqueles que acabaram sem a coleção que criaram, com muito esforço, ao longo de uma vida”, diz. “Essa iniciativa é importante por acolher e abraçar a cultura de uma maneira muito especial”.
Fomeria – Rua Dr. Barcelos, 230 – Centro, Canoas;
Motorhub – Rua Gurupi, 511 – Igara, Canoas;
Livraria Cultural – R. Muck, 331 – Centro, Canoas;
Livraria Pandorga – Rua Frederico Guilherme Ludwig, 370 – Centro, Canoas;
Estúdio Edmara Hoff – Rua General Salustiano, 391 – Marechal Rondon, Canoas;
Darkness Studio – Rua Coronel Vicente, 429. Sala 305. – Centro, Canoas.
Há pontos de coleta para o público interno do Colégio La Salle Canoas; Colégio Maria Auxiliadora; Colégio Leonardo Da Vinci Gama.
Quem preferir, pode colaborar na vaquinha virtual que pode ser acessada a qualquer momento no link https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ponto-e-virgula-ler-e-reconstruir.
Créditos do texto/imagem: Portal ABC Mais.