O Banco Central avaliou, na ata do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) realizado na semana passada, que, mesmo em um cenário extremo, o impacto futuro do caso Americanas sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é insignificante. No documento, o regulador não cita o nome da varejista, mas cita um “evento específico relacionado à empresa de grande porte”.
“O Banco Central estimou o impacto potencial remanescente, acrescido de um cenário de contágio sobre toda a cadeia de produção e fornecimento que depende da empresa de forma relevante. Nesse cenário extremo, o impacto para o SFN consolidado é insignificante e não se verificaria desenquadramento de capital em qualquer instituição financeira”, destacou na ata do Comef.
Segundo o comitê, parcela significativa das provisões realizadas nos balanços das instituições financeiras no último trimestre de 2022 decorreu desse “evento específico” e já absorveram a maior parte da materialização do risco. O Comef ainda considerou que as provisões por esse caso responderam por parte relevante do recuo anual da rentabilidade do SFN.
No documento, o colegiado considerou que o aumento das provisões foi condizente com a maior materialização do risco no período. Além dos casos pontuais com empresas de maior porte, o Comef citou o crescimento do crédito em modalidades mais arriscadas, o aumento do comprometimento de renda das famílias e a redução da capacidade de pagamento de micro e pequenas empresas para o avanço da materialização do risco.
“A materialização de risco deve permanecer elevada no médio prazo, mas critérios mais restritivos nas concessões recentes têm colaborado para arrefecer o crescimento dos ativos problemáticos no crédito às famílias.
Ainda sobre o caso Americanas, o BC disse também, sem citar o nome da empresa, que eventos pontuais em empresas de grande porte geraram uma deterioração nos preços de ativos no mercado de títulos privados.
Após o rombo bilionário da Americanas, veio a público outros casos de problemas em varejistas. “Em decorrência desses eventos [pontuais], a volatilidade, os spreads e a aversão ao risco aumentaram. Também foram observados efeitos em algumas linhas no mercado de crédito.”
O comitê disse que acompanha os desdobramentos dos “eventos recentes” sobre os prêmios de risco no mercado de capitais. Segundo o regulador, o Comef companha a evolução e os desdobramentos dos eventos recentes e segue pronto para atuar em caso de disfuncionalidade.
Na semana passada, o Comef manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em zero. O ACCPBrasil é uma parcela do capital a ser acumulada na expansão do ciclo de crédito e consumida em sua contração. O instrumento trata o risco sistêmico cíclico do crédito e dos preços dos ativos. A próxima reunião ordinária do comitê ocorre nos dias 23 e 24 de maio.