A necessidade de unir esforços, buscar recursos e ações efetivas de reconstrução e para ampliarmos o sistema de proteção contra cheias foi o foco do seminário “Desafio da Região Metropolitana: O que fazer após a maior enchente da história do Rio Grande do Sul”, promovido pelo Grupo Sinos, na tarde desta segunda-feira (8).
O evento, realizado no auditório do prédio 14 da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, reuniu lideranças políticas, diversas autoridades federais, estaduais, municipais e técnicos de importantes instituições, que trouxeram um olhar sobre as inundações que assolaram o Estado em maio e sugestões para evitar que tragédias semelhantes se repitam no futuro.
“Passado aquilo que de mais urgente tínhamos, que era salvar vidas, precisamos voltar as atenções para pensar no que fazer para que uma coisa assim não volte mais a acontecer”, frisou o fundador e presidente emérito do Grupo Sinos, Mario Gusmão, em sua saudação inicial.
Em seguida, recepcionando os participantes, o reitor da Ulbra, Thomas Heimann, citou que a universidade recebeu mais de 8 mil pessoas e 2 mil animais desabrigados em função das enchentes, não hesitando em colaborar no difícil momento vivido pelo Estado, e destacou o desejo de que as ideias trazidas, de fato, sejam aproveitadas. “Que as propostas se tornem realidade o quanto antes”.
O presidente da Assembleia Legislativa do Estado, deputado Adolfo Brito, reforçou que os políticos seguirão acompanhando e buscando a recuperação social e econômica do Rio Grande do Sul.
O secretário-executivo do Ministério de Apoio à Reconstrução do RS, Maneco Hassen, lembrou as medidas já criadas para ajudar as famílias atingidas, como o Auxílio Reconstrução, e disse que nos próximos dias devem ser liberados recursos para a reconstrução de postos de saúde e escolas.
O deputado federal, Luiz Carlos Busato, que representou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, recordou que, quando prefeito de Canoas, levou quatro projetos preventivos ao governo federal, mas que dois estão em andamento atualmente.
Finalizando o bloco de abertura, o governador Eduardo Leite ressaltou que há projetos de proteção contra as cheias aprovados, aguardando recursos, e estimou um investimento de R$ 4 bilhões para colocá-los em prática. “Ainda precisamos fazer a revisão das bacias do Sinos, Jacuí e do Caí. Estamos prestes a anunciar o programa de desassoreamento de rios, em parceria com os municípios. Para consolidar isso, é preciso uma visão técnica, por isso, criamos um comitê para tratar dessa pauta.”
Logo após as explanações, foi entregue aos representantes dos governos estadual e federal um caderno de quase 100 páginas, batizado de “Pacto contra enchentes na Grande Porto Alegre”. O documento apresenta as contribuições de prefeituras e órgãos técnicos da região, a fim de colaborar com a adoção urgente de medidas que aumentem a proteção da área metropolitana, especialmente contra novas possíveis cheias.
No total, 11 painelistas participaram do evento, trazendo suas propostas: os prefeitos de Porto Alegre, Sebastião Melo; Canoas, Jairo Jorge; São Leopoldo, Ary Vanazzi; Gravataí, Luiz Zaffalon, e a prefeita de Novo Hamburgo, Fatima Daudt; a presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS (CAU/RS), Andréa Ilha; o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Joel Goldenfum; a presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea/RS), Nanci Walter; o presidente da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul; Walter Lídio Nunes; a presidente do Comitesinos, Viviane Feijó; e o superintendente da Metroplan, Francisco Horbe. Além disso, o superintendente da Caixa Econômica Federal, Renato Scalabrin, também fez sua manifestação.
O seminário foi organizado com realização do Grupo Sinos, apoio da Ulbra e da Fiergs, e patrocínio da Caixa, Assembleia Legislativa, BRDE e Corsan. A cidade de Canoas foi escolhida para sediar o evento como forma de solidariedade ao município que mais teve habitantes diretamente impactados pela tragédia de maio: 148.750 mil no total, segundo a prefeitura.
Unanimidade tanto os depoimentos das autoridades políticas como dos técnicos de órgãos representados no evento, os participantes enfatizaram a importância do seminário para debater as ações a nível regional, visto que intervenções apenas nas áreas dos próprios municípios podem somente transferir o problema para uma cidade vizinha. Para tanto, manifestação trazida por vários painelistas, a ideia de constituir uma entidade metropolitana, que fique responsável pelo recebimento de projetos, gestão de iniciativas e recursos financeiros, foi levantada em diversas oportunidades.
Além disso, os gestores municipais trouxeram dados de suas cidades, as ações feitas durante o acolhimento a atingidos, auxílios destinados e o que já foi feito no período pós-cheias, como: limpeza de ruas e prédios públicos, abastecimento de água e destinação de verbas para áreas diversas.
De maneira geral, autoridades e técnicos, também explanaram sobre a necessidade da vinda de recursos federais para a reconstrução das cidades e para o reforço do sistema de proteção contra cheias, cujas maiores intervenções propostas tratam sobre elevação da altura de diques, modernização de casas de bombas, desassoreamento e dragagem de arroios e rios.
Outro destaque foi a observação de grande parte dos painelistas de que os eventos estão mais frequentes – foram, pelo menos, três catástrofes com mortes e milhares de atingidos, de setembro de 2023 até maio de 2024, no Rio Grande do Sul – e podem ocorrer com mais intensidade, causando mais problemas aos municípios, se não forem tomadas providências urgentes. A preocupação com o meio ambiente e as pautas sustentáveis também foi levantada.
Ao final, a organização lembrou que prefeituras e instituições que quiserem colaborar com mais sugestões para o documento “Pacto contra enchentes na Grande Porto Alegre”, podem fazê-lo, em até sete dias, entregando suas contribuições para o Grupo Sinos, que juntará às propostas já colocadas no caderno.
O seminário “Desafio da Região Metropolitana: O que fazer após a maior enchente da história do Rio Grande do Sul” teve inscrição gratuita, com o convite de que cada participante levasse um quilo de alimento para doação. Mais de 150 quilos de mantimentos foram arrecadados e serão destinados ao Banco de Alimentos da Região do Calçado (Barc), que tem sede em Novo Hamburgo.
Créditos do texto/imagem: Portal ABC Mais.