Aproveitando o amplo leque de ofertas da China, a recente viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China tem importância econômica indiscutível, afinal o país asiático é a segunda maior potência mundial e principal parceira comercial do Brasil. Mas analistas políticos avaliam que ainda não estão exatamente claros os objetivos do líder brasileiro ao manifestar interesse em um alinhamento a Pequim – incluindo críticas aos Estados Unidos.
“Lula do terceiro mandato quer não apenas replicar, como aprofundar a política externa de seu primeiro e segundo governos, pautada pelo enfrentamento a um mundo unipolar, ou seja, pelo anti-imperialismo ou antiamericanismo”, avalia a colunista Eliane Catanhêde, do jornal “O Estado de São Paulo” e comentarista do canal de TV Globo News. “O bloco do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e depois África do Sul) é o grande marco dessa estratégia.”
A tradição brasileira é de neutralidade e diálogo em todas as frentes, mas os sinais são de alinhamento aos chineses e de distanciamento em relação aos norte-americanos, em um momento no qual as duas potências disputam hegemonia econômica e política e demonstram posturas opostas à guerra na Ucrânia. Enquanto Pequim é pró-Rússia (invasora), Washigton apoia – inclusive com armas – a Ucrânia (invadida).
Equilíbrio
Mas o que o Brasil pode ganhar com uma trocar de potência por outra? Conforme diferentes linhas da diplomacia, o melhor é tirar proveito da disputa em favor dos interesses nacionais, lembrando que de um lado está uma China audaciosa, invasiva e conveniente para negócios e investimentos, enquanto do outro se impõe o Estados Unidos que, bem ou mal, são uma democracia.
Claro que é excelente Lula trazer na bagagem acordos e intenções nas áreas de satélites, veículos elétricos, agronegócio, infraestrutura, saúde e ambiente. Mas pode ser péssimo que ele tenha incluído, a cada momento, um recado “desaforado” ao presidente Joe Biden, parceiro fundamental na defesa da democracia. Até porque ambos foram, ou são, alvos.
Lula poderia tratar do real e do yuan sem um discurso ácido contra o dólar, que soou não como ataque a uma moeda, mas à maior potência ocidental. E poderia visitar a estatal chinesa Huawei sem provocar os norte-americanos, que veem a empresa como instrumento para dominar o mundo: “Ninguém vai proibir o Brasil de aprimorar sua relação com a China”, bradou Lula.
Ele mencionou diretamente os Estados Unidos ao o secretário-geral do Partido Comunista, lembrando ter se aliado à China contra norte-americanos e europeus na Conferência do Clima em 2009, e com jornalistas, ao falar de Ucrânia: “É preciso que os americanos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”.