Uma seita religiosa é suspeita de causar mortes, no Quênia, por incentivar seus seguidores a jejuar para “conhecer Jesus”. A polícia encontrou 73 corpos de pessoas, suspeitas de terem morrido de fome, em valas coletivas em uma floresta de Shakahola, perto da cidade costeira de Malini.
O presidente do país africano, William Ruto, prometeu nesta segunda-feira (24) adotar medidas contundentes contra movimentos religiosos “nebulosos”.
“O que vimos em Sakhola é algo característico de terroristas”, declarou o presidente durante uma cerimônia de entrega de diplomas aos funcionários do sistema prisional.
“Os terroristas usam a religião para promover seus atos hediondos. Pessoas como Mackenzie (líder da seita religiosa) utilizam a religião para fazer exatamente o mesmo”, acrescentou.
O balanço de mortos subiu para 73, após o número anterior ser de 58 corpos, conforme divulgado pelas autoridades. Um policial envolvido na investigação destacou, à AFP (Agence France-Presse), que as busca por mais vítimas continuará na terça-feira (25).
Os primeiros restos mortais de quatro membros da Igreja Internacional das Boas Novas (Good News International Church) foram encontrados em dia 14 de abril. O líder da igreja, Makenzie Nthenge, estaria incentivando os seguidores a jejuar para “conhecer Jesus”.
Na mesma data, 11 pessoas foram resgatadas e hospitalizadas. Após o início das investigações, as descobertas macabras prosseguiram. Desde então, outras 29 já foram resgatadas, além dos diversos corpos encontrados e das pessoas que morreram a caminho do hospital.
O presidente Ruto afirmou que pediu aos “organismos responsáveis que examinem o tema e cheguem ao fundo das atividades das religiões e das pessoas que querem usar a religião para promover uma ideologia nebulosa e inaceitável”.
Os policiais acreditam que devem encontrar mais corpos na floresta onde se reuniam os membros da seita. Vários integrantes da igreja continuam escondidos no local.
Uma mulher, encontrada no domingo (23) pelas autoridades com os olhos fora da órbita, recusou alimentação, antes de ser transportada em uma ambulância.
A mulher “rejeitou absolutamente os primeiros socorros e fechou a boca com força, recusando-se a comer. Ela queria continuar o jejum até a morte”, disse à AFP Hussein Khalid, membro da Haki Africa, organização que alertou a polícia sobre as ações da igreja.
“Pedimos ao governo nacional que envie tropas ao local para que possamos entrar (na floresta) e socorrer as vítimas que continuam jejuando até a morte”, acrescentou.
A floresta, de mais de 300 hectares, está isolada e foi declarada “cena de crime”, disse o ministro do Interior Kithure Kindiki, no twitter.
“É um grande golpe e um grande choque para o nosso país”, afirmou à AFP Sebastian Muteti, secretário de Proteção da Infância no condado de Kilifi. Para ele, estes são “massacres em massa”.
As descobertas macabras provocam perguntas sobre as ações das autoridades, que tinham conhecimento das atividades do pastor desde 2017.
Nthenge já foi detido porque convenceu muitas crianças a não frequentar a escola com a alegação de que a educação não era reconhecida na Bíblia. Na época, ele foi acusado de “radicalização” e de administrar uma escola não registrada.
O pastor voltou a ser detido no mês passado, depois que duas crianças morreram de fome. Mas pagou uma fiança de 100.000 xelins quenianos (740 dólares) e foi liberado.
Nthenge se entregou à polícia e está detido desde 15 de abril. Ele comparecerá a uma audiência com um juiz em 2 de maio.
Fonte: Portal ND+.