WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Donald Trump intensificou os ataques contra Kamala Harris, chamando a adversária de comunista e afirmando que o plano de governo de sua campanha é o mesmo do ditador venezuelano Nicolás Maduro.
As declarações ocorrem em uma entrevista a jornalistas nesta quinta (15), na véspera de a democrata fazer um comício na Carolina do Norte em que ela deve tratar de suas propostas econômicas.
Ao lado do púlpito do qual ele falava, em sua residência em Nova Jersey, foi montada uma mesa com diversos produtos alimentícios, como bacon e cereais. Em tom monótono, Trump leu uma longa lista de aumentos de preços durante o governo Biden,
"Agora Kamala quer impor controles de preço comunistas", disse, em referência à proposta que deve ser apresentada pela adversária de banir aumentos abusivos. "Isso gera racionamento, fome."
"Ela está concorrendo usando um plano do Maduro. É alvo vindo da Venezuela, da União Soviética. Esse anúncio é um reconhecimento que suas políticas econômicas falharam e causaram uma catástrofe para o país e o mundo", completou.
Trump disse que é difícil para ele acreditar que ela seja sua adversária, considerando que "há seis semanas, ela era considerada uma vice fracassada". "Agora todas essas pessoas estão falando como se ela fosse uma Margaret Thatcher de esquerda. Ela não é inteligente e não acho que ame nosso país."
Esta foi a segunda coletiva de Trump em uma semana. Pela primeira vez, o republicano leu seu discurso de folhas de papel que tinha à mão. Isso, no entanto, não impediu que ele saísse do script algumas vezes, misturando frases sobre guerra no exterior com inflação.
O detalhe chama a atenção em meio à repercussão negativa das linhas de ataque testadas até agora por Trump contra Kamala, como questionar sua raça, chamá-la de incompetente, e especular que sua candidatura é inconstitucional porque Joe Biden venceu as primárias democratas. Ao mesmo tempo, a subida da vice-presidente nas pesquisas tem pressionado a campanha do ex-presidente.
Mesmo entre republicanos, a visão é de que Trump precisa manter o foco nas críticas que já vinha fazendo às políticas imigratórias e econômicas do atual governo, do qual Kamala é a vice-presidente. Nikki Haley, que disputou a nomeação republicana com o empresário e acabou endossando-o, disse nesta semana que o ex-presidente precisa "parar de reclamar".
Questionado sobre isso nesta quinta, Trump afirmou que acredita que sua campanha está indo muito bem e que "tocou em um nervo". "Temos que definir nossa oponente como comunista, socialista, alguém que vai destruir nosso país", afirmou.
"Eu tenho direito a fazer ataques pessoais. Não tenho muito respeito por ela, por sua inteligência, acho que ela será uma presidente terrível. Ela me ataca pessoalmente também, ela me chamou de estranho", completou.
Apesar de negar problemas em sua estratégia, o discurso lido por Trump tocou justamente os pontos-chave que os críticos vinham recomendando. Além de ir além na caracterização de Kamala como uma radical de esquerda de San Francisco, acusando-a agora de comunista e socialista, o empresário culpou-a pela entrada de milhões de imigrantes na fronteira durante o governo Biden e pela disparada da inflação.
Essas declarações não são novas, mas Trump sofisticou os ataques. Ele relembrou, por exemplo, que Kamala foi essencial na aprovação de pacotes de Biden no Congresso com o direito a voto que tem como vice-presidente no Senado. Segundo o republicano, são essas legislações, como a Lei para Redução da Inflação, as responsáveis pela disparada dos preços.
Trump afirmou também que as vagas criadas nos últimos anos pelo aquecido mercado de trabalho americano foram ocupadas por imigrantes ilegais. "A maior parte, 100%. Na verdade mais do que 100%", disse ele, incorretamente.
Como a Folha mostrou, o fluxo recente de imigração foi importante para preencher vagas de trabalho nos EUA que do contrário ficariam em aberto. Até 2034, a expansão do mercado de trabalho via absorção de mão de obra estrangeira vai adicionar US$ 7 trilhões à economia dos EUA e US$ 1 trilhão às receitas do governo federal, de acordo com relatório elaborado pelo Departamento de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) divulgado em fevereiro.
O republicano, no entanto, disse que a entrada de imigrantes vai provocar a falência do sistema de Previdência Social dos EUA. "Ela quer eliminar a detenção de imigrantes ilegais para eles estuprarem e matarem nossa população", afirmou.
"Vocês já estão vivendo o pesadelo do que seria um governo dela agora. Não é preciso imaginar. Vamos ter uma crise como a de 1929", disse.
Na contramão do que dizem as pesquisas, o republicano disse que está à frente de Kamala, ao mesmo tempo em que relembrou que costuma ir pior nos levantamentos do que no resultado de fato da eleição. "Isso aconteceu em 2016 porque as pessoas tinham vergonha de falar que iam votar em mim. Não sei se é uma coisa boa", disse, bem-humorado.
O empresário também repetiu os ataques no front energético, culpando os incentivos à transição energética pelo aumento de preços e pela morte de pássaros.
"Os moinhos de energia eólica estão matando os pássaros. Você vê milhares de pássaros mortos. Estão acabando com nossas paisagens. Você não pode matar uma águia", tergiversou.
Se eleito, ele prometeu retomar a exploração de petróleo. Nesta quinta, ele enfatizou ser necessário duplicar a produção energética americana para que o país possa ser competitivo no setor de inteligência artificial. "Eu também quero água e ar limpos, mas você não pode destruir um país para isso. Você precisa de combustível fóssil e nuclear."
Créditos: Portal R7.