Os episódios de violência registrados em Venâncio Aires, nos últimos dias, são tratados como prioridade pelo alto escalão da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Ontem, o comandante-geral da corporação, coronel Claudio dos Santos Feoli, confirmou à reportagem da Folha do Mate que há a suspeição de que o estabelecimento comercial incendiado na madrugada de sexta-feira, 24, tenha sido atacado em retaliação à apreensão de 4,5 quilos de cocaína, na última quarta-feira, 22, no bairro Aviação.
O prédio onde funcionava uma loja de variedades, na rua Osvaldo Aranha, no ‘coração’ da cidade, foi totalmente consumido pelas chamas. O comércio era de propriedade da esposa de um policial militar e os dois autores do crime já estão identificados. Além deles, há a possibilidade de pelo menos outras duas pessoas também serem responsabilizadas: uma pela compra do combustível e outra por ter sido mandante. No fim de semana, as forças policiais ‘tomaram’ a cidade e realizaram investidas em vários bairros.
No domingo, 26, um helicóptero sobrevoou Venâncio Aires e Mato Leitão, em apoio às equipes que, por terra, fizeram patrulhamento e abordagens em locais apontados como prováveis pontos de comercialização de entorpecentes. O comandante-geral da BM também confirma que a suspeita recai sobre uma facção que atua no município. “Justamente por isso mandamos reforço aéreo e do Batalhão de Choque para Venâncio Aires. As ações vão continuar até que consigamos prender os envolvidos nestes crimes. Mexeu com um, mexeu com 18 mil”, declarou Feoli, em referência ao número de PMs no estado.
De acordo com ele, a Brigada Militar não vai tolerar ofensivas contra brigadianos ou familiares, como parece ser o caso registrado na Capital Nacional do Chimarrão. “Os criminosos não podem achar que vão enfrentar o Estado ou um dos nossos e que vai ficar por isso mesmo. Assim como protegemos as comunidades, como um todo, também temos o dever de defender os integrantes da nossa corporação. É importante destacar que estamos trabalhando em conjunto com a Polícia Civil e com a Corregedoria da Brigada Militar e que a tranquilidade, entre aspas, deles, terminou”, disparou o coronel.
Insegurança
Às comunidades venâncio-airense e regional, Feoli deixou a garantia de que a Brigada Militar manterá forte presença nas ruas, por tempo indeterminado, e também realizará diligências sempre que houver informações que possam levar aos bandidos. “Neste momento, há tropas especializadas em Venâncio Aires e entorno. Estes policiais participarão de ações cirúrgicas, que têm como objetivos as prisões dos delinquentes e a garantia da segurança da população. Vamos no nicho deles, para enfraquecer a organização”, concluiu.
Abordagens
Ontem à tarde, grupamentos do Batalhão de Choque deram seguimento às investidas no município. Apoiados por guarnições da BM de Venâncio, verificaram situações e fizeram abordagens em pontos distintos.
Em um dos locais, no bairro Gressler, encontraram pessoas em atitudes suspeitas nas imediações de uma conhecida ‘boca de fumo’. Todos foram abordados, revistados e identificados e responderão a um Termo Circunstanciado, por posse de entorpecentes.
Trabalho como este, assegura o coronel Feoli, serão uma constante em Venâncio. Também estão previstas barreiras, para se identificar pessoas e veículos que circulam pela cidade.
Nota da Abamf
Em defesa dos policiais, a Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), que congrega os policiais e bombeiros militares, emitiu uma nota de solidariedade à família do policial e em repúdio à ação dos delinquentes.
O comunicado faz referência a um “grave ataque a um policial militar e sua família, na cidade de Venâncio Aires, onde as informações são que traficantes em ataque criminoso e covarde atearam fogo em propriedade da família, após a prisão de traficantes com quase cinco quilos de cocaína”
A nota destaca, ainda, “que a entidade não admitirá que condutas desta natureza abalem a estrutura de nossas famílias em relação às nossas atividades de policiais militares, que diariamente e diuturnamente trabalhamos pela segurança de nossa comunidade gaúcha, sem que o Estado adote as providências para responsabilizar o covarde atentado”.
• Os 4,572 quilos de cocaína foram apreendidos em uma casa, no bairro Aviação, pouco antes do meio-dia de quarta-feira, 22. Integrantes do setor de inteligência da Brigada tinham informações sobre o endereço, que seria um ponto de venda de drogas. Com o auxílio de colegas, fizeram uma campana e flagraram um usuário saindo do local. Ele estava com uma bucha de cocaína e confirmou que havia comprado naquele ponto.
• Dessa forma, os policiais militares entraram na casa e encontraram a droga, separada em 13 porções. Três pessoas foram presas dentro de casa e um quarto indivíduo, já identificado, conseguiu fugir. Estes três, assim como o usuário, foram apresentados na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), onde foram autuados em flagrante e encaminhados à Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva).
• Já na sexta-feira, 24, passava um pouco das 4h quando a guarnição do mesmo policial responsável pela apreensão da cocaína foi informada de um incêndio em uma loja, no Centro. Ao chegar no local, ele descobriu que criminosos tinham ateado fogo na loja da sua esposa. “Naquele momento, minha preocupação foi de salvar uma família que residia nos fundos do prédio”, informou o brigadiano.
• Ele tentou passar pelo lado do estabelecimento comercial, mas as chamas o impediram. Então, entrou por um prédio em obras e foi até onde estava a família, em desespero. Eram cinco pessoas, entre elas uma criança de 5 anos. “Eles (incendiários) não se preocuparam com isso. Por sorte, consegui resgatar aquelas pessoas”, observou. A loja teve perda total.
• Imediatamente iniciaram as investigações e os policiais conseguiram imagens da ação. Elas mostram dois indivíduos que surgem pela rua Conde D’Eu, ingressam na Osvaldo Aranha, passam em frente à loja e, em seguida, retornam. Eles arrombam a porta frontal e um deles joga um líquido dentro do prédio, que mais tarde se descobriu ser gasolina. Um deles joga um fósforo no chão e o líquido explode e incendeia a loja. A dupla foge correndo. Nos trabalhos de investigação, os policiais identificaram os incendiários e descobriram quem comprou a gasolina. Também sabem quem é o mandante do ato criminoso. Por isso, afirmam que as prisões deles são questão de tempo.
Fonte: Folha do Mate
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