11/08/2022 às 10h36min - Atualizada em 11/08/2022 às 23h30min
O que é a “Doença de Chagas”? Infectologista esclarece dúvidas sobre a enfermidade
Transmitida pelo temido inseto “barbeiro”, o Ministério da Saúde estima que 1,9 a 4,6 milhões de pessoas estão infectadas atualmente no Brasil
SALA DA NOTÍCIA Fernanda Martinelli
Em homenagem ao seu descobridor, o pesquisador brasileiro Carlos Chagas, a “Doença de Chagas” é resultante da infecção pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Conhecida também por tripanossomíase americana, a doença é transmitida por meio das fezes que seu hospedeiro, popularmente chamado de “barbeiro”, deposita sobre a pele de uma pessoa, enquanto suga o seu sangue. Em 2019, a Assembleia Mundial da Saúde conferiu maior respaldo à doença, que desde o ano seguinte possui data para conscientização, 14 de abril.
“Estima-se que pelo menos 8 milhões de pessoas no México, na América Central e América do Sul estão infectadas. No Brasil, o Ministério da Saúde informa que 1,9 a 4,6 milhões de pessoas possuem a doença”, alarma Dra. Cinthya Mayumi Ozawa, infectologista do Grupo São Cristóvão Saúde. Desde o início de sua descoberta, a Doença de Chagas sempre foi relacionada com fatores de pobreza, higiene precária e más condições de habitação, como casas de pau-a-pique e paredes cheias de frestas, que são locais propícios para abrigo ao vetor domiciliado da doença, o Triatoma infestans, inseto mais conhecido como “barbeiro”.
Segundo a infectologista do São Cristóvão Saúde, o indivíduo contaminado pode desenvolver quadros agudos e graves: “Nesta fase, o tratamento específico tem maior chance de promover a cura da doença. No entanto, pode levar a quadros crônicos, com alteração do trato gastrointestinal e/ou ainda evoluir com comprometimento da função cardíaca, podendo inclusive levar a insuficiência cardíaca congestiva e óbito”, explica a Dra. Cinthya Ozawa.
Atualmente, segundo a médica, essa preocupante doença possui diferentes formas de contaminação:
Contágio por alimentos contaminados: o consumo de alimentos contaminados, como o açaí, também podem ser uma forma de transmissão;
Transmissão acidental: quando um profissional manipulando um material contaminado entra em contato com o parasita através de mucosas, perfuração com agulha ou soluções de continuidade da pele;
Transmissão transplacentária: também chamada de vertical, essa transmissão se dá quando uma mãe contaminada transmite o T.cruzi para o feto;
Transfusional ou por transplante: o sangue ou órgão contaminado de um doador infectado é compartilhado em um receptor.
“Quando a transmissão é vetorial, a fase aguda é geralmente assintomática, dificultando o diagnóstico e o tratamento no momento ideal. Já a transmissão oral pode ser responsável por quadros agudos e graves, podendo levar a óbito sem tratamento. O quadro caracteriza-se por febre persistente, dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas e manchas vermelhas na pele”, sinaliza a infectologista.
Já a fase crônica pode se manifestar com o comprometimento cardíaco, em que o paciente desenvolve aumento da área do coração, levando a arritmias, podendo evoluir para uma insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e a necessidade de transplante cardíaco. “Em 10 % dos casos, o paciente pode evoluir com aumento do esôfago e/ou cólon, megaesôfago e/ou megacólon, respectivamente. Os sintomas são atribuídos pela alteração da funcionalidade dos órgãos, como disfagia, dificuldade para deglutir alimentos e/ou obstipação, em que a pessoa pode ficar semanas sem evacuar”, complementa Dra. Cinthya.
O diagnóstico da doença é realizado a partir da coleta de amostras de sangue periférico, com a realização de testes parasitológicos e sorológicos, simultaneamente. “Como parte dos casos é assintomática, deve-se considerar os contextos de risco e vulnerabilidade, como o ambiente em que se vive e regiões arredores para sabermos se a área é propícia para esse inseto”, explica.
Além de medicações, seu tratamento específico é prolongado (60 dias) e deve levar em consideração a forma da doença e a faixa etária do indivíduo. Outros tratamentos não específicos são voltados para complicações da fase crônica da doença: “Para as formas gastrintestinais, as pessoas podem ter algum benefício a partir de medidas dietéticas e/ou cirúrgicas. Quando o comprometimento é predominantemente cardíaco, medicações para controle de arritmias e que auxiliem no controle da insuficiência cardíaca são essenciais”, esclarece a médica.
Para se prevenir desse mal, as dicas da especialista são, além de evitar contato com o barbeiro, manter ambientes limpos e sem entulhos e evitar a ingestão de alimentos contaminados. “Boas práticas de higiene são essenciais para a redução dos riscos, além da atenção como o local de procedência do alimento, das condições de higiene dos manipuladores, do local de venda e conservação desse alimento no ato da compra, além de cozinhar bem os alimentos, em especial as carnes”, finaliza a infectologista do São Cristóvão Saúde.
Sobre o Grupo São Cristóvão Saúde
Administrado pela Associação de Beneficência e Filantropia São Cristóvão, o Grupo São Cristóvão Saúde possui 10 Unidades de Negócio, que englobam: Hospital e Maternidade, Plano de Saúde, Centros Ambulatoriais, Centro Cardiológico, Centro Laboratorial (CLAV), Centro Endogástrico (CEGAV), Centro de Atenção Integral à Saúde (CAIS), Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP Dona Cica) e Filantropia. Referência em saúde, na cidade de São Paulo, a Instituição completou 110 anos em dezembro de 2021. O Grupo promove uma grande modernização e expansão em sua estrutura física e tecnológica, investindo em equipamentos, certificações e profissionais qualificados. Atualmente, o complexo hospitalar conta com 309 leitos, além de oito Centros Ambulatoriais, que realizam milhares de consultas, proporcionando qualidade assistencial às mais de 160 mil vidas do Plano de Saúde e 18 mil vidas do Plano Odontológico.
O Grupo São Cristóvão Saúde tem como Presidente/ CEO o Engº Valdir Pereira Ventura, responsável pelas Unidades de Negócio e, desde 2007, atuando à frente das decisões Institucionais.