(FOLHAPRESS) - Em uma sinalização pouco sutil à Rússia em meio à crise com Moscou, os Estados Unidos posicionaram pela primeira vez bombardeiros estratégicos em uma base na Romênia, a pouco mais de 100 km da fronteira da invadida Ucrânia.
Duas aeronaves B-52H, 1 dos 2 modelos de bombardeiros americanos que podem empregar armas nucleares, chegaram no domingo (22) à base romena de Mihail Kogalniceanu, que está em obras para se tornar a maior da Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA.
Não foi uma viagem qualquer. Baseados em Barksdale, Louisiana (EUA), os dois B-52 voaram para o norte apoiados por três aviões-tanque e, pela primeira vez desde que a Finlândia ingressou na Otan, no ano passado, sobrevoaram o país nórdico rumo ao espaço aéreo russo.
Em um dos usuais e arriscados testes de prontidão da defesa aérea do rival que tanto a Otan quanto a Rússia fazem frequentemente, os B-52 acabaram interceptados por dois caças russos, um MiG-29 e um MiG-31 estacionados na região de Murmansk.
Os bombardeiros desviaram, voltando a sul. Foram escoltados por caças F-18 finlandeses e, depois, por um Eurofighter alemão sobre os Estados Bálticos. Rumaram pela Polônia até chegar à Romênia para sua missão inédita, onde foram recebidos por quatro F-16 locais.
Os dois aviões ficarão ao lado, geograficamente, da região do rio Danúbio que separa romenos de ucranianos. No ano passado, os russos bombardearam várias vezes os portos de Kiev na região após o fracasso de um acordo que permitia a exportação de grãos do país invadido em 2022 pelo mar Negro.
É previsível que os aviões irão operar no mar Negro, região altamente contestada por banhar os rivais Rússia, Ucrânia e uma trinca da Otan, Romênia, Bulgária e Turquia, além de Geórgia e Moldova. No ano passado, um drone americano MQ-9 Reaper caiu após ser abalroado por um caça russo Su-27 na região.
O caso emulou outros semelhantes no espaço aéreo da Síria, onde há forte presenças russa e americana. Na Europa, esbarrões e interceptações ocorrem praticamente toda semana, do mar Negro ao Báltico e o Ártico.
A análise das fotografias divulgadas pela Força Aérea indica que os aviões não carregam armas nucleares. Pelo acordo Novo Start, tanto EUA quanto a Rússia precisaram limitar o número de aeronaves capazes de lançar tal tipo de armamento.
Os americanos retiraram componentes necessários para isso de 30 de seus 76 B-52, além de aposentar a função nuclear de toda a frota de B-1B. Todos os B-2 furtivos ao radar permanecem com tal capacidade. Caças F-16 e F-35 podem soltar bombas menores, chamadas táticas, que não são reguladas pelo Novo Start. Há cem delas em bases da Otan na Europa.
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Para o inimigo saber que o avião está habilitado a lançar ogivas nucleares por imagens de satélite, os bombardeiros capazes têm duas pequenas aletas nas laterais. Os dois enviados para a Romênia, pelas fotografias, não as têm, carregando portanto uma devastadora carga de até 32 t em mísseis de cruzeiro de longo alcance convencionais.
Isso é irrelevante na prática, dado que ninguém espera que o presidente Joe Biden se despeça do cargo iniciando uma guerra nuclear. O que importa é a sinalização da presença das gigantescas aeronaves, de um modelo que voa desde meados dos anos 1950 e que simboliza a capacidade de ataque atômico.
A frota atual acabou de ser entregue em 1962, mas foi muito modernizada. Está em curso um trabalho de troca de motores que deverá manter os venerandos bombardeiros, símbolos da Guerra Fria, voando até a década de 2060, ou seja, quando o B-52 for centenário.
Com o agravamento da crise entre Moscou e o Ocidente com a Guerra da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin congelou sua participação no Novo Start, em 2023. Até aqui, ambos os países têm respeitado as provisões do tratado, contudo, que limita o número de ogivas e também de bombardeiros e mísseis capazes de empregá-las. Mas o Congresso americano discute reativar os componentes nucleares dos 30 B-52, algo que pode ser feito rapidamente.
Os B-52 são o centro da chamada Força-Tarefa de Bombardeiros 24-4, a quarta missão do tipo no teatro europeu neste ano. Nas anteriores, modelos semelhantes ficaram baseados no Reino Unido e na Espanha. Essas operações começaram em 2018, como resposta à anexação da Crimeia por Putin, quatro anos antes.
As forças-tarefas também são enviadas para o Indo-Pacífico, como sinalização aos rivais estratégicos principais dos EUA, os chineses -aliados da Rússia.
"No ambiente global de hoje, é vital que estejamos preparados para fornecer uma gama de capacidades sustentáveis a grandes distâncias. A Força-Tarefa de Bombardeiros oferece uma excelente oportunidade para refinar nossas táticas em combate", disse em nota o general James Hecker, comandante das Forças Aéreas dos EUA na Europa e na África.
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Créditos: Portal R7.