A ONU advertiu nesta quarta-feira, 31, para possíveis “crimes contra a humanidade” cometidos na região chinesa de Xinjiang, em um relatório muito aguardado e publicado minutos antes de Michelle Bachelet deixar o cargo como alta comissária para os Direitos Humanos. “A extensão da detenção arbitrária e discriminatória de uigures e membros de outros grupos predominantemente muçulmanos pode constituir crimes internacionais, em particular crimes contra a humanidade”, afirma o relatório em suas conclusões. Segundo a ONU, uma abordagem discriminatória do regime de Pequim contra os uigures e outras comunidades muçulmanas, resultando em “privação em larga escala da liberdade”. O documento afirma que são críveis as alegações de tortura e violação dos direitos humanos. A China se opôs fortemente à divulgação do relatório.
Os uigures são muçulmanos, culturalmente distantes dos chineses — as ligações mais fortes são com povos da Ásia Central — e se concentram majoritariamente de Xinjiang, no noroeste da China. No passado, houve tentativas de se criar por lá uma república independente chamada Turcomernistão do Leste, e até hoje Pequim restringe qualquer manifestação neste sentido. A minoria uigur acusa o governo chinês de ter promovido a migração de chineses para lá, o que teria descambado em perseguição contra os muçulmanos. Em 2009, um violento confronto entre chineses e uigures causou cerca de 200 mortes. Além disso, a China acusa os uigures de terem ligação com a Al Qaeda, grupo terrorista islâmico que orquestrou os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos, em 2001. Foi sob a alegação de colaboração com o terror que diversos muçulmanos foram presos nos últimos anos. A comissão da ONU considera problemático o sistema antiterrorista implementado por Pequim. As acusações de que a China mantém um campo de reeducação para confinar uigures e outras minorias muçulmanas surgiram em 2016.
*Com informações da AFP