O furacão Ian tocou o solo do extremo sudeste dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 28, e atingiu o estado da Flórida, na cidade de Fort Myers, após ganhar força e elevar-se à categoria 4 – numa escala de força que vai de um a seis. Com ventos de 240 km/h, trata-se de um dos furacões mais fortes a atingir o país comandado por Joe Biden em décadas. Para explicar o fenômeno, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o professor de Física da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Augusto Toledo Machado, que exaltou a velocidade da previsão do tempo estadunidense para evitar que a catástrofe fosse ainda maior: “Os Estados Unidos investiram US$ 11 bilhões no satélite GOES 16 para ter esse monitoramento. Não existem formas de reduzir a intensidade do furacão, existem formas de se prevenir a população, para que ela esteja preparada, não seja pega de surpresa e possa sair dos locais que ela vai ser atingida. A forma de minimizar é ter uma boa previsão do tempo, com assertividade de dados, e os Estados Unidos são muito preparados para isso. Principalmente na previsão de furacões”. Apesar do furacão ter deixado um rastro de destruição na Flórida, com mais de 2 milhões sem energia elétrica, nenhuma morte foi confirmada ainda e, segundo o professor, isso mostra um bom trabalho de prevenção.
“Imagine um evento desse no Brasil, sem previsão. Ventos de 230 km/h e o efeito dele no oceano é devastador porque a maré entra na cidade. Se esse furacão fica parado ele vai jogar toneladas de água na cidade, e ia haver mortes e destruição. Ele é um fenômeno destrutivo. A mesma coisa que um terremoto, não tem jeito. O que aconteceu é extremamente reduzido. Se não tivesse a previsão, ia ter mortes de pessoas. A energia elétrica ligada, eles conseguem desligar, colocar tapumes nos vidros. Conseguem reduzir muito. Eu não saberia quantificar como seria o evento se não tivesse a previsão”, avaliou o físico. Esse é o quarto furacão de 2022 na bacia do Atlântico, e formou-se no último fim de semana, no Caribe central, passando pela Jamaica, Ilhas Cayman e Cuba antes de entrar no Golfo do México nesta quarta-feira, 28.
O professor Luiz Augusto explicou que o fenômeno é considerado normal para esta época do ano e ressaltou a raridade do furacão Ian: “Os furacões são categorizados em números de 1 a 6. Cada um é associado com uma velocidade do vento. Esse foi categorizado como 4. Esse vento alcançou níveis de 250 km/h. Nos últimos 30 anos, somente dois furacões tiveram essa classificação. Por isso, ele foi chamado de extraordinário. É extraordinário mesmo pelos danos que ele causa (…) Os furacões são perturbações que se formam na África. A gente chama de tempestade tropical. Quando ela cruza o equador e começa a entrar no atlântico norte, em direção aos EUA e ao Caribe, lá encontra águas muito quentes. Para a formação do furacão, precisa ter águas acima de 27 ºC e com uma profundidade considerável. Essa região é um berço desses furacões. E como eles se propagam para o Oeste, eles acabam passando pela Flórida, que está nessa região onde o movimento de rotação da terra é bastante atuante e auxilia essa combinação de agua quente e tempestade tropical a formar essas tempestades, que evoluem para furacões”.
“A gente está na época dos furacões. Já existem tempestades tropicais no Atlântico que poderão se tornar furacões, mas ainda estão distantes. Nós estamos na temporada, então isso está em aberto. A previsão é feita depois que se forma o furacão. A transformação de tempestade tropical para furacão não tem assertividade muito grande. Mas depois que ele se torna furacão a trajetória dele é mais fácil prever”, detalhou. De acordo com o especialista, a tendência é de que a tempestade perca força à medida que adentra o continente, já que o furacão precisa de águas quente para ganhar força. De acordo com o Centro Nacional de Furações (NHC, na sigla em inglês), Segundo Ian mudará de rumo para o norte ainda nesta quinta-feira, 29, e emergirá no Oceano Atlântico.
A Baía de Tampa, atingida pelo furacão, não recebia um fenômeno da natureza desta magnitude há mais de 100 anos. A respeito desse ineditismo, o físico confirmou que existe uma certa influência do aquecimento global no endurecimento de eventos como esse: “Em 30 anos, esse seria o terceiro. Mas nós temos um aumento da frequência desses eventos extremos em função das mudanças climáticas globais. Nós temos o princípio de que o furacão precisa de água quente e com um aumento da temperatura você favorece esses eventos. Favorece um maior número de eventos extremos, como as tempestades tropicais. Se você aumenta a frequência de tempestades tropicais e aumenta a temperatura da água do mar, consequentemente você vai ter um maior número de furacões”.
Por isso, o especialista ressalta que a prevenção é o melhor jeito de evitar que esses fenômenos sejam ainda mais danosos: “Temos que aprender a conviver com eles. Essa é a adaptação às mudanças climáticas. Nós precisamos ter moradias mais seguras, não ocupação de áreas de risco, que é fundamental. A severidade do evento pode ser meteorológica, mas o resultado dela depende de quanto a população não está em zona de risco, da vulnerabilidade da população. Precisamos nos adaptar, principalmente tirando a população de áreas vulneráveis”.