Número de estrangeiros no país já ultrapassa 750 mil. Depois da brasileira, comunidade indiana foi a que mais cresceu em solo português no último ano. Pessoas caminham pela Praça do Comércio em Lisboa, Portugal, terça-feira, 12 de abril de 2022
AP Photo/Armando Franca
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF) divulgou esta semana os dados sobre imigração em 2022 no país e constata que o número de estrangeiros aumenta pelo sétimo ano consecutivo e já ultrapassa 750 mil. As comunidades que mais cresceram foram a brasileira e a indiana.
Os dados do SEF mostram que Portugal registrou, no final do ano passado, 757.252 estrangeiros com residência no país, 58.365 mais (8,3%) do que em 2021. Os brasileiros mantêm-se como a principal comunidade estrangeira residente, num total de 233.138 pessoas, 28.444 mais do que em 2021 (13%).
A paulista Bruna Niccolini se mudou para Portugal há seis meses e decidiu sair do Brasil pela segurança. “Eu já não aguentava mais viver trancada e queria ter uma vida mais livre, principalmente porque eu trabalhava no eixo Rio-São Paulo e não me sentia segura em momento algum”, conta.
“Chegando aqui eu aceitei um desafio de trabalho na área musical e percebi que tinha muito estrangeiro morando em Portugal. O festival que fizemos, 32% [do público] era estrangeiro que mora em Portugal, ingleses, russos, franceses, ucranianos. Eu imaginava encontrar muitos brasileiros aqui porque, infelizmente, o Brasil não é um lugar seguro”, relata a paulista.
“Me sinto em casa, apesar da maioria dos meus amigos serem portugueses e estrangeiros. Lisboa para mim é sinônimo de acolhimento, casa, família e amigos. Eu estou muito feliz de estar aqui”, diz Bruna.
Como no caso dela, a preocupação com a segurança é um dos principais fatores da crescente procura de brasileiros por Portugal. De acordo com a advogada brasileira Anna Luiza Pereira, especializada em imigração e que trocou o Rio de Janeiro por Portugal, há três anos, a busca por um país mais seguro se tornou um tema crucial no processo migratório. Ela compara com o período antes da pandemia e afirma que “nos últimos meses tem percebido um aumento ainda maior de brasileiros”.
“Atualmente, os estrangeiros representam em torno de 750 mil habitantes em Portugal e pelo sétimo ano consecutivo este número só aumenta”, confirma a advogada.
“Em relação aos brasileiros, esse percentual é ainda maior se a gente considerar que é a grande comunidade de estrangeiros em Portugal, cerca de 30% da população estrangeira hoje. E precisamos salientar que brasileiros com dupla nacionalidade, ou seja, luso-brasileiros, não estão nesta conta, o que significa que a comunidade brasileira é ainda maior.”
Segundo a advogada, o perfil de quem se muda para Portugal é muito variado.
“Em relação aos brasileiros, atualmente, podemos dizer que além das pessoas que vem recomeçar a vida aqui, existem famílias de classe social bem alta que começaram a procurar Portugal como um destino que oferece uma condição melhor do que o Brasil para de criar filhos, principalmente na questão segurança”, reafirma.
A paulista Bruna Niccolini (e) se mudou para Portugal há seis meses; a advogada Anna Luiza Pereira e a empresária carioca Roberta Bevilacqua, que também vivem em Lisboa, constatam o aumento de brasileiros no país europeu.
Arquivo Pessoal
Os brasileiros que moram em Portugal há mais tempo notam este aumento do número de estrangeiros no país, principalmente na capital. A empresária carioca Roberta Bevilacqua chegou em Lisboa em 2016 e compara o movimento de imigrantes desde que se mudou para o país.
“Naquele período, eu lembro de ter visto um grande movimento de brasileiros vindo para Portugal e todos com objetivo de empreender e comprar imóveis. Com a pandemia e fronteiras fechadas, muitos voltaram para o Brasil, mas logo depois da reabertura das fronteiras este processo de migração para Portugal continuou. Eu ainda hoje percebo um boom de imigração dos brasileiros com o mesmo tipo de objetivos de empreendedorismo e investir no mercado imobiliário, mas também vejo uma imigração da Europa por conta do trabalho remoto. No bairro onde eu moro em Lisboa, Campo de Ourique, tem muitos brasileiros e franceses. Eu ainda vejo mais brasileiros do que imigrantes europeus”, comenta.
