SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O ex-médico presidencial Federico Saavedra confirmou que tratou um hematoma no olho da ex-primeira-dama Fabiola Yañez, mas disse não saber se ela era vítima de violência doméstica. Ele prestou depoimento ao Ministério Público argentino.
Federico Saavedra contou que recebeu uma mensagem de Fabiola em 26 de junho de 2021. Ela pedia orientações para tratar um olho roxo. Federico era responsável pela saúde médica do então presidente Alberto Fernández e de sua família.
Ele não a visitou imediatamente porque estava se recuperando de um quadro de covid-19, mas receitou alguns remédios, relatou. No dia 30, ele foi até a Quinta de Olivos, residência oficial do presidente, para ver o machucado, que ele descreveu como uma mancha no olho direito, que cobria a pálpebra inferior e parte da maçã do rosto.
Fernández acompanhou a consulta e casal disse que o hematoma foi causado por um "golpe involuntário na cama", segundo Saavedra. Ele disse ao MP não se lembrar qual dos dois contou o ocorrido, mas que não houve nenhum desentendimento a respeito.
"Perguntamos a ela o que havia acontecido, nos disseram que foi uma pancada involuntária acidental na cama, não me lembro se ela ou ele disse. Foi uma história natural, parecia sincera, não houve polêmica, não detectei nada de estranho, foi um contexto extremamente amigável", disse Federico Saavedra.
Saavedra trabalhava como médico de Fernández desde 2008 e disse que mantinha uma relação profissional com o ex-presidente. Fabiola Yañez não o escolheu como seu médico principal, segundo o site argentino TN, e realizou consultas individualmente sem avisar a Unidade Médica Presidencial.
Defesa de Fabiola Yañez diz que "as palavras do médico coincidem em tudo com as declarações de Fabiola em seu depoimento, inclusive o local onde a examinou". O depoimento era considerado crucial porque Saavedra teria atendido Fabiola no episódio mais grave de violência física.
A defesa de Fernánez diz que o roxo no olho de Fabiola Yañez é fruto de um tratamento estético. Na próxima terça (10), a esteticista da ex-primeira-dama, indicada pela acusação, deve testemunhar que as marcas pelo corpo da sua cliente eram por agressões físicas.
O QUE DIZ FABIOLA YAÑEZ
A ex-primeira-dama descreveu as agressões à Justiça. "O soco no olho aconteceu na cama em Olivos. Tínhamos discutido muito, como já era habitual e, para acabar com a discussão, ele me bateu, virando do seu lado da cama para o meu com um soco terrível. Gritei: 'o que você me fez?', mas ele não disse nada. Virou-se e, com esse soco, terminou a discussão".
"Chamamos o Dr. Federico Saavedra, chefe da Unidade Médica Presidencial, quem me deu glóbulos de arnica. Fui obrigada a não sair de casa para que ninguém me visse", declarou ela. Fabiola já estava grávida do filho Francisco, que nasceu em abril de 2022, penúltimo ano do mandato presidencial de Fernández. A gravidez não impediu que os episódios de violência física continuassem.
A DERROCADA DE FERNÁNDEZ
O ex-presidente da Argentina Alberto Fernández, de 65 anos, está sendo acusado de violência doméstica contra a ex-primeira-dama Fabiola Yañez, de 45 anos. Os dois foram casados durante todo o mandato dele.
Denúncia veio à tona enquanto Justiça Federal examinava celular de ex-secretária de Fernández. Os investigadores analisavam o aparelho de María Cantero, em um caso sobre suposta corrupção no governo do ex-presidente, quando encontraram o conteúdo. Eram fotos e relatos de agressões contra a ex-primeira-dama, que mais tarde seriam vazadas à imprensa. As imagens mostram, por exemplo, o olho roxo e o braço com hematomas.
Fabiola Yañez formalizou a denúncia contra ex-marido apenas no dia 6 de agosto. A jornalista confirmou as agressões em uma audiência virtual com o mesmo juiz que já vinha investigando o ex-presidente. A Justiça determinou então medidas de restrição e proteção para Fabiola. Depois, ela ampliou as denúncias e disse que foi obrigada a fazer um aborto.
Depoimento presencial foi feito pela primeira vez na terça-feira (13). Fabiola Yañez chegou ao consulado argentino em Madri (Espanha), onde vive atualmente, para depor contra o ex-marido. Ela reforçou as acusações de agressão, assédio e ameaças. Em uma dessas agressões, diz ela, Fernández a teria agarrado violentamente pelo pescoço. As surras teriam ocorrido no Palácio de Olivos, sede oficial da Presidência.
Defesa de Fernández negou as agressões e afirmou que os hematomas foram causados por tratamento estético. "Estou sendo acusado de algo que não fiz. Não bati em Fabiola. Nunca bati em mulher. Não estou aqui para alimentar toda a sujeira midiática que está sendo gerada. O que vou fazer é esperar, ir à Justiça e deixar a Justiça resolver", disse o ex-mandatário em entrevista ao jornal espanhol El País.
O ex-presidente foi formalmente acusado pela Justiça. Na denúncia oferecida, Fernández é acusado de lesões graves e duplamente agravadas e "ameaças coercitivas" contra a ex-primeira-dama. O promotor pediu ainda o depoimento do médico presidencial, Federico Saavedra, da ex-secretária María Cantero, e de outras quatro testemunhas.
SUSPEITO DE CORRUPÇÃO E CONFUSÃO EM RESTAURANTE
Fernández é investigado por corrupção em sua gestão. Ele foi denunciado em fevereiro pelo Ministério Público após realizar a contratação irregular de seguros para funcionários públicos. A suspeita é que a contratação foi utilizada para desviar fundos. Fernández novamente negou irregularidades.
As suspeitas ganharam tração com um decreto de 2021 que obrigava o Estado a assinar contratos com uma empresa, a Nación Seguros, ligada ao marido da secretária particular de Fernández, María Cantero. Em abril, a Justiça também determinou o bloqueio de bens e a quebra do sigilo bancário do peronista.
Em 2018, quando era candidato à presidência, Fernández empurrou um homem que falava algo em sua direção no restaurante La Cabaña, em Puerto Madero. Ele estava sentado almoçando com Fabiola, quando se levantou e agrediu o homem não identificado.
Créditos: Portal R7.