Pelo menos cinco mulheres denunciaram o médico radiologista Martinho Gomes de Souza Neto como responsável por importunações sexuais ocorridas durante atendimentos feitos pelo profissional de saúde em uma clínica no Rio de Janeiro (RJ). Todas prestaram depoimento na delegacia. Uma delas contou ter sido importunada, na última quarta-feira (1º), mesmo dia em que a influenciadora digital Cris Silva, de 26 anos, foi vítima de crime de violação sexual durante um exame. Cris denunciou o caso à polícia.
Martinho Gomes de Souza Neto foi preso em flagrante e nega a acusação. A influencer resolveu expor seu rosto e sua história. Disse ter sofrido abuso sexual na infância e que, por isso, prometeu a si mesma que denunciaria o abusador, caso isso voltasse a ocorrer.
Chorando, ela fez um vídeo explicando estar aliviada com a prisão do suspeito. Martinho também é investigado em outro inquérito por importunação sexual. O caso está tramitando em sigilo na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), no Centro do Rio.
“Gente, estou muito emocionada, porque descobriram que eu não fui a primeira pessoa que ele fez isso. A delegada falou que ele tá preso. Não tem fiança. Porque eu não fui a primeira vítima dele, que ele já havia feito isso antes. Estou muito aliviada porque na infância eu sofri abuso. Eu não tive forças para falar o que tinha acontecido comigo Era só uma criança. E eu prometi a mim mesmo que quando crescesse, se alguém fizesse isso comigo de novo, eu ia ter forças para denunciar. Estou muito orgulhosa de mim. Esse choro é de alívio, tipo assim, de felicidade, de que não vai acontecer com mais ninguém”, disse na gravação.
Morando nos Estados Unidos, ela disse ter chegado ao Rio antes do carnaval para passar o fim das férias. Na quarta, ela foi até a uma clínica para fazer uma mamografia, após ter comprado um pacote de exames. Cris informou ter sido convencida pelo suspeito a fazer também um exame ginecológico, que estava programado para ocorrer em outro dia. A vítima afirmou que, durante o procedimento, o médico havia identificado um cisto. E que para ele conseguisse visualizá-lo, ela deveria se estimular sexualmente.
“Eu toquei o meu estômago, mas ele falou que eu precisava me estimular. Eu falei que não queria mais fazer aquele exame e ele segurou no meu braço e disse que iria terminar o exame. Nisso, alguém bateu na porta. Eu aproveitei para correr para o banheiro onde vesti minha roupa”, disse Cris.
Ela contou ainda que quando a porta abriu, chegou a digitar no celular “acho que ele abusou de mim” e mostrou para uma recepcionista que não esboçou reação. A vítima procurou uma delegacia e contou o que havia ocorrido.
Martinho foi submetido a uma audiência de custódia na última sexta-feira (3). Sua prisão foi mantida e convertida em preventiva.
Na decisão, a juíza Rachel Assad da Cunha justifica a manutenção da prisão de Martinho para garantia da ordem pública: “Evidente a necessidade da conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva do custodiado como medida de garantia da ordem pública, sobretudo porque crimes como esse comprometem a segurança e a intimidade de mulheres que realizam exames diariamente na cidade Rio de Janeiro, especialmente porque o custodiado atua em diversas clínicas. Assim, impõe-se uma atuação do Poder Judiciário, ainda que de natureza cautelar, com vistas ao restabelecimento da paz social concretamente violada pela conduta do custodiado”, escreveu a magistrada.
A juíza ainda destacou o risco de que a vítima do crime que levou o radiologista à prisão seja intimidada pelo médico: “Convém destacar, ademais, que a vítima ainda não prestou depoimento, de forma que a liberdade do acusado poderá comprometer a instrução criminal por ameaça”.