Vestidos de jaleco branco, em posse de violões e uma pasta com músicas. Quinzenalmente, as quartas-feiras ao meio-dia, voluntários deixam suas profissões de lado para fazer parte da Trupe São Miguel.
De quarto em quarto do Hospital Arcanjo São Miguel (HASM), tocam e cantam canções, dos mais variados ritmos. Do sertanejo ao bailão, do MPB ao pop. O estilo pode ser escolhido, inclusive, pelo paciente.
O caminho traçado dentro da casa de saúde inicia na UTI e, após, segue para as unidades de internação. Ao final, termina na emergência, na linha do AVC. Em torno de uma hora é dedicada.
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O projeto tem semelhanças com outros que já existem há anos, como Médicos da Alegria. Mas o objetivo é o mesmo: levar amor e esperança para aqueles que aguardam receber alta ou que, muitas vezes, estão há mais tempo internados.
A Trupe nasceu de uma ideia da nutricionista clínica do HASM, Allana Frizzo, em dezembro de 2023. Mas foi em março que as primeiras apresentações ocorreram.
“Surgiu a partir de experiências, queremos ter um atendimento mais humanizado para os pacientes. Então, criamos o grupo buscando algo que pudesse trazer mais alegria, principalmente para aqueles pacientes de longa permanência ou que estão em estado mais grave e precisam de mais atenção”, conta.
Com amigos pessoais que cantam e tocam violão, a trupe foi formada. Além de Allana, integram a equipe os irmãos Iago e Iasmin Moschen, profissional de Logística e advogada; Matheus Drumm, cantor e baterista; Maria Laura Berberich, estudante de Nutrição; e Bruno Tissot, administrador.
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“A gente já atende um público que não quer estar aqui, que já está numa situação de sofrimento. Então, que a gente consiga diminuir isso, trazer uma forma de carinho”, coloca a nutricionista.
A escolha por jalecos também não foi em vão por parte dos integrantes da trupe. “A gente não queria ser igual, queria ser diferente. E a gente sabe que o jaleco muitas vezes é um símbolo de sofrimento. Trouxemos a ideia de colocar coisinhas coloridas, para justamente mostrar que não é só sofrimento, que tem alegria, amor, e que o profissional da saúde também está junto na parte boa”, revela a nutricionista do hospital.
Em quase seis meses de projeto, diversos feedbacks foram dados por pacientes e por familiares. “A gente recebeu convite inclusive para tocar em velórios de paciente que faleceu, foi feito um pedido de casamento aqui dentro, aniversário. E só retorno positivo”, frisa Allana.
“Muitas famílias falam que no período que estavam aqui, nossa passagem foi muito importante para a pessoa que estava internada, até com a questão da melhora mesmo”, complementa a integrante Iasmin.
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A música e as apresentações refletem no auxílio da evolução do paciente. “O ânimo melhora muito, porque ele fica mais colaborativo em seguir o tratamento. Porque muitas vezes aquele de longa permanência começa a desanimar, já não quer mais medicação, conversar com o profissional. Então ajuda muito no psicológico”, reitera.
Os irmãos Iago e Iasmin entraram juntos na trupe. “A gente meio que embarcou sem saber como seria e depois que começou sentimos a importância e a lição de vida que temos cada vez que viemos”, coloca Iago.
Para Iasmin é essencial fazer voluntariado. “Devolver um pouco para a sociedade e universo aquilo que queremos receber. E vir aqui engrandece nossa alma.
É um misto de gratidão com lição, porque temos o privilégio de tantas coisas, da saúde, corpo, enfim, então, poder retribuir de alguma forma deixa a gente com o coração leve. Saio toda vez diferente de quando eu entro. Parece algo fora do físico”, complementa Iago.
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Ele relembra uma história que o marcou. “Um paciente que estava internado há muito tempo e até pode voltar para sua cidade depois de muitos anos, e acredito que era aniversário, mas fizemos uma homenagem, colocaram umas fotos, e foi um momento só para ele. Foi muito especial ver ele feliz, tocamos só Legião Urbana e deu uma lição na gente, do jeitinho dele deu um discurso e que foi um tapa na cara e lição de vida.
Zadete Pereira, de 72 anos, achou muito bonita a apresentação. “Não sabia que tinha, foi a primeira vez que vi. Mudou meu dia, ficou mais alegre. Com mais força para continuar”, conta.
Ela, que gosta de músicas de bailão, recebeu um ritmo especial no quarto que estava internada. Questionada se gosta e quer ir num bailão, diz que “claro, quero muito, só conseguir caminhar direito, que eu vou”, diz animada.
Créditos do texto/imagem: Portal ABC Mais.