O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse durante um discurso no evento evangélico Marcha para Jesus, em Curitiba (PR), que só Deus vai tirá-lo da cadeira no Palácio do Planalto. Bolsonaro já tinha dito a mesma coisa no ano passado, levantando discussões sobre supostas aspirações golpistas.
“Só Deus me tira daquela cadeira”, disse Bolsonaro. O presidente foi aplaudido por um público formado exclusivamente de evangélicos, onde ele tem a maioria do eleitorado — segundo a pesquisa XP/Ipespe divulgada na sexta-feira (20), ele tem 47% das intenções de voto nesse segmento contra 32% de seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaro fez seu rápido discurso e depois rezou ajoelhado com pastores. O presidente afirmou que, quando entrou no Exército, jurou dar sua vida à pátria. “Hoje, mais do que isso, todos nós daremos nossas vidas pela nossa liberdade. Esse é o bem maior de um país que se diz democrático. A liberdade é mais importante que a própria vida”, discursou.
O presidente também enviou um claro recado aos ministros do Supremo Tribunal Federal. “Somos democratas, respeitamos a nossa Constituição. É um dever meu como chefe do Executivo fazer com que todo aquele que esteja fora das quatro linhas da nossa Constituição venham para dentro da mesma”, disse.
Esta semana, Bolsonaro acionou o STF contra o ministro Alexandre de Moraes. No pedido de investigação, Bolsonaro acusava Moraes de abuso de autoridade. O ministro Dias Toffoli, encarregado de analisar o pedido presidencial, rejeitou a petição.
“Bolsonarista raiz”
Com 11 anos de experiência e sem atuação em cortes superiores, o advogado Eduardo Magalhães, de 35 anos, foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para representá-lo na ofensiva jurídica que lançou na última semana contra o ministro do Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem acusa de abuso de autoridade. É ele quem assina uma notícia-crime apresentada na Corte e uma a representação na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Magalhães mantém um pequeno escritório em Curitiba com o pai, Vicente Magalhães. Quem o levou ao presidente foi o deputado federal Filipe Barros (PL-PR), que também é advogado. O nome se encaixava no perfil que o presidente buscava para assinar as peças contra Moraes: alguém desconhecido em Brasília e que tivesse afinidade ideológica com o bolsonarismo.
A opção surpreendeu até quem representa o titular do Palácio do Planalto há anos no Judiciário. Profissionais que já atuaram em outras ações do presidente, como Admar Gonzaga, Karina Kufa e Frederick Wassef, assim como assessores jurídicos de Bolsonaro no PL, seu partido, disseram a interlocutores que nunca tinham ouvido falar de Magalhães.
Segundo pessoas próximas ao advogado-geral da União, Bruno Bianco, integrantes do órgão chegaram a ser consultados, mas houve resistência em assinar a notícia-crime contra Moraes. Procurada, a AGU disse que não teve conhecimento prévio e não atua no caso.
Bolsonaro assinou a procuração para ser representado por Magalhães em 9 de maio. O advogado esteve em Brasília na quinta-feira da semana passada, 12 de maio, e protocolou a notícia-crime contra Moraes no STF cinco dias depois, às 22h10 da segunda-feira, dia 17. O pedido foi rejeitado pelo ministro Dias Toffoli. Horas depois, Magalhães acionou a Procuradoria-Geral da República, que também já sinalizou que deve arquivar a representação.
Moraes é relator de inquéritos contra Bolsonaro no Supremo e estará na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante o pleito de outubro.