Auditor da Receita Federal desde 2006, Mario de Marco Rodrigues Sousa já chefiava a alfândega do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) quando, em outubro de 2021, um assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, teve um pacote retido ao chegar de viagem oficial à Arábia Saudita.
Os fiscais encontraram na bagagem de Marcos André dos Santos Soeiro joias avaliadas em R$ 16 milhões que, segundo o ministro, eram destinadas “lá para a primeira-dama [Michelle Bolsonaro]”.
Como chefe da alfândega, De Marco fez parte da equipe de auditores fiscais que impediu a entrada não declarada das joias, enviadas como presente pela Arábia Saudita ao governo brasileiro. Já como delegado em 2022, Mario de Marco resistiu à pressão do então secretário especial da Receita, Julio Cesar Vieira Gomes, para liberar os itens apreendidos.
Mesmo antes de toda essa tramitação vir à tona na última semana, porém, De Marco já havia se tornado uma espécie de “celebridade” – pelo menos, para os padrões de um órgão discreto como a Receita.
O servidor é um dos integrantes do elenco do reality show “Aeroporto: Área Restrita”, da Discovery, que acompanha os bastidores do funcionamento do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Embora não tenha redes sociais públicas, ele chegou a receber apelido de “Mateus Solano da Receita” em vídeos de reação ao reality.
Casado e formado em administração de empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), De Marco assumiu o cargo de auditor fiscal em 2006.
Ele atua no Aeroporto de Guarulhos desde a convocação para assumir a função, após ter sido aprovado em concurso público.
Antes de assumir a chefia da Divisão de Conferência de Bagagem em setembro de 2015, responsável por barrar o pacote trazido pela comitiva de Bento Albuquerque, foi chefe substituto e responsável pela equipe de auditores da divisão.
Nos últimos anos, Mario de Marco foi promovido a postos mais altos. Ele chegou a ocupar a função de delegado-adjunto da Alfândega da Receita Federal do Brasil no aeroporto.
Em setembro de 2022, aos 41 anos, assumiu o posto de delegado da alfândega em Cumbica, responsável por gerir todas as atividades alfandegárias no local.
Joias apreendidas
As joias foram identificadas quando Marcos André dos Santos Soeiro, assessor de Bento Albuquerque, passou a bagagem no raio-X da alfândega, já em Guarulhos.
Os fiscais retiveram os objetos preciosos.
Isso porque a lei determina que, para entrar no país com mercadorias acima de R$ 1 mil, o passageiro precisa pagar um imposto de importação de 50% do valor do produto. Se não tiver declarado, terá ainda que pagar uma multa sobre o valor.
Ou seja, se quisesse reaver as joias, Bolsonaro teria que pagar cerca de R$ 12 milhões. Com isso, as joias ficaram com a Receita.
Haveria uma alternativa para entrar com o presente no Brasil sem pagar imposto. Bastava o governo dizer que era um presente oficial para o Estado. Só que, nesse caso, as joias ficariam com o Estado brasileiro, não com Michelle.