"Sou como um pai para ela. Ela é meu xodó", diz avô, cujo nome será preservado para não identificar a criança suspeita de ter ateado fogo a apartamento em Patos de Minas (MG), no último sábado. Ele, de 70 anos, e a mulher de 52 tiveram que pular do quarto andar do prédio — cerca de 12 metros de altura — para escapar das chamas que começaram enquanto o casal dormia e que destruíram completamente o imóvel no condomínio Morada das Palmeiras, no bairro Ipanema.
Saiu sem um arranhão, mas a esposa está internada para uma cirurgia nas pernas porque, ao saltar, quebrou dois dedos de um pé e o tornozelo. Evangélico, ele vê milagre em terem escapado com vida: "Arrisquei porque se ficasse morreríamos queimados".
Especializado em "chapa" — trabalhador que abastece e desabastece caminhões de carga —, ele conta que, junto da mulher, cria a neta para ajudar a filha, separada do pai da criança, e que trabalha fora. Ele contou que a menina começou a apresentar sinais de um comportamento que a família considerava fora do normal desde muito cedo.
"Com um ano e meio, ela pegou cocô e saiu espalhando na própria roupa, na televisão, na cama. Isso não era normal", recorda-se. O avô lembra que, na época, a menina já usava o vaso sanitário.
'Eu não vi, estava dormindo'
Desde que tudo aconteceu, ele falou pouco com a neta. Sem ter onde morar, foi para a casa da filha, que se desdobra em cuidados com a mãe, que está internada no Hospital Regional Antônio Dias. As consequências do incidente foram desastrosas tanto do ponto de vista material quanto emocional, não só pela preocupação que cresceu sobre a menina, mas também pelo que ele chama de "tribunal da internet".
O avô diz que ele próprio não pode afirmar com certeza que foi a neta a responsável pelo incêndio que começou pelo sofá da sala. "Eu não vi, estava dormindo", diz. Assim como ele não viu, observa, que qualquer outra pessoa que responsabilize a criança está sendo precipitada porque também não presenciou a situação. "Na internet, tem 36 milhões de pessoas massacrando minha neta, e ninguém para ajudar", desabafa.
Moradia
Agora, o idoso está temporariamente na casa da filha, pois não tem onde morar. A esposa está hospitalizada e demonstra, segundo o jornal O Globo, um alto grau de estresse pós-traumático. Ela afirma que não conseguirá retornar para o antigo endereço, o apartamento comprado por meio de um financiamento. O fogo também causou danos aos aparelhos domésticos e aos móveis da família.
Família faz vaquinha após incêndio
Moradores do Moradas da Palmeira, sensibilizados com a destruição do apartamento de 45 metros quadrados e a perda de todos os móveis e eletrodomésticos, estão fazendo uma vaquinha para ajudar o casal. A família também pode receber doações pelo PIX ([email protected]).
O fogo também atingiu o hall do quarto andar e o teto de outros andares, mas não há risco estrutural para o prédio. Apesar disso, o síndico do condomínio Abner dos Santos explica que os condôminos terão que arcar com os custos porque a seguradora alega ter se tratado de um incêndio intencional. Ainda não se sabe como foi ateado o fogo, que se alastrou muito rapidamente. Geladeira, micro-ondas, móveis planejados, banheiro, portas, tudo foi queimado.
Créditos: O Globo.