Após quatro meses de um dos piores massacres no conflito no Leste Europeu, a qual a Ucrânia aponta a Rússia como culpada, Bucha começou a enterrar seus mortos. Envoltos em tecido roxo, onze caixões alinhados estavam sendo preparados para o enterro, cada um diante de uma cova recém-cavada. Entre eles há onze desconhecidos. O massacre nesta cidade ucraniana, que fica próxima à Kiev, foi o primeiro indício de crimes de guerra na Ucrânia. Na terça-feira, 9, quatorze corpos já tinham sido enterrados, seguidos por outros onze na quinta-feira, 11. Esse é apenas o começo, já que no momento estão previstas outras três cerimônias, disse Myjailyna Skoryk-Shkarivska, vice-prefeita de Bucha. Segundo ela, cerca de cinquenta pessoas, entre os 458 civis mortos durante a ocupação russa da cidade, ainda não foram identificadas. “Nosso objetivo é encontrar os parentes de cada pessoa”, diz a funcionária. Para isso, foram extraídas amostras de DNA, inclusive com a ajuda de gendarmes franceses, e tudo que possa ajudar a identificar um dos falecidos é publicado no Facebook. Entre as 11 pessoas enterradas nesta quinta-feira, dois homens portavam documentos de identidade.
Cruzes ortodoxas foram colocadas no chão. Junto a elas há uma pequena placa acompanhada de um número que servirá para localizar o corpo caso o teste de DNA apresente algum resultado ou apareça algum parente. “Para nós, é importante que essas pessoas sejam enterradas com dignidade, como seres humanos, e não como corpos inertes”, disse o padre Andrii Golovin com a voz firme, sem hesitar ao denunciar “esse ‘mundo russo’ que se manifestou diante de nossos olhos com todo o seu horror”. Aos onze caixões enterrados na quinta-feira, deve-se acrescentar um décimo segundo, o de Oleksandre Jmaruk, um ex-militar ucraniano de 37 anos que desapareceu desde meados de março e foi identificado de última hora graças a uma fotografia divulgada pelo aplicativo de mensagens Viber. Seus pais deixaram a cidade ocupada pelos russos pouco antes e o procuram desde então, sem sucesso. Tudo o que sabiam era que seu filho havia sido detido pelos russos. E que eles sabiam muito bem para onde estavam indo, considerando que em seu prédio as portas dos três apartamentos usados por soldados ou ex-soldados ucranianos foram arrombadas.
*Com informações da AFP