Um mês após Liz Truss assumir como primeira-ministra do Reino Unido com um polêmico programa econômico ultraliberal, que previa o corte imediato de imposto, o ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, desistiu nesta segunda-feira, 3, da medida de reduzir os impostos dos mais ricos, 10 dias depois de anunciá-la. “Está claro que a abolição da taxa de imposto de 45% se tornou uma distração para nossa missão primordial de enfrentar os desafios de nosso país”, escreveu em sua conta no Twitter. “Como resultado, estou anunciando que não vamos prosseguir o fim da taxa”, acrescentou poucas horas antes de discursar no congresso anual do Partido Conservador em Birmingham, centro da Inglaterra. A medida consistia em abolir a faixa superior do imposto de renda, de 45%, e era parte de um pacote econômico mais amplo, que inclui suprimir o limite dos bônus dos executivos de bancos e a revisão dos aumentos previsto do imposto sobre as empresas e das contribuições para a Previdência Social.
Apesar dessa desistência, Truss e Kwarteng não descartaram cortar gastos públicos e os benefícios sociais, embora o Reino Unido enfrente uma grave crise de custo de vida, alimentada por uma inflação de 10% e que segue em alta. A ONG Oxfam elogiou que o governo “tenha compreendido que cortar os impostos dos mais ricos durante uma crise do custo de vida não é o caminho a seguir”. A diretora da organização, Katy Chakrabortty, pediu que os “ministros não tentem equilibrar as contas às custas daqueles que lutam para pagar as contas e alimentar suas famílias: serviços públicos, assistência social e ajuda são mais necessários do que nunca”. O plano econômico, financiado com um aumento da já grande dívida pública, desestabilizou os mercados nos últimos dias. A libra registrou a menor cotação da história e as taxas de juros da dívida pública do Reino Unido alcançaram o maior nível desde a crise de 2009, ameaçando a estabilidade financeira do país. O Banco da Inglaterra (BoE) teve que atuar de maneira urgente na semana passada para estabilizar a situação, que provocou advertências do Fundo Monetário Internacional (FMI) e das agências de classificação de risco.
No domingo, 2, Truss admitiu que cometeu um erro na forma de apresentar o polêmico pacote econômico, e disse que deveria ter preparado melhor o país antes de anunciar a decisão. “Eu mantenho o apoio ao pacote que anunciamos… mas eu reconheço que deveríamos ter preparado o terreno de melhor maneira, afirmou a primeira-ministra à BBC, enquanto o Partido Conservador celebra sua conferência anual em Birmingham. Ela atribuiu o fim do imposto de 45% exclusivamente a Kwarteng, o que provocou reações de surpresa. “Um dos defeitos de Boris Johnson era que às vezes podia ser muito leal”, tuitou a ex-ministra da Cultura Nadine Dorries, defensora ferrenha do ex-primeiro-ministro. Dorries acusou Truss de “jogar seu ministro das Finanças debaixo do ônibus no primeiro dia do congresso”. Não apenas a oposição, mas também a opinião pública e inclusive deputados conservadores – em particular os que apoiaram o derrotado Rishi Sunak na disputa com Truss pela liderança do partido – expressaram espanto com as propostas de reduzir impostos, formuladas pelo ministro da Finanças, Kwasi Kwarteng, ao apresentar o “mini-orçamento”. Após apenas três semanas em Downing Street, Liz Truss é impopular entre os britânicos: 51% deles consideram que deveria renunciar, de acordo com uma pesquisa do instituto YouGov. E ela está muito longe de conquistar a unanimidade dentro do Partido Conservador, onde sua política orçamentária provoca muitas críticas.
*Com informações da AFP