As supostas irregularidades cometidas há um ano por um despachante de Novo Hamburgo e um ex-vistoriador do Centro de Registro de Veículos Automotores (CRVA) de São Leopoldo resultaram em riscos para o trânsito e prejuízos para os cofres públicos. Ambos estão sendo investigados por corrupção ativa e passiva, sendo suspeitos de adulterar documentos e liberar veículos que não estavam em condições adequadas para circular. Após uma denúncia da Corregedoria do Detran, a Polícia Civil cumpriu dois mandados de busca e dois de prisão.
O ex-vistoriador foi detido em São Leopoldo, enquanto o despachante foi preso na cidade de Esteio, onde atua. Durante as buscas na residência do ex-funcionário, foram encontrados R$ 10 mil e duas armas. Além disso, houve o cumprimento de ordens judiciais no CRVA. Segundo o delegado Augusto Zenon, responsável pela 2ª Delegacia de Combate à Corrupção do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), as irregularidades consistiam em realizar vistorias falsas, mediante acordo entre o despachante e o ex-funcionário, para liberar veículos com problemas não solucionados, como falhas mecânicas, problemas no chassi e documentação irregular.
A polícia já identificou 10 casos de fraude, porém não descarta a existência de outros. Durante um período de 12 meses, o despachante encaminhou 57 procedimentos ao CRVA de São Leopoldo, que ficaram sob responsabilidade do ex-funcionário. Além disso, outros 45 pedidos foram enviados para diferentes servidores, que também serão investigados.
Os prejuízos causados pela corrupção afetam tanto a sociedade quanto as finanças do Estado. Em primeiro lugar, há o risco de os motoristas se depararem com veículos com problemas, colocando-se em perigo, uma vez que esses veículos circulam como se estivessem regularizados. Em segundo lugar, há um impacto financeiro, pois o Estado deixa de arrecadar taxas por meio do Detran.
No esquema de corrupção, o despachante e o ex-vistoriador cobravam valores extras, que variavam de R$ 500 a R$ 1.000, dependendo do caso. Posteriormente, eles dividiam esses valores, sem descartar a possível participação de outros envolvidos no esquema. A investigação revelou menções a uma conta conjunta dos suspeitos no valor de R$ 70 mil, o que também será apurado.
Segundo o delegado Zenon, os proprietários de veículos que utilizaram os serviços do despachante suspeito foram beneficiados pelas alterações fraudulentas nos sistemas. A polícia entrará em contato com os responsáveis pelos 10 veículos em que as irregularidades foram confirmadas, além de investigar outros casos que possam surgir durante as investigações. Acredita-se também que o ex-vistoriador do CRVA de São Leopoldo, além de receber propina, recrutava outros funcionários para participarem do esquema. Suspeita-se de outros dois
funcionários que podem estar envolvidos, responsáveis por inserir informações falsas dos veículos no sistema do Detran, conforme indicado nas mensagens encontradas no celular do despachante.
A investigação teve início há três meses, após uma denúncia da Corregedoria do Detran ao Deic. O caso veio à tona quando um comprador de um veículo, vindo do Paraná e pertencente a um proprietário do Rio Grande do Sul, enfrentou problemas no documento durante o processo de transferência. O Detran paranaense orientou o comprador a buscar o órgão gaúcho para resolver a situação.
Na tentativa de corrigir os problemas, o comprador e o vendedor, de Novo Hamburgo, tentaram realizar uma vistoria no CRVA do bairro Lomba Grande, porém sem sucesso. Foi nesse momento que o despachante investigado entrou em ação e cobrou um valor adicional para resolver a situação no CRVA de São Leopoldo.
Esse valor adicional representava o pagamento extra para adulterar documentos e informações, a fim de liberar o veículo como se estivesse regularizado, mesmo com os problemas existentes. A quantia era dividida entre o despachante e o ex-vistoriador do Centro. Essa situação foi o ponto inicial da investigação, levando ao cumprimento dos primeiros mandados de busca na residência e no escritório do despachante.
Durante as buscas, a polícia apreendeu um celular que continha diversas mensagens de áudio e texto entre o despachante e o ex-vistoriador do Detran. Essas mensagens abordavam valores, precauções para não se exporem e pagamentos realizados via Pix entre os dois suspeitos. Além disso, foram identificadas contas bancárias pertencentes a familiares dos envolvidos, o que levanta a suspeita de lavagem de dinheiro.
A investigação continua em andamento, e os nomes dos presos não foram divulgados até o momento. As autoridades estarão em contato com os donos dos veículos afetados, confirmando as irregularidades nos 10 casos já identificados, além de investigar possíveis outros casos que possam surgir ao longo do processo de investigação.