A filha de Alexander Dugin, um ideólogo ultranacionalista russo próximo ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi assassinada neste sábado, 20, quando o carro que dirigia explodiu perto de Moscou, segundo informações do Comitê de Investigação do país. O governo da Ucrânia negou envolvimento no caso. Suspeito de ser o verdadeiro alvo do carro-bomba, Dugin é filósofo e um dos principais arquitetos do plano russo de conquista de novos territórios. Apesar do governo ucraniano negar envolvimento no ataque, o presidente Volodymyr Zelensky está em alerta para como a morte pode afetar a guerra. Para entender os possíveis desdobramentos no conflito entre Rússia e Ucrânia o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o professor Késsio Lemos, analista de Relações Internacionais e pesquisador da Universidade de Kent, na Inglaterra. De acordo com o especialista, é importante avaliar qual o papel ideológico de Dugin dentro do Kremlin. De acordo com Lemos, apesar de ser um dos pilares ideológicos da expansão russa, é importante lembrar que o filósofo já foi censurado pelo governo em 2014: “Quando as forças russas invadiram a Crimeia, o Alexander foi um grande crítico do governo Putin porque, para ele haveria necessidade do exército avançar para além da Ucrânia. Na ocasião, ele sofreu censuras, perdeu até a cadeira dele na Universidade de Moscou, por exemplo”.
“Esse grau de proximidade entre ele e Putin é incerto. Agora, ele tem uma grande influência intelectual sobre grupos importantes na Rússia, como o alto escalão geopolítico. As suas obras são ensinadas dentro da academia militar russa. Portanto, aparentemente, se há uma ligação efetiva, seja da Ucrânia, seja do bloco ocidental, nessa possível tentativa de assassinato a intenção seria de atacar a alma do putinismo. Então todo esse arcabouço ideológico que o Alexander Dugin traz em suas obras tem influência no ciclo próximo de Vladimir Putin, mas não necessariamente faz dele o grande cérebro, ou o grande consultor especial de Putin. Se caso o Ocidente teve participação nesse atentado, acredito que o principal objetivo seria atacar a alma do putinismo e também tirar de circulação alguém que tem uma presença forte na mídia russa, alguém que propaga ideias em defesa da guerra e em defesa da tomada da Ucrânia pelas forças russas. Chegamos há poucos dias das festas do 31º aniversário da independência da Ucrânia, então a morte desse grande intelectual e de alguém que tem grande influência dentro do imaginário russo seria algo muito importante para a ascensão do sentimento nacionalista dentro da Ucrânia”, analisa o professor.
Para o analista de Relações Internacionais é importante ponderar que, durante a guerra, os serviços de informação de Ucrânia e Rússia possuem informações que não são acessíveis à opinião pública internacional. Por isso, apesar do mandante do atentado não reivindicar a autoria, o governo de Vladimir Putin já está construindo uma narrativa para se beneficiar do caso e prejudicar a imagem internacional do país de Volodymyr Zelensky: “As forças russas começaram a especular e começaram a fazer pronunciamentos importantes no que diz respeito a dizer que, se foram os ucranianos os responsáveis por isso, a Ucrânia terá que ser reconhecida como estado terrorista, porque foi atacado um alvo civil, sem qualquer ligação militar no conflito. Então, isso daria para Moscou um argumento importante nessa guerra midiática”.