A Rússia deu início aos referendos de anexação das regiões ocupadas na Ucrânia nesta sexta-feira, 23, ato considerado ilegal por Kiev e seus aliados ocidentais que não reconhecerão os resultados. As votações começaram logo cedo, por volta das 5h (2h em Brasília) em Kherson, Zaporizhia e Donetsk e Lugansk, informaram as agências de notícias russas, e devem durar cinco dias. As autoridades pretendem seguir de porta em porta durante quatro dias para receber os votos. Na terça-feira, dia 27, os locais de votação abrirão as portas para que os moradores depositem as cédulas. Em Moscou também é possível votar no edifício em que fica a representação da região autoproclamada de Donetsk. Denis Pushilin, líder separatista pró-Rússia da região industrial do Donbass, afirmou em uma mensagem no Telegram que “o Donbass é Rússia”. “A voz de cada um de vocês confirmará a verdade”, acrescentou. Os referendos aumentam a tensão de uma semana marcada pela mobilização de 300 mil reservistas anunciada pelo presidente russo Vladimir Putin, que também ameaçou utilizar o arsenal nuclear para proteger o território de seu país.
Essas medidas são uma forma de frear os avanços da Ucrânia que desde o começo de setembro recuperaram a maior parte da região de Kharkiv, uma contraofensiva que permitiu a Kiev retomar centenas de cidades e localidades que passaram meses sob controle russo. Para o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, “os referendos vão mudar completamente o vetor de desenvolvimento da Rússia por décadas. E não só para nosso país. A transformação geopolítica do mundo será irreversível assim que os novos territórios estiverem incorporados à Rússia”. Uma hipotética integração à Rússia das quatro regiões, que os analistas consideram algo certo, implicaria que Moscou, seguindo sua doutrina, poderia utilizar suas armas atômicas para defendê-las da contraofensiva iniciada pela Ucrânia no leste e sul do país. “Não podemos deixar o presidente Putin se safar”, afirmou em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU o secretário de Estado americano, Antony Blinken, que acusou o russo de “jogar lenha na fogueira”.
Os referendos recordam a consulta organizada em 2014 na península da Crimeia, anexada à Rússia depois de uma votação considera fraudulenta pelas potências ocidentais. Nas regiões de Donetsk e Lugansk, reconhecidas como nações independentes por Moscou pouco antes da invasão iniciada em 24 de fevereiro, os moradores devem responder se apoiam a entrada na Rússia. Em Kherson e Zaporizhia, no sul, as cédulas incluem a pergunta: “Você é favorável à secessão da Ucrânia, à formação de um Estado independente e sua união à Federação da Rússia como membro da Federação da Rússia?”. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky chamou os referendos de “farsa” e agradeceu aos aliados ocidentais que condenaram “outra mentira russa”. Se a anexação acontecer, vai representar uma grave escalada no conflito, em particular depois que Putin afirmou que protegeria o território russo com “todos os meios”. O ex-presidente e atual número dois do Conselho de Segurança do país, Dmitri Medvedev, destacou que isto significa o uso de “armas nucleares estratégicas”.
*Com informações da AFP