Uma mulher negra foi obrigada a se retirar de um avião da Gol, que partia de Salvador, com destino ao Aeroporto de Congonhas, zona sul de São Paulo, na noite de sexta-feira (28), após ter dificuldade para guardar sua mochila no compartimento de bagagens dentro da aeronave e reclamar da situação.
Em vídeo publicado nas redes sociais, a pesquisadora Samantha Vitena narra o problema enquanto agentes se aproximaram dela. Pela gravação, é possível ouvir outros passageiros condenarem a atitude, a qual julgaram como desproporcional e racista.
O advogado Fernando Santos – que acompanhou Samantha até a unidade da Polícia Federal no Aeroporto de Salvador, onde ela prestou depoimento – disse que a situação é lamentável.
Segundo ele, Samantha teve de assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência, por ser acusada de resistência à ordem policial para ser retirada do avião. “Em nenhum momento ela se recusou a sair do avião. Apenas questionou o motivo de sofrer qualquer motivo de restrição”, afirma Santos.
Nota da Gol
Em nota, a Gol afirma que havia uma grande quantidade de bagagens para serem acomodadas a bordo e muitos clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. “Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo”, disse.
Sob a justificativa da falta de espaço no compartimento de malas, a tripulação do voo G3 1575 (Salvador – Congonhas) da Gol pediu que a passageira despachasse a sua mochila. Segundo a passageira relata no vídeo, ela não queria fazer isso porque havia risco de danos ao notebook no compartimento de carga.
Conforme a empresa, ela pôs a mala em local que obstruía a passagem, o que trazia risco à segurança do voo. “Em casos como este, a tripulação não pode seguir viagem e, obrigatoriamente, precisa reacomodar a bagagem”, diz.
Vídeo
Com o apoio de outros dois passageiros, citados por Samantha no vídeo, ela conseguiu acomodar sua mochila. Mesmo assim, a decolagem atrasou e três agentes da PF entraram no avião, posteriormente, para retirar a passageira.
“Se eu despachasse meu laptop, ele iria ficar em pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar. Quem me ajudou foi esse senhor e esta senhora (apontando para eles no vídeo), que em três minutos, a gente conseguiu dar um jeito e colocar minha mochila. Pelo contrário, os comissários falaram que se a gente pousasse em Guarulhos (o voo tinha como destino Congonhas), a culpa seria minha, porque eu não queria despachar a mochila. Ele teve a coragem de falar isso para mim”, disse a mulher, em pé entre os agentes federais, no corredor dentro do avião.
“A culpa não é porque o voo está mais de duas horas atrasado, a culpa seria minha. Sendo que faz mais de uma hora que eu coloquei a mochila aqui e mesmo assim o voo não decolou”, afirmou ainda Samantha no vídeo feito por outra passageira.
“Agora, tem três homens para me tirar do voo sem me falar o motivo”, disse ela se referindo aos três policiais federais que estavam ao seu lado.
Neste momento do vídeo registrado dentro do avião, o primeiro agente se aproximou e disse que ela estava faltando com a verdade. “Eu lhe disse que estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante”, afirmou ele. Ao questionar novamente sobre qual o motivo, o agente se aproximou de Samantha, na tentativa de pressioná-la a sair do avião.
Ela questionou se ele iria agir com violência contra ela. Neste momento, o terceiro policial federal se aproximou e disse que o comandante ordenou que ela fosse retirada. “É questão de segurança de voo”, afirmou o policial federal, que tinha em mãos um documento. Ao fundo do vídeo, é possível ouvir críticas de outros passageiros.
Após assinar o registro da ocorrência na unidade da Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Salvador, Samantha foi realocada pela Gol em outro voo para São Paulo, ainda durante a madrugada do sábado (29).
Segundo o advogado, está sendo estudado o que é possível fazer para reparar os danos sofridos pela passageira, assim como para responsabilizar os envolvidos. Santos disse que Samantha está se preservando neste momento e apenas se pronunciando por meio de seus advogados.