Segundo Anna Luiza Pereira, os novos vistos para nômades digitais e a procura de trabalho estão entre os principais fatores para este contínuo aumento de estrangeiros no país. “Com a alteração da lei que entrou em vigor em novembro de 2022, todas aquelas pessoas que antes entravam em Portugal com visto de turista, mas com a intenção de permanecer no país, conseguir trabalho e entrar com um processo que chamamos de 'manifestação de interesse', hoje têm a oportunidade de já saírem dos países de origem com visto de uma forma legalizada. A procura por estes vistos tem crescido muito e o mesmo acontece para o visto de nômade digital”, explica.
“Antes, não havia um visto específico para esta categoria de profissionais e hoje já é possível, desde que cumpra alguns requisitos como, por exemplo, um valor mínimo de recebimento mensal em contrato de prestação de serviço remoto, fora do país. Ou seja, se você tem uma condição de contrato de trabalho por uma empresa não portuguesa e que não precisa do trabalho presencial, isso também fica facilitado, se conseguir comprovar uma renda mínima. Os jovens nômades têm sido atraídos por esta política de imigração em Portugal, ainda mais se consideramos que existem benefícios fiscais e tributários para quem vem morar aqui”, ressalta a advogada.
Aumento do custo de vida
A agente de viagens Daniella Chamette, há cinco anos morando em Portugal, acredita que o número crescente de estrangeiros é responsável pela subida do custo de vida no país. “Em cinco anos eu percebo que chegam cada vez mais estrangeiros, não só brasileiros, mas de todas as parte da Europa, Estados Unidos e os preços em geral subiram em tudo, seja arrendamento (aluguel), mercado, restaurantes e tudo o que tem a ver com o turismo. Eu viajo muito e percebo que os preços estão cada vez mais próximos de outros países da Europa e de outros lugares.”
O funcionário público luso-brasileiro Carlos Ribeiro concorda. Ele mora em Portugal desde 2004 e acredita que a chegada de tantos estrangeiros contribui para a queda da qualidade de vida dos cidadãos.
“Nas grandes cidades e nos grandes centros em Portugal, como Lisboa e Porto, o mercado imobiliário, hoteleiro e a restauração explodiram! Muitos estrangeiros de outras partes da Europa e dos Estados Unidos começaram a comprar imóveis aqui e isso aumentou muito o custo de vida. Por exemplo: um aluguel que era € 400 (cerca de R$ 2.200) , atualmente pelo mesmo apartamento paga-se € 1.000 (mais de R$ 5.500) e, mesmo assim, é muito difícil conseguir. Quase não há oferta para aluguel e os proprietários, muitas vezes, optam por aluguel de temporada pela quantidade enorme de turistas que o país tem recebido. O aumento no preço dos supermercados também se nota, principalmente nos grandes centros. Tudo isso dificulta a vida de quem já morava aqui, como eu”, desabafa.
Indianos cada vez mais presentes
Os indianos residentes em Portugal aumentaram 13% em 2022, passando de 30.251 para 34.232, e são agora a quarta comunidade mais numerosa no país. Os cidadãos britânicos ocupam a segunda posição na lista de estrangeiros, atrás do Brasil, e já são 36.639. Os nepaleses também estão entre as maiores comunidades estrangeiras em Portugal, com 23.441 cidadãos com residência legal no país, ocupando o lugar dos chineses, na décima posição.
Veja a lista das dez maiores comunidades estrangeiras em Portugal:
Brasil - 233.138
Reino Unido - 36.639
Cabo Verde - 35.744
Índia - 34.232
Itália - 33.707
Angola - 30.417
França - 27.614
Ucrânia - 26.898
Romênia - 23.967
Nepal - 23.441
Fonte: Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/01/19/numero-de-estrangeiros-continua-aumentando-em-portugal-e-brasileiros-lideram-a-lista.ghtml