Não atenda chamadas de vídeo de desconhecidos. Pode ser golpe. O conselho é unânime entre especialistas em segurança. Estelionatários vêm se passando por funcionários de banco para capturar a imagem das pessoas no celular. As selfies serão usadas em sistemas de reconhecimento facial, fabricação de documentos falsos e até extorsões.
O golpe se alastra de forma incontrolável. Ele tem um roteiro. Começa com um telefonema convencional, que simula ser da central de relacionamento de alguma instituição financeira. Ao atender, a pessoa é informada sobre movimentação fora dos padrões, geralmente de elevada quantia, feita em nome dela, e é perguntada se reconhece a transação. A intenção é que se assuste e mantenha o contato para contestar. É instigada a digitar um número no teclado do celular para ser direcionada a um atendente.
O falso funcionário do banco apresenta o problema e diz que vai enviar um protocolo por WhatsApp, que é por onde, conforme frisa, deve continuar o acompanhamento. Em questão de segundos, assim que chega o tal comunicado, vem a ligação por vídeo. Se a pessoa atender, automaticamente estará se colocando como vítima de golpe. A imagem dela será usada em fraudes.
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O foco é conseguir a selfie, mas no transcorrer do contato, dependendo da receptividade da vítima, o estelionatário pode tentar convencê-la a fornecer dados pessoais e até senhas. Não há estatística sobre a incidência do golpe no Estado, porque a maioria não faz boletim de ocorrência. E mesmo quando há o registro, vai para a vala comum dos casos de estelionato, que abrange modalidades infindáveis de crimes.
Um comerciante de Novo Hamburgo de 47 anos, que vem recebendo ligações quase todos os dias dos golpistas, de diferentes números, resolveu gravar uma delas. “A gente ‘detequitamos’ recentemente um acesso a sua conta que foge totalmente do seu perfil de ordem de utilização”, diz o falsário, que se identifica como gerente de banco.
O criminoso simula procedimentos bancários até dizer que o serviço terá sequência pelo WhatsApp, para onde enviará um protocolo de atendimento. Fala que foi gerado boletim de ocorrência na Polícia e reitera que deve continuar a conversa pelo whats.
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“O cara parece estar falando da cadeia. Deixei prosseguir a conversa, recebi o tal protocolo enganoso e fui surpreendido com a chamada de vídeo. Mesmo que você desconfie da vigarice, pode acabar atendendo, no impulso, mesmo que sem querer.” O comerciante não atendeu e decidiu ligar de volta, por áudio do WhatsApp.
“O trapaceiro atendeu e disse que só podia prestar o serviço por chamada de vídeo, sob argumento de que eram as regras do banco. Quando perguntei de onde ele estava aplicando o golpe, o patife desligou e me bloqueou.”
O hamburguense destaca que os telefonemas não param. “É um inferno. Eles têm tempo, celular e Internet nos presídios.” Os DDDs são de diferentes estados. As quadrilhas tentam com milhares de pessoas para ver se conseguem fisgar alguém. Um pequeno número, geralmente de idosos menos familiarizados com sistemas automatizados de atendimento, acaba caindo no golpe.
As quadrilhas usam o nome de vários bancos. Uma delas, por meio de linha com o DDD 67, do Mato Grosso do Sul, tem no perfil do WhatsApp a foto do gerente de uma agência do Sicredi do interior do Espírito Santo e tenta captar vítimas no Rio Grande do Sul. A cooperativa, assim como outras instituições financeiras, vêm emitindo alertas e orientações aos clientes sobre os golpes.
“As pessoas precisam atentar que, sempre quando o Sicredi fizer contato ou elas entrarem em contato com o Sicredi, deve ser pelo número verificado, para ser de forma segura. Não que nossos gerentes não possam marcar uma reunião on-line de videochamada com um associado, mas daí não é do WhatsApp pessoal do colaborador”, expõe a coordenadora de Marketing e Experiência do Associado da instituição, Anneliese Seibt Altreider.
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Ela observa que, mais que buscar fotos de gerentes na Internet para se passarem por eles, os golpistas chegam a mascarar o número do telefone que usam. “Pegam o número de alguma agência, do WhatsApp ou do 0800 do banco, e configuram para que apareça este na hora da ligação. Se a pessoa tem o número salvo como do banco, pode acreditar.”
A coordenadora orienta as pessoas para que não compartilhem dados bancários, número de cartão e senhas ou tokens, quando receberem ligações ou SMS sobre transações pendentes ou suspeitas. “O importante é que o associado verifique se o contato é feito pelo WhatsApp oficial, que não possui foto do gerente, e sim o logo do Sicredi com o símbolo verificado”, reitera.
Diante da onda de golpes, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) fez um comunicado recente sobre precauções. “Sempre tenha em mente: os bancos nunca ligam e pedem para que clientes façam estorno de transação, transferências, Pix ou qualquer tipo de pagamento para supostamente regularizar problemas na conta”, ressalta o diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da entidade, José Gomes.
Ao frisar que nunca deve-se atender uma videochamada de número desconhecido, o delegado João Vitor Herédia sintetiza um raciocínio básico para evitar problemas: “sempre desconfiar”. Titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Herédia alerta que as quadrilhas podem usar a imagem da vítima em sites e aplicativos que exigem biometria facial, por exemplo.
“É essencial que as pessoas suspeitem sempre que receberem qualquer tipo de ligação ou mensagem, dizendo-se do banco. Que busquem a confirmação de forma pessoal, com gerente da conta ou algum contato de confiança.”
Ele salienta que todo contato que pedir senha é golpe. “Não deve-se seguir qualquer tipo de orientação, não clicar em nenhum tipo de link e não passar código nem mensagem para pessoas das quais não se sabe a credibilidade.”
Em casos raros, mas já registrados, os estelionatários podem fazer montagem da selfie com situações de pedofilia e extorquir a pessoa para não divulgar. “Podem utilizar a imagem da pessoa para diversos fins”, reforça o delegado.
Créditos do texto/imagem: Portal ABC Mais.