Após 53 dias da maior enchente da história de Canoas, moradores relatam o cenário de devastação revivido todos os dias diante das montanhas de entulhos espalhadas pelos bairros. Ao circular por diferentes ruas do lado oeste do município, as vias e calçadas contam, por meio pilhas de escombros, as milhares de histórias dos canoenses atingidos pela inundação.
Morador da Rua Florianópolis, no Mathias Velho, Joel Nunes, 40 anos, questiona a demora da limpeza das áreas afetadas. Segundo o educador, há um “apagão” de informações e ações efetivas.
“Moro próximo da parada 18. Infelizmente, não se vê recolhimento por parte da Prefeitura. Até o momento, o que tenho visto são ações individuais. Alguns vizinhos contrataram caminhões particulares para fazer a remoção. Não basta a dor de ter perdido tudo, o sofrimento tem sido prolongado pela falta gestão”, avalia.
Na tentativa de amenizar os efeitos no trânsito, a população tem acumulado os entulhos nas calçadas, que passaram a ficar intransitáveis em diversos trechos. “Está perigoso. As pessoas precisam andar pela faixa.
A contratação de empresas pelo custo elevado não reflete a realidade diária das ruas. Como cidadão me sinto lesado. Não consigo entender por que estamos passando por tudo isso. No meu entendimento, não há justificativa para tanta demora”, afirma.
Nunes perdeu quase tudo na enchente, ele e a família ficaram 40 dias fora da residência. O secretário municipal de Serviços Urbanos, Lucas Lacerda, reconhece a necessidade de ampliação e celeridade do processo de remoção de entulhos e limpeza das ruas.
“Estamos seguindo um cronograma, ou seja, as vias estão sendo limpas de formar linear. O serviço é realizado por quadra. Na Rua Florianópolis os trabalhos começaram próximo à Avenida Guilherme Schell. Temos cerca de quatro quadras finalizadas. As equipes não chegaram na altura da parada 18”, frisa Lacerda.
Segundo o secretário, partir desta semana, os trabalhos serão intensificados. Está prevista a contratação de 240 caminhões, de 120 retroescavadeiras e de 1.200 pessoas.
“Estamos em processo de homologação. Também estamos finalizando a contratação de contêineres para colocar nas ruas que já receberam a limpeza. A ideia é que novos entulhos sejam despejados nas caçambas.”
Já a comerciante Adriana Ribeiro, 54 anos, disse que a limpeza tem um impacto psicológico muito profundo. “Enquanto o lixo estiver todo acumulado na frente de casa, a gente não vai superar a tragédia.”
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos divulgou a retirada de 108.432 metros cúbicos de resíduos de casas atingidas pelas enchentes, o que corresponde a mais de 75 quilômetros.
Atualmente, a operação de limpeza envolve mais de 200 pessoas e conta com 40 retroescavadeiras, 120 caminhões caçamba basculantes, dez caminhões garra, duas motoniveladoras e quatro pás carregadeiras.
O secretário explica que os resíduos são levados para os locais de transbordos e depois são transferidos para o destino final, que fica em um aterro de Gravataí. “Foi a melhor opção encontrada. O processo está dentro das normas recomendadas”, afirma Lacerda.
Na última quinta-feira (20), uma equipe do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) realizou uma vistoria no aterro de Gravataí, que está recebendo materiais oriundos das enchentes em Porto Alegre e Canoas. O local está recebendo diariamente cerca de 90 caminhões de entulhos da capital e oito caminhões provenientes de Canoas.
“A situação é um pouco preocupante, pois, pela avaliação dos técnicos, o material não está sendo triado de forma adequada, até porque há poucas pessoas trabalhando no local”, explica a procuradora de Justiça Ana Maria Moreira Marchesan. A procuradora informou que, depois do parecer técnico que será elaborado pela equipe do GAT serão realizadas reuniões para a adoção de algumas medidas com o objetivo de garantir a destinação adequada dos resíduos.
Créditos do texto/imagem: Portal ABC Mais.