O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Sergio Moro (União-PR) abriram um novo capítulo em sua trajetória de embates públicos em meio à repercussão de uma operação da Polícia Federal (PF), deflagrada na quarta-feira (22), que desbaratou planos de uma facção criminosa para atacar servidores e autoridades. No dia seguinte, Lula sugeriu que o destaque dado a Moro na sentença judicial que autorizou a operação se trataria de uma “armação” do ex-juiz da Lava-Jato. Moro, por sua vez, questionou se o presidente “não tem decência”.
Antes desse confronto público, Lula e Moro acumularam desavenças que remontam à Operação Lava-Jato, mas que também envolveram decisões posteriores do Supremo Tribunal Federal (STF) e as eleições presidenciais de 2022. Relembre a seguir os principais embates:
Condução coercitiva
“Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça”. A frase, dita por Lula após ser alvo de condução coercitiva no âmbito da Lava-Jato em março de 2016, marcou o início de uma escalada de hostilidades entre o então ex-presidente e Moro, à época juiz responsável pela operação na primeira instância.
Escutas
A divulgação de um telefonema entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff, em março de 2016, captado por escutas telefônicas autorizadas por Moro foi outro episódio que levou o então ex-presidente a confrontá-lo publicamente. À época, o ministro do STF Teori Zavascki considerou “descabida” a justificativa apresentada por Moro de que haveria interesse público na divulgação das conversas, captadas fora do prazo autorizado.
Depoimento
O primeiro encontro frente a frente de Lula e Moro ocorreu em maio de 2017, quando o então juiz da Lava-Jato tomou o depoimento do petista no âmbito do processo do tríplex do Guarujá. A audiência, que durou cerca de cinco horas, foi permeada por momentos de tensão, em que Lula e Moro retrucaram afirmações de um e outro.
Amigo de doleiro
Em outro depoimento à Lava-Jato, em novembro de 2018, à juíza Gabriela Hardt- a mesma que autorizaria, quase cinco anos depois, a operação da PF contra a facção criminosa que planejava atacar Moro e outras autoridades –, Lula foi repreendido ao tentar associar Moro ao doleiro Alberto Youssef.
Em determinado momento, Lula se referiu ao delator da Lava-Jato, como “amigo do Moro desde o caso do Banestado”, outra investigação de corrupção da qual o ex-juiz participou. Hardt interpelou Lula afirmando que Moro “não é amigo do Youssef e nunca foi”, e disse ainda que era “melhor parar com isso”.
Soltura de Lula
A saída de Lula da prisão, em novembro de 2019, motivou novo embate entre os dois. O ex-ministro de Bolsonaro acabou se referindo ao episódio da soltura de Lula dois anos depois, após ter anunciado sua entrada no cenário eleitoral. Em uma entrevista ele procurou associar o petista a Bolsonaro, argumentando que o então presidente “comemorou quando o Lula foi solto em 2019 porque entendia que isso o beneficiava” politicamente.
Debate presidencial
Na reta final do segundo turno de 2022, Moro decidiu se juntar à comitiva de Bolsonaro durante o debate entre os candidatos organizado pela TV Globo, e usou a ocasião para fustigar Lula. Moro sentou-se na primeira fila, próximo aos presidenciáveis no palco, e chegou a ser flagrado tirando uma foto de Lula enquanto o então candidato do PT dava uma resposta a Bolsonaro.
Após o debate, em entrevista coletiva ao lado de Bolsonaro, Moro subiu o tom contra Lula e afirmou que o então ex-presidente “teve a pachorra de dizer” que não assistia ao próprio programa eleitoral.
Palavrão
Em uma entrevista nesta semana, enquanto rememorava o período preso na superintendência da PF em Curitiba, Lula disse que reagia com irritação à época quando questionado por procuradores do Ministério Público Federal (MPF) se estava tudo bem. “Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro”, declarou Lula, citando a si mesmo.
O tom da declaração foi reprovado por aliados e ministros do próprio Lula.