As manifestações no desencadeadas pela morte de uma jovem levada pela polícia da moral chegou em uma nova escalada. Estudantes iranianas confrontaram as autoridades do país e protestaram no pático do colégio, muitas delas sem o véu, que é obrigatório no país, e gritando palavras de ordem contra o governo. Em vídeos que circulam pelas redes sociais, é possível ver meninas jovens com a cabeça à mostra gritando “morte ao ditador”, em alusão ao guia supremo Ali Khamenei, na segunda-feira, 3, em uma escola de Karaj, ao oeste da capital Teerã. Outro grupo gritava “Mulher, vida, liberdade”, enquanto se manifestava na rua. “São cenas verdadeiramente extraordinárias. Se essas manifestações conseguirem algo, será graças a essas estudantes”, declarou Esfandyar Batmanghelidj, do portal de informação e análise Bourse&Bazaar.
Os protestos no Irã começaram no dia 16 de setembro, após a morte de Mahsa Amini, 22 anos. Ao menos 92 pessoas morreram desde 16 de setembro, segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega. Por sua vez, as autoridades iranianas informaram 60 mortos, incluindo 12 agentes de segurança. Essas são as manifestações mais importantes desde 2019, quando o Irã se posicionou contra o aumento do preço da gasolina. Até agora, mais de mil pessoas foram detidas e 620 já foram libertadas, segundo as autoridades. Desde o início do movimento de protesto, o governo iraniano intensificou a repressão prendendo os apoiadores das revoltas mais prominentes e impondo duras restrições ao acesso às redes sociais.
Mais uma cena impensável de se ver no Irã há apenas umas poucas semanas: uma mulher (sem a hijab sobre a cabeça) virando um quadro dos Aiatolás Khomeini e Khamenei, por trás podemos ler “Mulher, Vida, Liberdade”. A sociedade iraniana nunca esteve tão revoltada como agora. pic.twitter.com/RVcUoKyzL4
— Hoje no Mundo Militar (@hoje_no) October 5, 2022
Além da morte de Amini, outra vem chamando atenção e ganhando destaque. Segundo as informações que circulam nas redes sociais, a jovem Nika Shahkarami foi morta pelas forças de segurança durante as manifestações. A violenta repressão das manifestações no Irã gerou uma onda de condenação em todo o mundo e manifestações em apoio às mulheres iranianas em uma dezena de países. Algumas das principais atrizes francesas, incluindo Juliette Binoche e Isabelle Huppert. “Pela Liberdade”, disse Binoche enquanto cortava um enorme punhado de seu cabelo ruivo e o segurava para a câmera. Depois que Estados Unidos e Canadá anunciaram sanções, a União Europeia anunciou na terça-feira a intenção de impor “medidas restritivas” para protestar “pela forma em que as forças de segurança responderam às manifestações”. O ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, alertou a UE que pode esperar “ação recíproca”.
O Irã acusa as forças estrangeiras de atiçar os protestos. Em seus primeiros comentários públicos desde a morte de Mahsa Amini, o guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, acusou na segunda-feira os principais inimigos do Irã, Estados Unidos e Israel, de terem fomentado os incidentes. Nesta quarta-feira, o Irã convocou, pela segunda vez, o embaixador britânico Simon Shercliff para expressar seu protesto pela “interferência” do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido em assuntos internos do país, por suas críticas à forma em que as autoridades reagem aos protestos. O Irã acusou inimigos, incluindo os Estados Unidos, de orquestrar os atos, que marcam o maior desafio aos governantes clericais do país em anos, com manifestantes pedindo a queda da República Islâmica.
Uma cena inimaginável há poucas semanas: garotas em uma escola no Irã arrancando os seus hijabs e gritando: “morte aos ditadores, fim da ditadura”. O regime teocrático dos aiatolás reconhece essa ameaça e está atacando os protestos c/mão pesada. +130 mortos até agora. pic.twitter.com/OsmaTuHezU
— Hoje no Mundo Militar (@hoje_no) October 4, 2022
*Com informações da Reuters e AFP